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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

"Pai", um poema aos desaparecidos políticos

A notícia abaixo, tirada do jornal A Cidade, de Ribeirão Preto, encheu-me de alegria, como é óbvio. Ter uma peça escolhida por um grupo teatral para se apresentar no Fringe de Curitiba é, sobretudo, uma honra e motivo de orgulho. Ainda mais quando o tema é uma homenagem aos desaparecidos políticos no Brasil, alguns deles meus amigos pessoais, como Eduardo Leite (Bacuri), Yara Iavelberg, Heleni Guaryba, entre outros. Texto escrito sob forte emoção e com o carinho e o respeito a uma geração que não se curvou à ditadura. Como em teatro, por tradição, não se diz boa sorte, mas ‘merda’, desejo toda ‘merda’ do mundo ao Gilson, a Neuza Maria, a Mariana, ao Júlio, a Gracyela e a todos os que participam do espetáculo.

Grupo de Ribeirão é selecionado para Festival de Curitiba
Ribeirão Em cena vai estrear espetáculo inédito na capital paranaense sobre a família de um desaparecido político. Álefe Cintra - Especial A Cidade.
Pelo terceiro ano consecutivo, a Cia. Ribeirão Em Cena foi escolhida para participar do Festival Internacional de Curitiba. O grupo foi selecionado para a mostra Fringe, que agrega todas as tendências, e é dedicado a novos grupos.
Para a vigésima edição, que será realizada na capital paranaense entre 29 de março e 10 de abril, o espetáculo escolhido foi "Pai", escrito pelo mineiro Izaías Almada. A peça cumprirá temporada de quatro apresentações no Teatro Solar do Barão entre os dias seis e nove de abril. O diretor da peça Gilson Filho explica que a escolha do texto aconteceu graças a atriz ribeirão-pretana Débora Duboc (a Olga, de Passione), que indicou o livro. O enredo é sobre a história de uma família que descobre o corpo do pai, desaparecido político na época da ditadura militar brasileira. A ação se passa em São Paulo, 1991, ano que se descobriram centenas de ossadas numa parte clandestina do Cemitério de Perus, muitas delas de prisioneiros da ditadura. "Eu conversei com o Izaías, que ficou empolgado e autorizou", conta Gilson.
O elenco reúne a veterana atriz Neuza Maria e a jovem Mariana Casula, que faz parte da nova geração de atrizes formadas nas oficinas do Ribeirão Em Cena. Conta ainda com a participação especial do ator Julio Avanci e de Gracyela Gitirana. E para a apresentação, o grupo contará com a ajuda da tecnologia. "Nós teremos uma projeção de imagens da época no palco, durante o espetáculo", explica Gilson.
O Festival Internacional de Curitiba reúne grupos de teatro de todo o Brasil. Para o diretor Gilson, essa é a oportunidade de mostrar o trabalho de Ribeirão num evento de repercussão nacional. "O festival é uma vitrine e uma experiência muito rica. E o público é muito bom. Desde que fomos aprovados para participar do festival há três anos, o grupo não parou mais".

Izaías Almada é dramaturgo e escritor, colaborador do Nota de Rodapé

domingo, 30 de janeiro de 2011

Virando as páginas da história

Caco Bressane, 25 anos, arquiteto e ilustrador paulistano, mestrando em Urbanismo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, cidade em que mora atualmente e colaborador do Nota de Rodapé.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Do blogaço a barrigada

No post logo abaixo desse você tem disponível a entrevista que o criador do WikiLeaks, Julian Assange, concedeu aos internautas brasileiros e que foi publicada, com exclusividade, pela blogosfera no último dia 26 de janeiro. Um fato inédito, sem dúvida, iniciativa de Natalia Viana, que faz a mediação pelo Wikileaks no Brasil. Abaixo, uma análise valiosa, importante de se ler, sobre a repercussão da entrevista, praticamente ignorada pela imprensa clássica. Reproduzo na íntegra o texto da jornalista.

