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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

É fato: somos parte da República Unida da Soja


Brasil, Argentina e Paraguai: 130 milhões de tonelada
Um estudo divulgado pela ONG Repórter Brasil em parceria com a Base Investigaciones Sociales confirma: a República Unida da Soja está consolidada. “Os impactos socioambientais da soja no Paraguai – 2010” é um daqueles materiais para serem guardados com carinho.
Este ano, Brasil, Argentina e Paraguai devem colher, juntos, 130 milhões de toneladas de soja, pouco mais da metade do total mundial. Como lembra a Repórter Brasil, há algumas explicações para a rápida expansão experimentada nestes lugares: clima, desenvolvimento de variedades locais e presença de cultura agropecuária.
Há um fator, no entanto, que está acima, bem acima dos demais. E aqui não é o estudo que diz, mas me permito a liberdade de dizer. As grandes empresas de biotecnologia, em um rasgo de sinceridade de um de seus altos executivos, confessaram a real intenção que têm para a região formada por Argentina, Paraguai, Brasil e Bolívia: um cinturão apelidado carinhosamente de República Unida da Soja.
É sempre bom relembrar como a soja transgênica entrou nestes locais. Depois de conseguir ingresso na Argentina, as empresas conseguiram, por meio de promessas a produtores, inserir as sementes geneticamente modificadas no Brasil – veja bem, foram contrabandeadas.
O governo Lula, ao constatar a situação, em vez de dar um basta por ali resolveu editar Medida Provisória para assegurar a acolhida da soja transgênica, num episódio que por pouco não antecipou em muito a saída de Marina Silva do Ministério do Meio Ambiente. Depois disso, as sementes foram viajando ao Paraguai, país no qual, obviamente, contou com todas as benesses. E eis que se formou nossa republiqueta sojicultora. Segundo dados de 2006 do IBGE, naquele momento a soja transgênica já respondia por 46% da produção nacional do grão – não por coincidência, o Brasil é atualmente o maior consumidor de agrotóxicos do mundo.
Há algumas perguntas, mas as respostas ficam para outro dia. Quanto a produção de soja, aliada à cana-de-açúcar do etanol, prejudica a produção de alimentos? Quanto aumenta a concentração de terras? Quanto diminui em termos de soberania alimentar da região? Há uma série de variáveis que ora, por falta de tempo, ficam pra depois.

No Paraguai
Ainda no Paraguai, a oposição arrumou uma nova desculpa para derrubar Fernando Lugo. Agora, dizem que o presidente, atualmente em tratamento por um câncer linfático, não tem condições de seguir. Antes, o argumento era de que o governo tinha desempenho fraco. É interessante levar em conta a relação histórica entre os produtores rurais, principalmente os brasileiros, e a oposição paraguaia – que foi situação durante quase um século inteiro.

Mimo a Colômbia

Os Estados Unidos liberaram a última parcela anual do Plano Colômbia. O Departamento de Estado de Hillary Clinton achou que o país sul-americano cumpriu direitinho as recomendações e avançou na política de direitos humanos. Agora, o governo de Manuel Santos terá direito a mais US$ 30 milhões. O México, que seguiu a mesma receita proposta pelos Estados Unidos nas últimas N décadas, estuda agora assinar seu próprio Plano Colômbia em meio a uma enorme onda de violência. Que beleza: país soberano é outra coisa.

Marina soltinha
Lamentável a afirmação de Marina Silva sobre o Irã. Não se sabe se terá se sentido impulsionada por Carlos Nascimento, que havia chamado o MST de tudo quanto é nome, mas o fato é que se soltou na bancada do Jornal do SBT. Insultou parte de seu próprio passado ao afirmar que o Irã quer produzir a bomba atômica. Como, na visão da candidata, o país asiático não tem democracia, ela não se relacionaria com Mahmoud Ahmadinejad. Com quais outros teria de cortar os laços? Guantánamo é motivo suficiente neste caso?

João Peres é jornalista e colunista do NR

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