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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quinta-feira, 28 de maio de 2009

PDF do livro sobre Direitos Humanos e notícias do dia

O livro Brasil Direitos Humanos do qual participei já pode ser baixado na internet no site da Secretaria Especial dos Direitos Humanos. No dia 04 terá o lançamento em São Paulo, na Pinacoteca, na Luz, às 18h 30. Aqui o link para quem quiser baixar.

Publicadas ontem e hoje na Rede Brasil Atual:

Magistrada defende judiciário transparente


Deputado protocola projeto de terceiro mandato

Ferréz lança o documentário Literatura e Resistência

R$ 880 milhões para ações emergenciais no Norde e Nordeste

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Livro Direitos Humanos, foto do Centrão e notícias de hoje

Na imagem, proximidades da Rua São Bento, Centro de São Paulo, da janela do quilão do dia-a-dia.

Amanhã (26) ocorre em Brasília o lançamento do livro que ajudei a construir como Secretário de Redação e repórter: Brasil Direitos Humanos. 2008: a realidade do país aos 60 anos da Declaração Universal. Artigos / Entrevistas / Reportagens. Além de Brasília, está programado lançamento no Rio de Janeiro, dia 28 e São Paulo, dia 4. Mais informações no site da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República.

Notícias publicadas hoje na Rede Brasil Atual:

Polícia Federal fecha suposta delegacia de Direitos Humanos

Fusão de Sadia e Perdigão ainda será avaliada pelo Cade

Reitoria da Usp é ocupada por manifestantes

sábado, 23 de maio de 2009

Trabalhar em propaganda, como é?

Só pra não passar batido.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

No ar! Rede Brasil Atual

Meus caros, está no ar o site Rede Brasil Atual, no qual estou atuando há alguns dias.
O endereço é www.redebrasilatual.com.br
Diariamente estarei publicando notícias.
Na Revista do Brasil continuarei a fazer minhas reportagens.
Aos que me acompanham e gostam do meu trabalho deixo o recado.
É o nascimento de mais uma fonte de informação.

Aqui listo os links de algumas coisas que já produzi:

Reportagem:

Professores à deriva

Notícias (hard news)

Torturador do Dops não é mais nome de rua em São Carlos

"Não tenho rabo preso com ninguém", diz o peemedebista Jackson Barreto

Mutirão de defensores públicos atende 3000 na Sé

O mundo tem cada vez mais favelas


Após mudança de critérios, acidentes de trabalho aumentam em até 134%

Civis e militares já podem doar documentos do período militar

Lei Rouanet entra em cena com nova roupagem em 2009


segunda-feira, 18 de maio de 2009

O lado homofóbico da Rússia


Enquanto o Brasil tenta se tornar pioneiro na consolidação dos direitos de Lésbicas, Gays, Travestis e Transexuais (LGBT) com o recente lançamento do Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos LGBT, pela Secretaria dos Direitos Humanos (SEDH), a Rússia e sua polícia proibiram uma passeata gay em Moscou, no último sábado (16), após o final do festival de música Eurovision Song Contest.
Segundo informações da BBC, ativistas foram presos, entre eles, o britânico Peter Tatchell que gritou ao ser preso "Isso mostra que as pessoas russas não são livres!". Mais cedo, a mesma polícia permitiu a passagem de uma manifestação contrária, liderada por grupos religiosos e nacionalistas.
Aos que acham que o Brasil está engatinhando no processo de consolidação dos Direitos LGBT vale destacar que aqui aconteceu a I Conferência Nacional GLBT, realizada em Brasília, em 2008, “Direitos Humanos e políticas públicas: o caminho para garantir a cidadania de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais”, convocada por decreto presidencial, fato inédito no mundo. Também é do Brasil a maior parada do movimento desde 2004. Em 2008, foram 3,4 milhões de pessoas às ruas de São Paulo se manifestar na tradiconal e popular "Parada Gay". Enquanto isso, na Rússia, os homossexuais sofrem ataques constantes e ainda há o risco de ser demitido do emprego e desprezado por suas famílias. Ainda segundo a BBC, o prefeito de Moscou, Yuri Luzkhov, descreveu passeatas gays como coisas "satânicas". Grupos de ativistas contra os direitos gays haviam ameaçado tomar as rédeas, caso a polícia não conseguisse interromper a marcha deste sábado. Um absurdo! Uma afronta a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Vale lembrar que na próxima edição da Revista do Brasil terá uma matéria sobre o tema LGBT, inclusive destacando os pontos falhos no Brasil, como a ainda vigente lei Militar que dá cadeia (seis meses a um ano) para atos de "pederastia" e a briga no Congresso para a criminalização da Homofobia, que, por falha histórica, foi esquecida da constituição de 1988.

Gastronomia no Brasil e no Mundo


O livro de Dolores Freixa e Guta Chaves "Gastronomia no Brasil e no Mundo" é daqueles trabalhos que dão imenso prazer. Primeiro pelo tema que nunca dominei na prática. Aliás, continuo a não dominar. Mas ajudar na edição e leitura atenta desse livro foi muito bacana. Um dos meus primeiros trabalhos nessa área de edição de livros. Agradeço imensamente a Lilian do Amaral Vieira, minha querida amiga e parceira, que fez a edição de conteúdo.
O livro é fruto de muita pesquisa e escrito com linguagem fácil para os aprendizes de gastronomia e interessados em geral; um compêndio histórico que conta a evolução do alimento e da alimentação e sua relação com os avanços do homem e seu processo de civilização. Nesse link é possível ler quase o livro todo online ou obter mais detalhes. A editora é a Senac. Está a venda nas livrarias.

sábado, 16 de maio de 2009

Conteúdo aberto

Aviso aos navegantes: o site da Revista do Brasil está com todo o seu conteúdo aberto aos internautas www.revistadobrasil.net e daqui uns dias o novo portal irá pro ar, no qual estarei atuando ativamente.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Vidas no lixo