Como nascem as notícias

Natalia Viana

Julian Assange dar uma entrevista para internautas brasileiros é notícia. Seria notícia mesmo se a entrevista não fosse interessante, rica e divertida – afinal, muitas entrevistas suas a dezenas de veículos de imprensa do mundo têm sido reproduzidas pelos sites noticiosos brasileiros.
Mas a entrevista em questão foi interessante, revelou coisas sobre o entrevistado que ajudam a compor na cabeça das pessoas a imagem de quem é o fundador do WikiLeaks, afinal. E fala sobre o Brasil. Desde o lançamento dos documentos diplomáticos dos EUA, ele havia dado uma entrevista – uma apenas – a um grande jornal brasileiro. Nada mais.
A coisa ia ficar por aí. Mas Julian topou a ideia de falar direto com o público brasileiro, embora sob a minha mediação. A ideia lhe pareceu interessante. E, de fato, as perguntas diretas do público têm um gostinho mais despachado, mais direto. Ninguém, por exemplo, havia lhe perguntado por que o WikiLeaks trabalha com a grande imprensa. Para os próprios veículos estabelecidos, a resposta é óbvia. Mas nem sempre o é para o público em geral.
A entrevista de Assange foi publicada, simultaneamente, às 10h da manhã, por vinte e três blogs que toparam fazer parte da iniciativa, uma espécie de “blogaço”. A repercussão foi bastante boa, no twitter, no facebook e em diversos blogs. Já os sites de notícia online passaram boa parte do dia ignorando o assunto.
Havia, é claro, certa desconfiança com relação à entrevista – até mesmo dos internautas. Afinal, que critérios seriam usados? Quem garantia que não se tratava de um golpe de marketing do WikiLeaks? E quem é essa tal Natalia Viana para decidir que perguntas seriam feitas, e que a entrevista seria mesmo real? Recebi diversos comentários apontando para isso.
Bom, eu sou eu, jornalista independente que preza o interesse público acima de tudo. Isso vocês já sabem. Ainda está pouco claro na cabeça das pessoas que eu não sou do WikiLeaks, que não faço parte da organização e que mantenho minha posição independente embora esteja colaborando com eles na divulgação dos documentos do Cablegate.
A minha autoridade, nesse caso, é a mesma de um jornalista de uma empresa que é escalado para fazer uma entrevista. E a tarefa, selecionar os melhores tópicos, organizar a entrevista de maneira que fique interessante e “redonda”, editar, traduzir. No meu caso, contei com a ajuda de centenas de leitores deste e de outros blogs.
Qual a diferença? A diferença é que não tem veículo por trás. Nem por isso a entrevista, enquanto produto jornalístico, deixa de ser notícia.
Entretanto, assim ela foi considerada pelos veículos online. Não vejo nisso uma oposição ou má vontade; vejo uma excelente oportunidade de entender como funciona o processo de elaboração das notícias. Como elas nascem.
Ao longo do dia, o blog “Toda Mídia”, do Nelson de Sá, deu. Um jornal de Osasco deu. A Rede Brasil Atual deu. Veículos pequenos, que podem ser considerados “alternativos” – que não é demérito nenhum. A Carta Capital, é claro, deu.
No começo da noite, a agência espanhola “EFE” decidiu dar uma materinha. Citou “uma entrevista realizada por internautas e divulgada nesta quarta-feira pela revista ‘Carta Capital’”. E manchetou: “Assange diz que aceitaria asilo político no Brasil”.
Não demorou muito, e os sites começaram a reproduzir o texto. Com informações da EFE – escritas por um jornalista como eu, mas que trabalha dentro de uma redação – e o logo da EFE embaixo, endossando. O UOL Economia noticiou às 19h44, o Yahoo Notícias também; o Terra e a Época Negócios também. Virou notícia, a entrevista, somente à noite.
A verdade é que ainda predomina, mesmo nos veículos online, o padrão de buscar respaldo em outros veículos e em fontes oficiais. É compreensível, mas não é mais condizente com a maneira como as coisas acontecem. Há uma pluralidade de vozes e fontes que com a internet ganham visibilidade e respaldo público – como aliás, é o próprio caso do WikiLeaks. Não tem volta.
É um enorme desafio separar o joio do trigo. O que não quer dizer que uma boa apuração, critério jornalístico por excelência, não possa resolver esse conflito.
Mas no caso da entrevista de Assange, em vez de buscar apurar se era verdadeira ou não, os veículos online preferiram esperar para ver se alguém dava primeiro. Coube a uma agência espanhola, que acabou ‘furando’ os nossos veículos nacionais. Aliás, ‘furando’ não. No jargão jornalístico, uma informação falsa é chamada de “barriga”. E a matéria da EFE acabou levando todos os sites digitais para uma grande barrigada.
Julian Assange jamais disse que aceitaria asilo político no Brasil. Questionado, disse: “Eu ficaria, é claro, lisonjeado se o Brasil oferecesse ao meu pessoal e a mim asilo político. Nós temos grande apoio do público brasileiro”.
Típica resposta de Julian Assange.

