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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quinta-feira, 26 de janeiro de 2006

Começa o Fórum Social Mundial

Comeca o Fórum Social Mundial
por Elaine Tavares - desde caracas
Pelas ruas da grande Caracas um grito se faz alto e forte. Vozes com todosos sotaques anunciam ao mundo um fato que, naquele momento, pareceinexorável: "alerta, alerta, alerta que caminha, a espada de Bolívar pelaAmérica Latina". E tudo isso entre risos de pura alegria de todos os queparticipam da Marcha contra a Guerra e o Imperialismo, que abre asatividades do Fórum Social Mundial.Um arrepio de pura emocao percorre o corpo quando um grande grupo decolombianos, que arrasta dezenas de pessoas com sua música empolgante, cantao desejo que pulsa no coracao de cada um : "Y si, y si, y si me dá la gana,de ser una potencia latinoamerica. Y el pueblo está en las calles, gritandolibertad".E assim caminham as gentes pela imensa Avenida de los Próceres numa espéciede ensaio para a grande festa que virá quando chegue o socialismo em toda aAmérica baixa. Pequenas mulheres peruanas com seus chapéus negros e roupascoloridas, mexicanos e seus chapeloes, povos autóctones de todas as etnias,europeus, palestinos, judeus, monges indianos, estadunidenses emocionados,bandeiras de todas as cores que tremulam ou se enrolam em corpospatrióticos. Afirmacao de identidade, mas ao mesmo tempo vontade departilhar e construir a grande pátria sonhada por Bolívar.A caminhada do Fórum é sempre isso. Um espaco de comunhao, de desejos deliberdade, de solidariedade concreta. Os grupos circulam e trocam abracos,beijos, enderecos. Gente que nunca se viu mas que já se ama, porque se vêirmanada na mesma vontade de construir um tempo de claridao. E, nessesencontros fortuitos no meio da marcha, surgem as perguntas de toda ordemsobre o governo de cada país, sobre como está a questao da terra, ossindicatos. Há uma inesgotável sede de dividir informacoes e impressoes.Uma nota a parte sao os integrantes das missoes de trabalho na Venezuela.Gente simples que está descobrindo agora o valor de participar, de propor,de decidir. Gente dos bairros pobres que nunca haviam tido a oportunidade dese fazer sujeitos, agora ali estao, protagonistas de uma história que apenascomeca. Sao abracados, acarinhados, saudados e sentem-se na responsabilidadede contar a cada um sobre o quanto tiveram suas vidas modificadas pelarevolucao bolivariana. Querem que os estrangeiros levem a melhor visao dopaís. Sao quentes, amorosos, sorridentes. "Para todo, Chávez", dizem. E naoquerem dar um passo atrás. "A revolucao bolivariana avanca". Pelas calcadase nas sacadas dos predios as pessoas acenam. Todos querem participar dealguma forma.É certo que esse momento quase mágico da marcha nao diz tudo o que é aVenezuela. Um caldeirao fervente no qual a luta de classes é tao intensa econcreta que quase se pode tocar. Assim como a gente pobre dos bairros deperiferia arrancam seu coracao por Chavez, os morados dos bairros de classemédia e alta o querem bem longe do país. Dois dias antes do início do Fórumrealizaram uma grande marcha pedindo eleicoes limpas, como se nunca tivessemsido limpas as eleicoes na Venezuela. Ongs estadunidenses e europeiasfinanciam a oposicao que vai tentando minar o governo de Chávez com adesconfianca e a corrupcao. É, enfim, uma batalha de titas.A pobreza é grande no país, a economia informal parece ser a que maisviceja. Mas, entre as gentes também cresce a esperanca de que até 2012 tudoesteja mudado. "Foram muitos anos de destruicao antes de Chávez. As coisasnao mudam assim, há que dar tempo. Nós temos uma missao contra a miseria evamos chegar lá. Como estávamos antes de Chávez, nunca mais vamos ficar". Eassim é.O Forum continua até o dia 29, com palestras, encontros, debates e muitavisita aos bairros e projetos bolivarianos. Há ainda um mundo paradesvendar. Complexo, difícil, tensionado pela luta de classes e cheio decontradicoes. Tudo isso vamos estar desvelando, através de nossasobservacoes. O Observatorio Latino-Americano (OLA) ainda apresenta nestaquinta feira uma mesa de discussao sobre o governo brasileiro que devejuntar muita gente disposta a saber sobre o que, de fato, está acontecendono Brasil.
Elaine Tavares é jornalista

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