Segundo a sinopse do excelente site Porta Curtas que todos que gostam de cinema deveriam conhecer: "O filme mostra crianças e adolescentes que vivem do lixo. Enquanto reviram sacos de lixo pelas ruas e recolhem materiais úteis para vender a empresas de reciclagem, crianças - que se alimentam deste mesmo lixo - falam sobre suas vidas, suas famílias, seus sonhos e desejos de estudar, mas logo sua avassaladora realidade se impõe com a gravidez inesperada de uma menina de 14 anos."


segunda-feira, 11 de maio de 2009

A Economia Venezuelana frente à Crise Mundial

A pedido do meu amigo Izaías Almada, publico o bom artigo do economista Luciano Wexel Severo. Boa leitura. Thiago Domenici

A Economia Venezuelana frente à Crise Mundial

A maioria das análises sobre a situação atual da economia venezuelana se sustenta essencialmente em três idéias: 1) que o governo Chávez recebeu uma chuva de dólares durante os últimos anos, como resultado dos elevados preços internacionais do petróleo, 2) que o governo Chávez não soube investir esses volumosos recursos no estímulo da diversificação produtiva, aplicando uma política econômica desastrosa e assistencialista, através das Missões Sociais e 3) que agora, com o barril de petróleo tipo Brent custando cerca de 50 dólares, a Venezuela e a sua estatal petroleira (PDVSA) estão “quebradas”. Trataremos de demonstrar neste artigo que essas três afirmações são bastante imprecisas.

Vale dizer que entre 1999 e 2008 a economia venezuelana viveu cinco etapas diferentes e claramente definidas: 1) A posse, em fevereiro de 1999, frente a um cenário econômico, político e institucional adverso (o país amargava a herança dos períodos de desinvestimento e desindustrialização dos anos oitenta e noventa, e o preço do barril de petróleo estava no seu nível mais baixo desde 1973); 2) A adoção de medidas intervencionistas e políticas mais desenvolvimentistas, a partir do segundo semestre de 1999; 3) O golpe de Estado e a “sabotagem econômica”, aplicados pela oposição, entre o quarto trimestre de 2001 e o terceiro de 2003, como reação ao aumento da intervenção estatal na economia; 4) A reativação econômica a partir do quarto trimestre de 2003, desde um patamar bastante superior em relação à situação anterior: o Estado passou a interferir de forma mais decisiva nas questões econômicas (especialmente na PDVSA); 5) A política de “semear o petróleo” e o avanço rumo ao “socialismo bolivariano”, o esforço pela diversificação produtiva, por um novo processo de industrialização, pelo pagamento da elevada dívida social acumulada durante décadas e a expansão do poder estatal e popular sobre os setores estratégicos da economia (Severo, 2009, p.4).

Um estudo desenvolvido pelo então denominado Ministério de Finanças (Venezuela, 2004, p.5) demonstra que o valor em dólares per capita recebido pelo atual governo através das exportações petroleiras foi, pelo menos até a metade de 2005, inferior ao recebido durante as cinco administrações anteriores: 26% do valor recebido pelo primeiro governo de Andrés Pérez (1974-79); 35% do recebido por Herrera Campins (1979-84); 56% do recebido por Lusinchi (1984-89); 49% do recebido pelo segundo mandato de Pérez (1989-93); e 85% do recebido pelo segundo mandato de Caldera (1994-98). É necessário tomar em conta dois fatores: 1) que os preços de comparação devem ser expressados em valores constantes, não constantes e 2) que a população da Venezuela mais que dobrou entre os anos 1973 e 2005. Por isso se conclui que até 2005 o governo Chávez não contou com uma “chuva” de petrodólares, muito pelo contrário. Apesar disso, o gasto social aumentou de 8,2% do PIB em 1998 para 13,6% do PIB em 2006. Tomando em conta as contribuições realizadas pela PDVSA, os gastos sociais alcançaram 20,9% do PIB e em termos per capita aumentaram quatro vezes em relação a 1998 (Weisbrot & Sandoval, 2008, p.14).

A efervescência da economia da Venezuela tem sido resultado direto, mas não exclusivo, da expansão dos preços do petróleo até alcançar 135,2 dólares por barril tipo Brent em julho de 2008 (em dezembro os preços tinham desmoronado para 43,4 dólares; atualmente já estão na casa dos 56 dólares). O petróleo é e continuará sendo por muito tempo o suporte da economia venezuelana. Entretanto, há duas novidades: 1) em 2003, o Estado venezuelano recuperou o controle sobre a indústria petroleira, reduzindo a drenagem de recursos para o exterior e também a concentração interna da renda; e 2) desde então, o país está depositando parcelas crescentes dos recursos petroleiros nos setores produtivos, na estruturação e fortalecimento do mercado interno, em um processo de industrialização soberana (com capitais majoritariamente venezuelanos, aquisição de tecnologia, capacitação de mão de obra local e crescente incorporação de valor agregado nacional). Por esse motivo, é equivocada a idéia de que na Venezuela se adota uma economia artificial e miseravelmente assistencialista.

Os principais mecanismos utilizados pelo governo venezuelano para estimular o crescimento econômico e a diversificação produtiva foram, entre outros: 1) o resgate da PDVSA para o controle estatal, já que desde sua criação em 1976 a empresa funcionou como um estado dentro do Estado. Esta primeira ação possibilitou em grande medida a aplicação das demais; 2) o controle de câmbio, de capitais e de preços, que têm sido eficientes para frear a deterioração da moeda nacional e as fugas de capital, seja através da especulação internacional com o bolívar, de remessas de lucros ao exterior ou de importações supérfluas; 3) a nacionalização via pagamento de indenizações de empresas estratégicas dos setores de comunicações, eletricidade, alimentação e construção, além de instituições financeiras; e 4) a reforma da Lei do Banco Central da Venezuela, que estabeleceu um teto anual para as reservas internacionais; os valores que superem o teto determinado devem ser transferidos para o Fundo de Desenvolvimento Nacional –FONDEN, cujo objetivo é financiar setores como indústrias pesadas, indústrias de transformação, agricultura, petroquímica, gás, infra-estrutura, transportes e habitação, entre outros. Desde sua criação, em 2005, foram repassados somente pela PDVSA ao FONDEN cerca de 21,8 bilhões de dólares (Chávez, 2009, p.23).