Fonte: http://cartacapitalwikileaks.wordpress.com/

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

EXCLUSIVO: Brasileiros entrevistam Julian Assange do Wikileaks

“Não somos uma organização exclusivamente da esquerda. Somos uma organização exclusivamente pela verdade e pela justiça”. Essa é apenas uma das muitas afirmações feitas pelo fundador e publisher do WikILeaks, Julian Assange, em entrevista aos internautas brasileiros.
A entrevista será publicada por diversos blogs - entre eles, o Blog do Nassif, Viomundo, Nota de Rodapé, Maria Frô, Trezentos, O Escrevinhador, Blog do Guaciara, Elaine Tavares, Futepoca entre outros.
A entrevista de Assange foi feita por internautas e publicada
com exclusividade em blogs brasileiros como nosso NR
Julian, que enfrenta um processo na Suécia por crimes sexuais e atualmente vive sob monitoramento em uma mansão em Norfolk, na Inglaterra, concedeu a entrevista para internautas que enviaram perguntas a este blog. Eu selecionei doze perguntas dentre as cerca de 350 que recebi – e não foi fácil. Acabei privilegiando perguntas muito repetidas, perguntas originais e aquelas que não querem calar. Infelizmente, nem todos foram contemplados. Todas as perguntas serão publicadas depois.
No final, os brasileiros não deram mole para o criador do WikiLeaks. Julian teve tempo de responder por escrito e aprofundar algumas questões.
O resultado é uma entrevista saborosa na qual ele explica por que trabalha com a grande mídia - sem deixar de criticá-la -, diz que gostaria de vir ao Brasil e sentencia: distribuir informação é distribuir poder.
Em tempo: se virasse filme de Hollywood, o editor do WikiLeaks diz que gostaria de ser interpretado por Will Smith. A seguir, a entrevista.

Vários internautas - O WikiLeaks tem trabalhado com veículos da grande mídia – aqui no Brasil, Folha e Globo, vistos por muita gente como tendo uma linha política de direita. Mas além da concentração da comunicação, muitas vezes a grande mídia tem interesses próprios. Não é um contra-senso trabalhar com eles se o objetivo é democratizar a informação? Por que não trabalhar com blogs e mídias alternativas?
Por conta de restrições de recursos ainda não temos condições de avaliar o trabalho de milhares de indivíduos de uma vez. Em vez disso, trabalhamos com grupos de jornalistas ou de pesquisadores de direitos humanos que têm uma audiência significativa. Muitas vezes isso inclui veículos de mídia estabelecidos; mas também trabalhamos com alguns jornalistas individuais, veículos alternativos e organizações de ativistas, conforme a situação demanda e os recursos permitem. Uma das funções primordiais da imprensa é obrigar os governos a prestar contas sobre o que fazem. No caso do Brasil, que tem um governo de esquerda, nós sentimos que era preciso um jornal de centro-direita para um melhor escrutínio dos governantes. Em outros países, usamos a equação inversa. O ideal seria podermos trabalhar com um veículo governista e um de oposição.

