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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

sexta-feira, 11 de março de 2011

O crack na porta de casa

Era sábado de carnaval. Esperava alguns amigos para uma visita na minha casa, na Lapa de Baixo, zona oeste de São Paulo.

O bairro, cenário de Malagueta, Perus e Bacanaço do escritor João Antônio continua com jeitão de subúrbio mesmo depois de tantas transformações.

A gente percebe que o bairro muda ao longo da vida, principalmente quem acompanha seu dia a dia durante décadas. E ali já vi de tudo um pouco. A novidade foi encontrar com a drogra da vez, o crack, na porta da minha casa.

Um jovem, cara de garoto, talvez tenha seus 16 anos e um homem mais velho, aparentando seus quarenta e poucos fumavam a pedra. Não era cola como supôs a amiga que estacionava o carro, afinal, estava lá o cachimbo que tem destruído a vida de muita gente.

Será que vocês podem fumar em outro lugar?, pedi aos dois que nada disseram. Estavam noiados, principalmente o mais velho. Sem reação buscaram a mesma calçada alguns metros adiante.

Recebi os amigos, a maioria jornalistas como eu, um tanto acostumados em reportar as precárias condições de vida no país. Ao voltar, olhei pela janela, curioso, e os dois já estavam largados no chão, moles, numa cena lamentável que imaginei se repetir em vários cenários diferentes do país.

O crack é feito de cocaína da pior qualidade e seu uso está disseminado por todas as regiões do Brasil, segundo levantamento da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), do ano passado.

O estudo realizado pela entidade em 3.950 cidades brasileiras, apontava que 98% delas (3.871) teve registrada a presença da droga - “O problema alcançou uma dimensão nacional. Não está mais nas grandes cidades, mas nas áreas rurais”, disse Paulo Ziulkoski, presidente da CNM.

Algumas informações:
1 - Em fevereiro último a presidenta Dilma - que ainda no início de sua campanha eleitoral afirmou que uma das prioridades de seu governo seria conter o avanço do crack - prometeu uma “luta sem quartel” para combater a droga ao lançar 49 Centros Regionais de Referência em Crack e Outras Drogas em universidades federais. A ver os resultados daqui em diante.

2 - Segundo a Agência Brasil noticiou recentemente o país está desenvolvendo o maior estudo sobre consumo de crack do mundo. De acordo com a secretária Nacional de Políticas sobre Drogas, Paulina Duarte, o objetivo é ter dados estatísticos reais do consumo de crack no país, das grandes cidades à zona rural. A pesquisa está sendo feita pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em parceria com a universidade americana de Princeton e os primeiros resultados serão divulgados em abril.

3 - A mesma pesquisa da CNM, citada acima, estima que nos próximos seis anos, 300 mil pessoas devem morrer no País por conta do uso da droga.

4- Numa matéria do Estadão, de 14 de dezembro de 2010, uma análise de Ana Raquel Santiago de Lima, psiquiatra especialista em saúde mental, ela argumentava que “o crack é hoje a droga disponível para atender a uma sociedade imediatista, sem valores, que tem pressa e quer uma substância que vá direto ao ponto”. Acrescento: é barata e atinge as camadas mais baixas da população além de seu alto poder de viciar.

5 - A revista Fórum de fevereiro traz em sua capa o tema Crack. Vale dar uma espiada nas matérias que estão com boas informações, entre elas, que o número de dependentes pode chegar a 1,2 milhão. E a revista Retrato do Brasil tem uma reportagem de Tomás Chiaverini sobre o trabalho dos Redutores de Danos na Cracolândia de São Paulo.

Thiago Domenici, jornalista

Um comentário:

Unknown disse...

boa consideração, cara. a propósito, interessante a ação do ministério no comentário abaixo. mostra que estão monitorando o tema na web. esperemos que seja de fato uma prioridade do governo com ações nas ruas também. abração.

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