A Venezuela não somente desenhou e pôs em prática iniciativas para “semear o petróleo” como inclusive tornou-se um dos países do mundo que mais investe atualmente: a participação da Formação Bruta de Capital Fixo (FBKF) no PIB chega perto dos 30%; segundo a CEPAL, a média latino-americana é de 20%. Há diversas obras de grande porte em plena execução neste momento: novas refinarias de petróleo, fábricas de cimento, de laminação de alumínio, de papel e celulose, siderúrgicas para a produção de aços navais, especiais e inoxidável, fábricas de tubos petroleiros, de trilhos e vagões, de concentração de mineral de ferro, produtos linha branca, carros e tratores, processadoras de leite, serrarias de madeira, planos agrícolas, assim como mega-projetos de infra-estrutura: portos, aeroportos, pontes, linhas de metrô, ferrovias, estradas, termoelétricas, hidrelétricas, gasodutos, redes de fibra óptica (para telefonia e Internet), redes de distribuição de água, entre outros. Essas iniciativas estão distribuídas geograficamente por todos os estados, com o objetivo de desconcentrar a população que vive essencialmente no litoral caribenho e de ocupar o território nacional. As empresas criadas serão financiadas tanto por capitais públicos quanto privados, tanto de venezuelanos quanto de estrangeiros (especialmente de China, Índia, Rússia, Bielorússia, Irã, Cuba e Brasil, mas também Estados Unidos e Japão, entre outros). Na maioria dessas iniciativas, o Estado conservará pelo menos 51% da participação acionária. Apesar da queda do preço do petróleo, o governo tem reafirmado seu compromisso pela continuidade de algumas dessas obras, assim como pela manutenção dos programas sociais, do baixo índice desemprego (cerca de 7,3%, em março) e do rendimento salarial dos trabalhadores. Veremos, a seguir, como isso seria possível.

Alguns “analistas” liberais, ostentando uma suposta preocupação com o desempenho fiscal, sustentaram nos últimos anos que o aumento do gasto público na Venezuela apresenta uma tendência “insustentável”. Na realidade, os dados demonstram o contrário. Enquanto o gasto público passou de 21,4% do PIB em 1998 para 30,0% em 2006, o aumento das receitas do Estado foi ainda maior: de 17,4% para 30,0% do PIB. Quer dizer, apesar da ocorrência de déficits fiscais, as receitas aumentaram a um ritmo maior do que as despesas; o que garante a sustentabilidade fiscal. Para alcançar esses resultados, foi decisiva a aplicação da Lei de Hidrocarbonetos (que aumentou a arrecadação estatal sobre as petroleiras estrangeiras) e tem sido importante o papel do Serviço Nacional Integrado de Administração Aduaneira e Tributária –SENIAT. Além disso, os Orçamentos Anuais foram calculados utilizando como base um preço do petróleo muito inferior ao preço real. Por exemplo, em 2005 foi usado o preço de 23 dólares por barril, quando custava 41 dólares; em 2007, foi utilizada a base de 29 dólares, quando o preço real era de 65 dólares. Em 2008, apesar dos elevados preços, se estimou em 35 dólares. Em 2009, se utilizou como base 60 dólares e depois, frente à crise, foi reconsiderado para 40 dólares. Desta forma se acumularam elevadas receitas extraordinárias, que foram usadas para alimentar as reservas internacionais e conseqüentemente o FONDEN.

Por isso, as bases utilizadas para profetizar a “quebra da PDVSA” e a “falência da economia venezuelana” soam exageradamente simplórias. Essas análises partem de duas observações verdadeiras, mas culminam em duas conclusões equivocadas: é certo que 1) a Venezuela depende da exportação do petróleo, responsável por mais de 90% das vendas totais ao exterior e que 2) os preços internacionais do petróleo caíram de quase 140 para menos de 40 dólares em cinco meses. Entretanto, tais constatações não têm relação com as conclusões: 1) que a Venezuela desperdiçou novamente, assim como havia feito durante os anos setenta, a chance de diversificar a sua economia e de romper com a excessiva dependência do petróleo e 2) que não haverá dólares suficientes para manter os compromissos assumidos com as Missões Sociais, a única medida do governo “populista”.

Para fundamental tomar em conta que o país obteve elevados superávits comerciais com o mundo entre 2004 e 2008: totalizaram mais de 155 bilhões de dólares. Por sua vez, o saldo positivo em conta corrente também acumulou mais de 100 bilhões de dólares nos últimos três anos. Se durante a “sabotagem petroleira” de 2002-2003, as reservas internacionais caíram até chegar perto dos 13 bilhões de dólares, atualmente superam os 80 bilhões (incluem as reservas oficiais do BCV –30 bilhões, recursos do FONDEN, da PDVSA, da Tesouraria Nacional e do Fundo Conjunto China-Venezuela).

Nos últimos anos, a Venezuela construiu um “colchão” de recursos e adotou medidas para proteger a economia da especulação financeira internacional, como o controle de câmbio e de capitais. Essas medidas serão muito importantes para enfrentar a atual conjuntura internacional. A orientação atual do governo é fazer frente à crise através do aumento dos gastos, dos investimentos e do endividamento público. Isso é possível porque as dívidas públicas externa e interna foram bastante reduzidas como porcentagem do PIB desde 1998, quando representaram 25,5% e 5%, respectivamente. Em 2003, no epicentro da crise política e econômica promovida pela oposição, alcançaram níveis estratosféricos: 29,7% e 17,9% do PIB, respectivamente. Em 2007, já se via a redução de ambas: a externa (de cerca de 52,9 bilhões de dólares, segundo a CEPAL) representou 12,0% e a interna 7,3% do PIB. Em 2008, a dívida pública total representou 14,3% do PIB, bastante inferior aos níveis de 1989 (83,6%), 1995 (69,2%), 1999 (29,5%) e 2003 (47,6%). O nível atual é o mais baixo dos últimos trinta anos e um dos menores da região (Severo, 2009, p.28).