Marcelo Salles – Na sua opinião, o que é mais perigoso para a democracia: a manipulação de informações por governos ou a manipulação de informações por oligopólios de mídia?
A manipulação das informações pela mídia é mais perigosa, porque quando um governo as manipula em detrimento do público e a mídia é forte, essa manipulação não se segura por muito tempo. Quando a própria mídia se afasta do seu papel crítico, não somente os governos deixam de prestar contas como os interesses ou afiliações perniciosas da mídia e de seus donos permitem abusos por parte dos governos. O exemplo mais claro disso foi a Guerra do Iraque em 2003, alavancada pela grande mídia dos Estados Unidos.

Eduardo dos Anjos - Tenho acompanhado os vazamentos publicados pela sua ONG e até agora não encontrei nada que fosse relevante, me parece que é muito barulho por nada. Por que tanta gente ao mesmo tempo resolveu confiar em você? E por que devemos confiar em você?
O WikiLeaks tem uma história de quatro anos publicando documentos. Nesse período, até onde sabemos, nunca atestamos ser verdadeiro um documento falso. Além disso, nenhuma organização jamais nos acusou disso. Temos um histórico ilibado na distinção entre documentos verdadeiros e falsos, mas nós somos, é claro, apenas humanos e podemos um dia cometer um erro. No entanto até o momento temos o melhor histórico do mercado e queremos trabalhar duro para manter essa boa reputação.Diferente de outras organizações de mídia que não têm padrões claros sobre o que vão aceitar e o que vão rejeitar, o WikiLeaks tem uma definição clara que permite às nossas fontes saber com segurança se vamos ou não publicar o seu material.Aceitamos vazamentos de relevância diplomática, ética ou histórica, que sejam documentos oficiais classificados ou documentos suprimidos por alguma ordem judicial.

Vários internautas - Que tipo de mudança concreta pode acontecer como consequência do fenômeno Wikileaks nas práticas governamentais e empresariais? Pode haver uma mudança na relação de poder entre essas esferas e o público?
James Madison, que elaborou a Constituição americana, dizia que o conhecimento sempre irá governar sobre a ignorância. Então as pessoas que pretendem ser mestras de si mesmas têm de ter o poder que o conhecimento traz. Essa filosofia de Madison, que combina a esfera do conhecimento com a esfera da distribuição do poder, mostra as mudanças que acontecem quando o conhecimento é democratizado.Os Estados e as megacorporações mantêm seu poder sobre o pensamento individual ao negar informação aos indivíduos. É esse vácuo de conhecimento que delineia quem são os mais poderosos dentro de um governo e quem são os mais poderosos dentro de uma corporação. Assim, o livre fluxo de conhecimento de grupos poderosos para grupos ou indivíduos menos poderosos é também um fluxo de poder, e portanto uma força equalizadora e democratizante na sociedade.

Marcelo Träsel - Após o Cablegate, o Wikileaks ganhou muito poder. Declarações suas sobre futuros vazamentos já influenciaram a bolsa de valores e provavelmente influenciam a política dos países citados nesses alertas. Ao se tornar ele mesmo um poder, o Wikileaks não deveria criar mecanismos de auto-vigilância e auto-responsabilização frente à opinião pública mundial?
O WikiLeaks é uma das organizações globais mais responsáveis que existem.Prestamos muito mais contas ao público do que governos nacionais, porque todo fruto do nosso trabalho é público. Somos uma organização essencialmente pública; não fazemos nada que não contribua para levar informação às pessoas. O WikiLeaks é financiado pelo público, semana a semana, e assim eles “votam” com as suas carteiras. Além disso, as fontes entregam documentos porque acreditam que nós vamos protegê-las e também vamos conseguir o maior impacto possível. Se em algum momento acharem que isso não é verdade, ou que estamos agindo de maneira antiética, as colaborações vão cessar. O WikiLeaks é apoiado e defendido por milhares de pessoas generosas que oferecem voluntariamente o seu tempo, suas habilidades e seus recursos em nossa defesa. Dessa maneira elas também “votam” por nós todos os dias.

