Ao trocar produto tosco por outro, uma cama quebrada por uma panela elétrica, observo um casal conversar com o vendedor sobre a “cozinha vitória, com balcão” que desejam comprar em várias vezes no crediário. “Qual o brinde?”, pergunta a esposa. “Um relógio masculino ou um celular”, diz o vendedor. A mulher indigna-se “Ah, não, quero um secador de cabelos, cozinha é um negócio feminino e vocês vêm com relógio masculino. Chama a gerente, por favor?”. O vendedor se assusta com tamanha brabeza. “Mas senhora é o brinde de toda a rede de lojas”. Sem conversa. “Olha, já tenho celular e meu marido também. Ele não precisa de relógio masculino, né, amor?” “É, não preciso”, diz o marido constrangido e sem relógio no pulso. “Então quero um secador de cabelo. Chama a gerente, ela vai entender, é mulher, não é?”.
A gerente chega. “Não vai dar, o preço é muito diferente”, diz estressada. O marido soluciona: “Amor, pega o celular e a gente vende pra comprar o secador.” A mulher concorda com ar de “nossa, que boa ideia meu marido teve”; o vendedor ri e fecha o pedido, a gerente sai fora com um pepino a menos e eu fico lá, sentando no sofá verde musgo que serve de mostruário esperando minha panela elétrica mais uma hora num puta sabadão de sol. (Thiago Domenici)
taí. é essa a percepção das coisas sobre a qual poderíamos falar.
ResponderExcluiré ela que não se encontra nos meios. o texto local, próximo, a respeito do que vemos - e as vezes nem enxergamos. do mínima, do micro.
é o sofá verde musco do mostruário misturado com o sol do lado de fora. e ainda por cima no sábado. há algo que se diga mais frustrante?
Diogueiras; frustra, tanto que pra amenizar é bom escrever sobre, pelo menos se compartilha com os demais a bagaçeira cotidiana, não é? valeu pela visita. Tô esperando você aqui. Abrax.
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