Entre o quarto trimestre de 2003 e o quarto de 2008, o PIB cresceu 94,7%: a economia da Venezuela acumulou 21 trimestres de permanentes elevações, a uma taxa média de 13,5% (Weisbrot, 2009, p.6). Desde 2004, o PIB não petroleiro cresceu a taxas significativamente maiores que o PIB petroleiro. Também foi expressiva a aceleração do PIB manufatureiro entre 2004 e 2008, verificada especialmente no aumento do consumo de eletricidade, nas vendas de veículos, cimento, produtos longos para a construção civil, ferro, aço e alumínio, entre outros. Dentro da indústria manufatureira, as áreas da atividade econômica que mais cresceram foram: elaboração de alimentos, bebidas e tabaco, couro e calçado, edição e impressão, minerais não metálicos, pneumáticos e produtos plásticos, fabricação de veículos automotores, e fabricação de máquinas e equipamentos. Esses resultados devem melhorar ainda mais quando se façam sentir plenamente os impactos de importantes medidas governamentais dirigidas ao estímulo das empresas privadas nacionais. Segundo Weisbrot (2009, p.9), “apesar da expansão do setor público durante os anos de Chávez, o setor privado cresceu mais rapidamente”. O atual nível dos preços do petróleo tem gerado uma redução no ritmo de crescimento da economia de aproximadamente 8% anuais para cerca de 4% –recentemente a CEPAL previu alta de 1% do PIB venezuelano em 2009, ainda acima da média regional (-0,3%). Segundo Weisbrot & Sandoval (2008, p.4), “a um preço inferior aos 45 dólares por barril para o petróleo venezuelano [atualmente está cotado um pouco acima desse valor], o país começaria a registrar resultados deficitários em sua conta corrente. Entretanto, dado que a Venezuela tem aproximadamente 82 bilhões de dólares em reservas, poderia financiar um modesto déficit em conta corrente por algum tempo –por exemplo, mesmo que o preço do petróleo se mantivesse nos baixos níveis atuais durante os próximos dois anos”. Ambos autores interpretam que a maioria dos prognósticos negativos sobre a economia da Venezuela se sustentam em argumentos bastante frágeis.

No caso da PDVSA, muitos “analistas” desconhecem ou se esqueceram que em 2007 a empresa terminou o ano como a estatal petroleira mais sólida da América Latina. Naquele momento contava com 107 bilhões de ativos totais e um patrimônio consolidado mundial de 53,8 bilhões, que garantiam uma relação dívida/ativos de 14,96% e uma relação dívida/patrimônio de 29,72%. Até setembro passado (antes da crise), os indicadores financeiros da empresa haviam melhorado: os ativos totais aumentaram em 32,7%, o patrimônio consolidado mundial cresceu 29,9% e a dívida caiu -7,4%. Com isso, a relação dívida/ativos diminuiu para 10,45% e a relação dívida/patrimônio, para 20,36% (PDVSA, 2008, p.13). Ainda não foram divulgados os dados referentes ao quarto trimestre de 2008, que devem indicar uma piora com relação à situação anterior, mas não a “falência” da empresa. É importante desmistificar a idéia difundida pelos grandes meios de comunicação –estreitamente relacionados com as transnacionais petroleiras, com os bancos privados e com a meritocracia corrupta que dirigiu a PDVSA até 2003– de que o governo Chávez debilitou a empresa. Muito pelo contrário, além da PDVSA ter sido colocada a serviço dos interesses da Venezuela e dos venezuelanos, foi robustecida a partir de então. As atuais negociações de dívidas com fornecedores nacionais e estrangeiros, tão insistentemente divulgadas nos últimas semanas, não refletem nem a “falência” nem uma grande debilidade da estatal, mas sim a utilização da crise como uma oportunidade para fazer o que todas as empresas do mundo estão tentando fazer: renegociar suas dívidas.

Além de esforçar-se para depositar os recursos do petróleo na diversificação produtiva, o governo venezuelano tem investido nas chamadas Missões Sociais. Segundo dados do Instituto Nacional de Estatísticas (INE) e da CEPAL, a pobreza continua diminuindo na Venezuela, um dos países que mais se destaca no cumprimento das “Metas do Milênio”. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) melhorou muito nos dez anos de governo Chávez. O último resultado divulgado pelo PNUD, referente ao ano 2006, demonstra que na Venezuela o IDH alcançou 0,826, enquanto em 2004 foi de 0,810 e em 2000 foi de 0,776 (Severo, 2007). É interessante observar que o IDH da Venezuela cresceu bem mais que o de outros países exportadores de petróleo com IDH semelhante. Outra informação relevante: o Informe de Desenvolvimento Humano 2007-2008 do PNUD demonstra que entre 1975 e 1980 –período de altos preços do petróleo– o IDH da Venezuela aumentou somente de 0,723 para 0,737. Ou seja, os resultados atuais são expressivos: cerca de 2.733.108 venezuelanos abandonaram a condição de pobreza. Por outro lado, o coeficiente Gini caiu de 0,4865 em 1998 para 0,4200 em 2007, representando a diminuição nas disparidades da concentração de renda na sociedade venezuelana (Severo, 2009, p.32).

Concluímos com algumas considerações do atual ministro de Economia e Finanças da Venezuela, Alí Rodríguez Araque (2008): “A Revolução Bolivariana não surgiu porque os preços do petróleo estavam muito altos, nem se manteve principalmente porque estivessem altos. Precisamente, o governo do presidente Hugo Chávez começou em um momento de profunda depressão dos preços do petróleo. De maneira que a Revolução Bolivariana nem começa com preços altos do petróleo nem vai terminar porque baixaram esses preços”.