Daniel Ikenaga - Como você define o que deve ser um dado sigiloso?
Nós sempre ouvimos essa pergunta. Mas é melhor reformular da seguinte maneira: "quem deve ser obrigado por um Estado a esconder certo tipo de informação do resto da população?" A resposta é clara: nem todo mundo no mundo e nem todas as pessoas em uma determinada posição. Assim, o seu medico deve ser responsável por manter a confidencialidade sobre seus dados na maioria das circunstâncias - mas não em todas.

Vários internautas - Em declarações ao Estado de São Paulo, você disse que pretendia usar o Brasil como uma das bases de atuação do WikiLeaks. Quais os planos futuros? Se o governo brasileiro te oferecesse asilo político, você aceitaria?
Eu ficaria, é claro, lisonjeado se o Brasil oferecesse ao meu pessoal e a mim asilo político. Nós temos grande apoio do público brasileiro. Com base nisso e na característica independente do Brasil em relação a outros países, decidimos expandir nossa presença no país. Infelizmente eu, no momento, estou sob prisão domiciliar no inverno frio de Norfolk, na Inglaterra, e não posso me mudar para o belo e quente Brasil.

Vários internautas - Você teme pela sua vida? Há algum mecanismo de proteção especial para você? Caso venha a ser assassinado, o que vai acontecer com o WikiLeaks?
Nós estamos determinados a continuar a despeito das muitas ameaças que sofremos. Acreditamos profundamente na nossa missão e não nos intimidamos nem vamos nos intimidar pelas forças que estão contra nós. Minha maior proteção é a ineficácia das ações contra mim. Por exemplo, quando eu estava recentemente na prisão por cerca de dez dias, as publicações de documentos continuaram. Além disso, nós também distribuímos cópias do material que ainda não foi publicado por todo o mundo, então não é possível impedir as futuras publicações do WikiLeaks atacando o nosso pessoal.

Helena Vieira - Na sua opinião, qual a principal revelação do Cablegate? A sua visão de mundo, suas opiniões sobre nossa atual realidade mudou com as informações a que você teve acesso?
O Cablegate cobre quase todos os maiores acontecimentos, públicos e privados, de todos os países do mundo – então há muitas revelações importantíssimas, dependendo de onde você vive. A maioria dessas revelações ainda está por vir. Mas, se eu tiver que escolher um só telegrama, entre os poucos que eu li até agora - tendo em mente que são 250 mil - seria aquele que pede aos diplomatas americanos obter senhas, DNAs, números de cartões de crédito e números dos vôos de funcionários de diversas organizações – entre elas a ONU. Esse telegrama mostra uma ordem da CIA e da Agência de Segurança Nacional aos diplomatas americanos, revelando uma zona sombria no vasto aparato secreto de obtenção de inteligência pelos EUA.

Tarcísio Mender e Maiko Rafael Spiess - Apesar de o WikiLeaks ter abalado as relações internacionais, o que acha da Time ter eleito Mark Zuckerberg o homem do ano? Não seria um paradoxo, você ser o “criminoso do ano”, enquanto Mark Zuckerberg é aplaudido e laureado?
A revista Time pode, claro, dar esse título a quem ela quiser. Mas para mim foi mais importante o fato de que o público votou em mim numa proporção vinte vezes maior do que no candidato escolhido pelo editor da Time. Eu ganhei o voto das pessoas, e não o voto das empresas de mídia multinacionais. Isso me parece correto. Também gostei do que disse (o programa humorístico da TV americana) Saturday Night Live sobre a situação: "Eu te dou informações privadas sobre corporações de graça e sou um vilão. Mark Zuckerberg dá as suas informações privadas para corporações por dinheiro – e ele é o 'Homem do Ano’." Nos bastidores, claro, as coisas foram mais interessantes, com a facção pró- Assange dentro da revista Time sendo apaziguada por uma capa bastante impressionante na edição de 13 de dezembro, o que abriu o caminho para a escolha conservadora de Zuckerberg algumas semanas depois.