Luciano Wexell Severo é economista. Aluno de mestrado do Programa de Economia Política Internacional (PEPI), do Núcleo de Estudos Internacionais (NEI) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). lws@ufrj.br. Publicado na Revista Eletrônica Data Venia, do Curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, Ano V, Nº.25, fev-abr/2009.

sábado, 9 de maio de 2009

Todas as mulheres do mundo


Rodapé cultural: A partir de segunda-feira, 11, exposição na Ocas do Ibirapuera do artista francês Titouan Lamazou, 55 anos, que percorreu o mundão registrando as mulheres em suas vastas peculiaridades culturais. Dos sete anos de labuta colheu 200 perfis, entre eles de muitas brasileiras anônimas. O serviço: exposição Mulheres do planeta, segunda-feira 11, Ocas, Ibirapuera. São três mil obras; 2000 fotografias e 50 filmes sobre a mulher do século 21. Eis o site do artista onde dá pra ver fotos e desenhos que integram a exposição: http://www.titouanlamazou.com/

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Serra: "não fique perto de porquinho algum"

É bom deixar claro que jornalisticamente essa fala do governador de São Paulo, José Serra, em vídeo, está, cá pra mim, fora de contexto, editada de forma meio suspeita. Mas o vídeo tem relevância ao menos humorística, porque não posso crer (ou posso?) que ele realmente deu essa explicação sobre o Influenza H1n1, o vírus da gripe suína. É de lascar.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Entrevista: "é preciso reconquistar o tempo"

Essa entrevista tem como foco o tempo e a entrevistada é a filósofa Olgária Mattos. Fiz há dois anos, mais ou menos, e foi publicada, após edição, num especial sobre o Pós-humano. Aqui a coloco na íntegra, cumprida mas bem interessante. Lembro que foi um chacoalhão na cabeça.

É preciso reconquistar o tempo

Filósofa diz que as pessoas estão conscientes de que “não têm tempo”, mas não sabem o que fazer com o que lhes resta de tempo livre.

OLGÁRIA MATOS, filósofa renomada, doutora pela École des Hautes Études, de Paris, e professora aposentada da USP, ganhadora do prêmio Jabuti de 1990 com o livro Os arcanos do inteiramente outro - a Escola de Frankfurt, a melancolia, a revolução (ed. Brasiliense) é autora também de Rousseau, uma Arqueologia da Desigualdade, além de inúmeros ensaios, artigos e palestras com enfoque nos temas Iluminismo, sujeito, tempo, consciência e Revolução. Nessa entrevista concedida em sua casa, na zona sul de São Paulo, ela fala do “conceito de tempo e suas mutações no mundo contemporâneo”. Por exemplo, sua resposta à idéia geral de que hoje as pessoas não têm tempo é, resumida, a seguinte: “a forma mais perversa (...) é a alienação do tempo, você não ser senhor do seu tempo, você é determinado pelo tempo das coisas e não escolhe mais sua vida.” Sobre a hiperatividade dos dias atuais, ela diz que é fazer muitas coisas com nenhum sentido. E que as pessoas querem matar o tempo porque não sabem o que fazer com o tempo livre. Um visão instigante sobre os dias de hoje.

por Thiago Domenici

Gostaria que a senhora falasse o que é o tempo e o que são as mutações do tempo?
Santo Agostinho diz: “quando não me perguntam o que é o tempo eu sei, quando me perguntam eu já não sei mais”. Porque o tempo pode ser acelerado em anos, pode ser extremamente longo em segundos, são experiências muito diferentes as que a gente pode falar sobre o tempo. No mundo contemporâneo, a impressão que dá é que existe um “não tempo”, uma experiência do tempo que não passa, porque ele não se faz mais com experiências. Na verdade, experiência supõe uma relação de conhecimento com valores e acontecimentos do passado que são transmitidos das formas mais diversas. Os antigos tinham muito essa idéia – até recentemente tínhamos, até pelo menos o século 19 –, de que era preciso resistir aos embates do infortúnio, quer dizer, reagir aos acontecimentos inesperados e catastróficos para continuar vivo. As parábolas e fábulas tinham esse sentido de ensinamento. Hoje não temos mais tempo para essa tessitura coletiva das experiências dos sonhos, das expectativas.

E por que a gente não tem mais tempo?
Tanto no mundo grego quanto na Idade Média até o Renascimento você tem a idéia do mundo perfeito. Que é o cosmos grego? É um todo, fechado, onde cada coisa ocupa o lugar que lhe é próprio na ordem da criação, o otimismo grego achando que o homem nasceu para a felicidade, sua destinação é a felicidade, ele pode escolher os meios para chegar à felicidade. Agora, os fins últimos ele não escolhe. Então é muito tranqüilizador esse universo, não é habitado por nenhum desejo de autoridade, ele já está no perfeito, já está na verdade, e a possibilidade de conhecimento é sempre no sentido de um aprimoramento de si, de um cuidado de si. Na Idade Média você tem a criação divina, ali já é a emanação da beleza invisível transcendente. Quando chega o século 16, 17 se acaba a idéia de universo finito e entra em cena o universo infinito. A idéia de limite, que é uma idéia grega, passa a ser entendida como barreira, como privação, e essa idéia de infinito e de deslimite está na base dos esportes radicais, das performances até a morte, da obesidade mórbida, do uso imoderado de drogas, enfim, todas as formas do excesso, do deslimite. Além do que a modernidade, a partir dos séculos 17 e 18, começa a elogiar a paixão – a paixão é o excesso, e a nossa cultura valoriza o excesso.