Vinícius Juberte - Você se considera um homem de esquerda?
Eu vejo que há pessoas boas nos dois lados da política e definitivamente há pessoas más nos dois lados. Eu costumo procurar as pessoas boas e trabalhar por uma causa comum. Agora, independente da tendência política, vejo que os políticos que deveriam controlar as agências de segurança e serviços secretos acabam, depois de eleitos, sendo gradualmente capturados e se tornando obedientes a eles. Enquanto houver desequilíbrio de poder entre as pessoas e os governantes, nós estaremos do lado das pessoas. Isso é geralmente associado com a retórica da esquerda, o que dá margem à visão de que somos uma organização exclusivamente de esquerda. Não é correto. Somos uma organização exclusivamente pela verdade e justiça – e isso se encontra em muitos lugares e tendências.

Ariely Barata - Hollywood divulgou que fará um filme sobre sua trajetória. Qual sua opinião sobre isso?
Hollywood pode produzir muitos filmes sobre o WikiLeaks, já que quase uma dúzia de livros está para ser publicada. Eu não estou envolvido em nenhuma produção de filme no momento. Mas se nós vendermos os direitos de produção, eu vou exigir que meu papel seja feito pelo Will Smith. O nosso porta-voz, Kristinn Hrafnsson, seria interpretado por Samuel L Jackson, e a minha bela assistente por Halle Berry. E o filme poderia se chamar "WikiLeaks Filme Noire".

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Entreviste o Lobão: mande sua pergunta para o NR

Até o dia 10 de fevereiro mande sua pergunta. É a entrevista coletiva da coluna Penetra Oficial

A coluna Penetra Oficial começa com o pé direito em 2011. Cheguei a recuperar umas páginas de um diário de adolescente, mas ainda não era o foco. Foi quando surgiu a oportunidade de fazer a entrevista com umas das pessoas que fazem parte do meu rol de admiração. Músico completo, compositor genial e que atualmente me abriu um mundo de histórias incríveis com o lançamento do seu livro biografia “50 anos a mil”. Estou falando de João Luiz Woerdenbag Filho, mais conhecido como Lobão.
E eu gostaria que essa entrevista fosse coletiva. A entrevista será feita por todos que fazem parte do universo do NR. E como faz? É só mandar sua pergunta para: penetraoficial@notaderodape.com.br ou então a deixe com nome completo e cidade nos comentários desta postagem. Em caso de perguntas semelhantes escolheremos uma que aborde o assunto de maneira mais ampla. Serão selecionadas 10 perguntas a critério - e o principal é a relevância - da edição do Nota de Rodapé. A data limite para envio da pergunta é dia 10 de fevereiro, às 16h. A entrevista será publicada em data a ser anunciada aqui tão logo ele responda as questões. Uma chance única. O Lobão está esperando pela sua pergunta (E nós também. É claro!)

Fabiana Cardoso é jornalista e produtora, colunista do Nota de Rodapé

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Catadão destaca 255 livros sobre mídias sociais e Omemhobjeto

O ANIVERSÁRIO de 457º  anos de São Paulo pode ser aproveitado com eventos gratuitos ou a preços bem populares. O site Catraca Livre fez uma seleção que indico aqui.

Dicas e sugestões, muito necessárias, contato@notaderodape.com.br ou via twitter @notaderodape


GUTO LACAZ: é artista plástico dos mais criativos e brilhantes do país. Ilustra, mensalmente, há muitos anos, as primeiras páginas da Revista Caros Amigos. No ano passado, lançou o livro "Omemhobjeto: 30 Anos de Arte" (Décor Books), que reúne os mais importantes – e premiados – trabalhos que realizou, incluindo desenhos, objetos, esculturas, pinturas, instalações. Em seu site, eis o legal, baixar o PDF do livro.


ELA VOLTOU:
No dia 25, terça-feira, aniversário de SP, depois de passar por reformas a biblioteca Mario de Andrade, segunda maior do país, reabre ao público com uma série de atividades culturais.

CULTURA NEGRA:
com bom visual e bom gosto aliado a um conteúdo interessante o blog educativo Baoobaa afirma que visa “disseminar, criar e informar a sociedade sobre a cultura negra.” Vale a visita.

LINHA DO TEMPO
:
interativatividade. A linha do tempo feita pelo portal do governo federal, apresenta, por meio de textos, fotos e vídeos, diferentes assuntos, divididos por ano. Dá para selecionar o assunto, por exemplo, história da moeda, do petróleo, do cinema brasileiro etc e viajar pelos acontecimentos. Uma boa ferramenta de pesquisa e estudo.

255 LIVROS:
sobre mídias sociais, comunicação e web 2.0 é uma boa compilação realizado pelo Blog Mídia8! que catalogou centenas de livros gratuitos para fazer download. São títulos em português, inglês e espanhol.

SOLIDARIEDADE:
vídeo produzido na Índia, bem bacana!

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Gato na lebre

Como a metonímia devasta a culinária.

O seu Manoel era um tipo popular que monopolizava a venda de sanduíches, salgadinhos e frituras colesterosas variadas na redação do jornal Estado de S.Paulo, no início da década de 90. Naquela época as redações tinham um toque de bazar persa. As moças vendiam toda sorte de roupas e apetrechos clandestinamente nos banheiros para complementar o salário. Seu Manoel, que fazia parte dessa fauna, circulava entre as mesas arrastando uma cesta de vime igual às de piqueniques de cinema da década de 50, com duas tampas móveis articuladas no centro.
Quando achava uma mesa desocupada, de algum jornalista recém passaralhado, estendia a toalha quadriculada. Mas um amargo dia, para seu Manoel, apareceu um falante concorrente argentino oferecendo no seu melodioso portunhol sanduíches incrementados, com folhas verdes, frios, vários tipos de presunto, acomodados em baguete com gergelim, ainda quentinha e crocante. O portenho amealhou toda a freguesia.
Ai uma lâmpada incandescente de 100 watts acendeu na cabeça do quase falido seu Manoel. Ele teve seu estalo criativo e passou a fazer um novo sanduíche que anunciava à freguesia, aos gritos pregoeiros, ser de “baguete na frança”, o popular pãozinho francês que ele achava com mais facilidade.
Embora possa parecer não ter relação alguma, mais ou menos nessa época um navio nigeriano, acossado pela guarda costeira, desovou no litoral carioca milhares de latas de maconha que, segundo os afoitos usuários, era da melhor qualidade. Não demorou muito e todos os traficantes desonestos da praça começaram a oferecer a erva “da lata”, apesar da inegável procedência paraguaia.
Desde então, talvez por ranhetice da minha idade, passei a implicar com coisas feitas na. São coisas compostas onde o atributo fica mais importante que o principal, como um rabo que balança o cachorro. Os abusos da metonímia, essa figura de linguagem que toma o continente pelo conteúdo, são devastadores na culinária.
Churrasco na laje, por exemplo. O trunfo é ser na laje, onde a cerveja fica quente, a pinga barata rola solta, o sol chapado frita os miolos, as cadeiras são desconfortáveis engradados vazios. Já a carne propriamente dita é qualquer coisa, de qualidade e procedência misteriosa.