É aí que entra a história do tempo qualitativo e do quantitativo?
Vamos supor: como era a sobrevivência na Idade Média? Era, sobretudo, no campo, então você tinha que seguir as estações do ano, as colheitas, a plantação, o tempo de trabalho não se sabe exatamente, mas a média devia ser umas quatro horas por dia, no máximo. Era um tempo qualitativo, porque você seguia aquilo que era da natureza das coisas. Por exemplo, trabalhar antes do nascer do sol ou depois do pôr-do-sol era considerado imoral, era pecado, porque você desafiava a ordem da criação. Com o advento da luz elétrica, no século 19, o dia passou a ter 24 horas, o trabalho noturno entrou com uma voracidade de consumir todas as forças do homem, até o fim – isso foi o capitalismo do século 19, e está voltando. Antes tinha um tempo na Grécia, em Roma, na Idade Média e nas religiões que era um tempo livre, mas o que era o tempo livre? Era um tempo totalmente autônomo com relação às necessidades materiais da sobrevivência, um tempo que você dedicava à contemplação, por mais indefinida que pra nós seja essa palavra contemplação. Você não se entretinha com nada que dissesse respeito à materialidade da vida, era a liberdade absoluta. Hoje não temos mais essa idéia de tempo livre, já é preenchido de coisas, então você tem um tempo inteiramente espacializado, não é mais qualitativo, ele não diz respeito a propriedades representativas de um acontecimento, de uma pessoa ou de um desejo. Essa idéia de que você não tem tempo é a forma mais perversa da alienação. Marx já dizia isso, a forma mais perversa não é a alienação do trabalhador com relação ao produto do seu trabalho e ao sentido do trabalho, é a alienação do tempo, você não ser senhor do seu tempo, você é determinado pelo tempo das coisas e não escolhe mais a sua vida. É o que está acontecendo hoje. Você vê, por exemplo, que um empresário trabalha 24 horas e não pára um segundo – esse empresário na visão de um homem da Idade Média vive pior do que um servo da gleba. São mutações na experiência do tempo e na maneira de vivenciá-lo. Independentemente da modalidade do acúmulo do capital e da distribuição da riqueza, esse capitalismo acelerado, que é o das nanotecnologias e tal, é uma coisa extremamente nova no seguinte sentido: se você pensa no capitalismo até a década de 30, ou até pelo menos até a Primeira Guerra Mundial, havia uma autonomia da política com relação à economia, tanto que a economia tinha que pressionar a política para que a política revisasse seus interesses de acumulação. Quando isso não acontecia, tinha guerra, tinha ditadura, para forçar a política a realizar os desígnios da economia. Hoje não, há uma total fusão entre a economia de mercado e a sociedade de mercado, não há mais espaço de autonomia, porque a política nada mais é do que a realização do status quo econômico. Você não tem esse espaço mínimo que se chamava espaço público. E não pode ter liberdade política se está raciocinando em função do que a economia permite e do que ela não permite. Então, essa liberdade está tendendo a desaparecer, porque o realismo político está tomando o lugar da inteligência social.

A senhora aborda em suas palestras a questão do tédio, da monotonia e do desejo de “matar o tempo”. A gente não tem tempo e ao mesmo passo quer matar o tempo...
Recentemente foi feita uma pesquisa na França para ver as experiências do tempo nas metrópoles, nas classes A, B, C e D. As pessoas que não tinham tempo nenhum mesmo, para nada, eram os desempregados. Eles sentiam a sensação de que não tinham tempo. Provavelmente assim: um dia faz o currículo, no outro dá um telefonema, outro dia espera uma resposta e assim vai. Então é um tempo totalmente vazio, sem sentido e também tem o seguinte: como há uma sensação, vamos dizer, transversal na sociedade, de que ninguém tem tempo, esse “não tempo” acaba afetando a todos, não diz respeito só àqueles que não têm tempo. Quem tem tempo acaba sentindo que não tem, é uma coisa estranha que acontece. A hegemonia do tempo dominante é assimilada por todos, não vai para uma classe só, racionalmente localizada, porque ela trabalha 24 horas, não, é algo que se espalha por toda a sociedade. Então, esse sentimento de não ter tempo é a manifestação de algo estrutural na sociedade, que é o trabalho. O trabalho é totalmente esvaziado de sentido, no mundo capitalista, com a automação do movimento do gesto do trabalhador. Quem captou muito bem a modernidade do tempo completamente sem sentido do trabalho alienado foi o Kafka. No livro O Processo, por exemplo, quando o personagem chega para tentar descobrir qual é a condenação e nunca vai saber qual é a sua culpa e nem qual é a condenação. O que ele vê? Vê um funcionário espancando um sentinela e pergunta: “Por que você está espancando?” O funcionário não pára de espancar e fala: “fui contratado pra espancar, então espanco”. É o trabalho alienado. Marx diz assim: “Quando o homem está no lugar de trabalho, ele se sente fora de si, só se sente junto a si quando está fora do trabalho”. O trabalho continua sendo o trabalho alienado que esmaga fisicamente ou espiritualmente, porque não tem sentido nenhum. Agora, a monotonia contemporânea é o tempo da longa duração, e no capitalismo essa longa duração é insuportável, por isso as pessoas querem matar o tempo, porque não sabem o que fazer com o tempo livre.

Tem a questão da tecnologia no nosso tempo, parece que quanto mais tecnologia temos menos tempo, não?
As tecnologias fazem parte desse desejo de novidade, mas não são o novo. Porque o novo é muito raro acontecer, a última grande invenção da ciência deve ter sido no século 19, comecinho do século 20. Agora estão desenvolvendo o que já foi descoberto até a Primeira Guerra Mundial ou por volta disso. Mas você tem uma pulsão da novidade. Porque, como o que domina todo o imaginário, todo o ritmo da vida biológica e todo o ritmo da vida cotidiana é a produção e o consumo de mercadorias, a consciência disso está pautada pela sucessão e substituição rápida do mesmo. Quer dizer, imagine no século 19 o que deve ter sido a primeira experiência da produção em série, quando se vê o objeto único aos milhares. Essa experiência de vertigem, de alucinação, que é o mesmo que estar em algum lugar e ter um outro igualzinho a mim, milhares de pessoas todas do mesmo jeito, parecendo o mesmo, produz uma monotonia terrível. O mesmo objeto milhões de vezes é totalmente insuportável; como você vai consumir, se tudo é a eterna volta do mesmo? A não ser produzindo pequenas diferenças de objeto para objeto que não querem dizer absolutamente nada, mas criam a ilusão da individualidade. Você perguntou da tecnologia. O que o Marx dizia? Você tinha a infra-estrutura da sociedade, que é o modo de produção e o modo de apropriação, e tinha uma superestrutura, que eram as produções culturais da sociedade – arte, religião, filosofia, ideologia, ciência e tecnologia. A ciência e a técnica faziam parte das produções culturais, espirituais, da sociedade. Hoje a ciência e a técnica são força produtiva. Estão diretamente vinculadas ao aumento do capital, não têm mais autonomia nenhuma. O acúmulo do capital depende da tecnologia, que depende do desenvolvimento econômico. Então, como virou infra-estrutura, a ciência também está comprometida no não-pensamento. Porque, do ponto de vista do conhecimento, você não tem mais a ciência, porque ela é predominantemente pragmática-operatória, cada vez operando mais com as agências de financiamento privadas ou com as agências de Estado. Por exemplo, a NASA, a ciência dos Estados Unidos é diretamente ligada ao departamento da guerra, direto! Na França há um pouco mais de autonomia, na Alemanha também, na Inglaterra não sei, deve haver, e no Brasil não existe. Então você tem a substituição da lei – que é o conhecimento das sutilezas da ciência e das suas mutações – para o funcionamento automático do pensamento. O que é a Fuvest senão o pensamento do computador? É o estudante mais rápido, que pega a pegadinha mais rápido. É o vazio do pensamento com funcionamento automático, então não tem pensamento. Tudo isso vem da predominância de uma racionalidade da ciência que é do tipo matemático-algébrico-analítico, portanto, abstrato, esvaziado de sentido, e você tem o mecanismo do pensamento, todo um arsenal de dispositivos lógicos, vazio. Esse não-pensamento resulta, na hora do consumo, em não saber consumir. Quer dizer, você já não sabe produzir, não sabe fazer, porque aplica a fórmula. Você não tem mais um saber, tem um know-how, e na hora do consumo não tem um “saber viver”. Antes você tinha a filosofia, a ciência, a arte, a religião, tudo que ao longo do tempo era te prover de um saber fazer, era um saber viver. Hoje você está em descompasso entre o que precisa e o que consome. Aí consome o que não precisa e precisa daquilo que não consome. Esse mal-estar da temporalidade veio da não-coincidência do que você tem e o que você deseja, mas você não deseja o que tem e aí, obviamente, como o desejo é infinito, veja só, o capitalismo veio para ficar, porque – como toda tradição filosófica e religiosa fala – somos seres carentes, seres desejantes, então a tendência é preencher o vazio da carência com objetos de satisfação. Ora, o capitalismo produz a carência, ele não quer preencher uma necessidade, quer criar necessidades ao infinito. Então, com essa diferença minimal de um objeto a um objeto para você continuar consumidor, é o tempo do consumo que determina o tempo interno. E o tempo da subjetividade você não tem mais. Como você percebe isso hoje? Todas as experiências humanas que necessitam de tempo, da longa duração, ficam comprometidas: amizade, relação pais e filhos, amor.

E o que esperar do futuro?
Veja só, a promessa exige longo prazo. Quando você promete alguma coisa, está incluída a idéia da dúvida, você não sabe se vai conseguir cumprir ou não. Então precisa do tempo longo para saber se cumpriu a promessa. A idéia do juramento era assim. Não havia possibilidade de romper um juramento a não ser sendo perjúrio. Hoje é ridículo alguém jurar ou prometer alguma coisa, porque sabe que não vai cumprir, e se cumpriu foi por acaso. Então todo esse tempo de expectativa e, portanto, de futuro, está totalmente desaparecido. Hoje só se fala do futuro para justificar o que é o presente, não existe mais a idéia do tempo longo e o que vai acontecer. E o mal-estar vem muito dessa dissolução da idéia de futuro. E como a gente fala de futuro? Fala em mercados futuros, o futuro virou mais um valor de troca. Então quando se fala: “os jovens não têm expectativa de futuro” – não têm um monte de coisa porque não têm expectativa de futuro e não sabem o que fazer com o tempo. Porque esse capitalismo produz uma cultura e uma educação cuja atividade cerebral é próxima a zero. É pulsional, eu quero, vou lá e pego. Aí quer que a juventude faça o quê? Vira delinqüente ou vira entediado. Porque o tempo que lhe é imposto como a forma por excelência da vida é o consumo de bens materiais. Sem nenhum ideal de espírito. E a técnica e a ciência se desenvolvem não sabendo para onde vão.

A ciência não pensa no ser humano?
A ciência não pensa. Ela faz. O mundo contemporâneo não pode ter filosofia, porque a filosofia pensa o pensamento. A ciência deveria pensar a ciência. O que é a ciência para os gregos? Primeira coisa é: “Isso que vou pesquisar é útil ou prejudicial? Visa os fins últimos do sumo bem ou não? Se não, não vou pesquisar isso”. A energia nuclear é uma tecnologia não-poluente. Meu Deus! Leva milhões de anos para acabar a toxicidade e não é poluente? Por que? Porque não pensa. Porque se você dissesse: “Não, isso nós não vamos fazer porque o risco é morrerem tantos”. O fato de haver risco levaria a pesquisar outras coisas. Mas esse capitalismo é inimigo do pensamento autônomo, é inimigo da liberdade, é inimigo da vida feliz e da vida justa. E não é um capitalista, é o capitalismo! É uma estrutura alienada que abrange também o burguês, que também está vitimado por essa compulsão ao consumo, a compulsão à produção sem sentido nenhum.

Há cientistas falando que daqui a quarenta anos a inteligência artificial será algo palpável, estão até discutindo a ética dos robôs se o robô tem que ter uma carga horária específica de trabalho, se tem que ter previdência. Qual poderá ser a função deles no futuro?
Não dá muito para antecipar, mas há um tempo atrás houve uma discussão no Parlamento de Tóquio se devia ou não estender os direitos humanos aos robôs inteligentes. Isso é um fenômeno que o Marx estudou e é a pessoa que foi mais longe, falando da inversão do inanimado em animado. O inanimado toma o lugar do homem. E é claro que você pode falar em direitos humanos para robôs, porque eles não são praticados para as pessoas. Talvez sejam para as coisas, porque a alienação é um fenômeno em que as coisas ocupam o lugar do que é vivo. Então é bem possível. Você vê o jeito como as pessoas cuidam do carro no domingo de manhã, eles lavam com um cuidado que certamente não têm com os filhos. Agora, esse é o final da coisificação. A ciência moderna confunde liberdade de pesquisa com onipotência, só que não tem idéia de limite. Quer dizer, atividade zero de pensamento. A sociedade do narcisismo e o narcisismo é uma coisa de não saída de si, não é o ideal de ego, é o ego ideal, fica imerso em si mesmo, não chega ao outro. A tendência disso são as sociedades da incivilidade, porque o outro não existe. Há pesquisas com crianças que ficam na frente de computador, o que, do ponto de vista de amadurecimento psicológico e, portanto, da progressão do narcisismo e da onipotência é muito ruim. Você dá o comando e ele responde e isso aí aumenta muito a onipotência. A ciência é onipotente, e as pessoas também querem que aconteça na hora. Você vê a própria educação. A educação é um negócio chato. Por que? Porque a criança vai para a escola e tem que ficar sentada, e ela gosta de ficar correndo, de quebrar coisas, de subir na parede. Tem aqueles mais quietos, mas, então, o que é? “Ah, agora você tem que aprender a escrever.” Ah, então tem que fazer esse movimento, aí você tem que ficar sentado. Então, o que é a educação contemporânea no Brasil? Porque a educação está em crise? Por que a evasão escolar? Porque a escola não está adaptada à realidade da criança. A escola é para tirar a criança da sua realidade e criar outros hábitos. Agora, o que você faz? A criança não está adaptada, então vamos adaptar, vamos fazer massinha, vamos não sei o quê. É um tédio fora do comum. E o que acontece? A criança quebra a escola. O adolescente quebra a escola, porque ele vai fazer dentro da escola o que ele já faz melhor fora. Já faz capoeira fora. “Ah, vai fazer capoeira”. Porque “para pobre o pouco está bom”. Então, dá um pouquinho de capoeira que ele já faz, porque essa é a realidade dele. Por que não dá um Mozart, uma aula de violino para ele? “Ah, não. Para pobre, o pouco está bom”. Tudo é assim, essa idéia de tudo rápido, tudo um pouquinho, emprega na educação. Leitura? Dá uma olhada, não tem nada mais que exija tempo do que leitura. Como é que você ensina o português? A tendência é essa hoje no mundo inteiro. O novo presidente francês Sarkozy quer fazer isso, quer tirar a literatura do currículo francês. Uma barbárie. Então, tudo o que exige tempo, quer dizer, a educação, quando ela começa a imitar esse tempo acelerado, não fala mais nada. A educação não é para te dar um pouquinho de instrumento para você se dar bem na vida e ficar rico ou ter ascensão social. Não é isso. A educação é para te ensinar a ter paciência, as grandes obras de literatura são as obras que elaboram o teu rumo interno. Você tem que entender aquilo e ao entender, você se entende melhor, então é todo um mundo que desaparece.

Tem que ensinar a estimular o pensamento...
Porque você tem que entender aquilo que aquela personagem está vivendo e porque ela está vivendo, aí você começa a tomar para você mesmo aquilo. O português, por exemplo, nos parâmetros curriculares nacionais consta assim: “O ensino da Língua Portuguesa visa criar cidadãos responsáveis.” Pronto. Quer dizer, não tem literatura. Não precisa ter. Aí a criança é analfabeta secundária por quê? Porque não aprendeu a ler através da literatura. Então na hora que você pega um texto mais complexo, não dá para entender. Essa idéia de que a educação tem que atender a sociedade, ao que a sociedade tem, é a incivilidade absoluta. Você dá um pouquinho rápido, aprende um pouco, já chega. Você não tem todo o tempo da educação, que é o tempo de aprender a lidar com o tédio. E o que é educação? O que é casamento? O que é ter filho? O que é viajar? É lidar com o tédio. Os mais bem sucedidos são aqueles que sabem. Agora, essa escola é o tédio, ela não ensina a lidar com o tédio. Porque o tempo não existe, você tem que passar rápido para outra coisa.

sábado, 2 de maio de 2009

México e o Influenza H1N1

Cena do cotidiano no México, de 29 de abril.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

seriado Millennium

Do mesmo criador de Arquivo-X, o genial Chris Carter também é o pai do seriado Millennium, de 1994 - que durou três temporadas - no qual o personagem do ator Lance Henriksen (Frank Black), agente do FBI, tinha o dom de enxergar pelos olhos dos serial killers e de suas vítimas.
Com o poder de ver como os crimes que investiga aconteceram, Frank se encontra cada vez mais envolvido pelas forças da maldade quando decide mudar-se para Seattle com a família. Ele é então contratado pelo grupo Millennium, uma organização especializada em enfrentar essas forças. Pô, é demais. Adorava. A abertura e trilha sonora é depois do próprio Arquivo-X e de House, a que mais gosto.

Perfume de mulher

Perfume de mulher (Scent of a Woman) é, para mim, um dos filmes mais brilhantes e marcantes do cinema. A atuação de Al Pacino como um militar aposentado da guerra e deficiente visual é esplêndida, tanto que lhe rendeu o Oscar (quando o Oscar tinha algum sentido artístico) de melhor ator. Nessa cena, uma das mais marcantes, foi quando descobri e passei a gostar de Tango no esplendor dos meus 13 anos; hoje, 15 anos depois, indispensável não ouvir um Piazzolla, por exemplo. Um bocadinho de brilhantismo e boa música de um filme para ter na coleção.

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