O terraço gourmet
é uma contrafação
do churrasco na
laje primordial

Não tem nem a desculpa de ser uma festa de inauguração, ou a tradicional festa da cumeeira, de um puxado vertical num bairro popular, construído a duras penas pelo dono. Não, é uma laje já encardida, com vista para outros sobradinhos igualmente rústicos e pitorescos, da dependência que nunca foi terminada e acabou virando um local reincidente, supostamente exótico e autêntico, onde o churrasco ficaria mais saboroso. Se o dono ganhar na loteria e cobrir a laje esfumaça-se o charme do churrasco. Se o prêmio for bem grande pode mudar-se de bairro e comprar um apartamento com essa contrafação chique que é o terraço gourmet.
Em seguida na minha lista vem o açaí na tigela: não há prova sensata que a tigela modifique o gosto ou o valor nutritivo do açaí, mas os surfistas, naturebas e quejandos, parecem achar inapropriado comer a substância em recipientes que não sejam a tigela, muito menos numa embalagem descartável. Servidas em barracos na praia, as tigelas passam longe de uma boa ensaboada, é claro.
Outra implicância: coisa puxada na outra coisa. Comidas que agregam alguma coisa puxada , tipo filét com legumes puxados na manteiga, peixe com arroz puxado na alcaparra etc. Isso acontece especialmente naqueles restaurantes que o maître destampa teatralmente o prato e diz voilà! com inconfundível sotaque não-sudoestino.
O pior de tudo, disparado, são as coisas na telha. Inclusive a telha em geral é estilizada, já fabricada numa forma adaptada que não serve nem para telha propriamente dita para proteger da chuva nem para recipiente de comida. Esse apetrecho de barro cozido, por natureza própria, tem uma textura porosa que vai ficando progressivamente encardido. Fui vítima de um filé à parmegiana na telha, lá no pitoresco Embu das artes, perto da capital paulista, no qual o queijo foi substituído por purê de batata, sob a premissa de que o importante era exoticamente ser servido na telha. Esse receptáculo é tão inapropriado que uma vez quebrado seus cacos ensebados não servem nem para o tradicional uso de raspagem de calosidades.

O escondidinho
pode ser uma
entranha de bode
inominável

Por alguma razão insondável que nunca descobri, a principal vítima dessa bizarrice é o peixe. O animal, servido inteiro com casca gordurosa, é tão desgostoso visualmente quanto difícil de extirpar as espinhas. O efeito colateral – que arruinou minha estadia em Guarapari, essa aprazível colônia mineira em mares capixabas – foi uma diarréia constrangedora. Não há como lavar telhas para reuso. A saúde pública deveria proibir essa prática. Não caio mais nessa esparrela. Da próxima vez pedirei um peixe de telha feito no pirex.
E as coisas escondidinhas? No caso do feijão de corda, pode ter certeza que o que está amoitado é uma entranha envergonhada e inominável de bode. No escondidinho de carne seca as batatas, macaxeiras e outras substâncias exóticas costumam sobrepujar dezenas de vezes o volume da parte protéica propriamente dita. De modo geral, essas novidades bizarras merecem com toda justiça e propriedade a caracterização de serem feitas nas coxas.
Coisas delivery também são populares nos cardápios modernos e práticos, embora o método de entrega não melhore nem piore a comida (a menos que ela chegue ao destinatário já fria e borrachenta). As pizzas e comida chinesa delivery são fatos da vida, não há como polemizar. O problema léxico é que proliferaram os reclames de pizzas na entrega delivery. Não custa nada um freguês desinformado, sentado no restaurante, pedir pelo cardápio uma pizza delivery. Me lembra o jornalista Raimundo Pereira pedindo com toda seriedade a sobremesa com menos banana e mais split.
Mas minha maior birra é com o lugar vagabundo mas de comida supostamente ótima. É a comida na espelunca pitoresca. Muita gente tende a valorizar a precariedade do local como se esse atributo contribuísse para o charme da refeição. Quanto maior a dificuldade de acesso mais se valoriza a empreitada, embora a iguaria seja, para rimar, uma porcaria.
É como se tivesse um guia de restaurantes e bares onde o item dificuldade de acesso, sacrifício, desconforto e perigo da vizinhança contassem muitas estrelas. Tem sempre uma pessoa de índole alternativa que comenta: o lugar é péssimo mas a comida é divina. Nesses restaurantes maneiros a principal virtude é não estar no circuito dos turistas – como se turistas apreciassem coisas ruins. Isso é um grande programa para gente masoquista, imagino.
Finalmente, quem nunca ouviu comentário de que tal lugar era ótimo e aconchegante mas depois que lavaram e reformaram ficou ruim? Esse foi o destino que os paulistanos devem se lembrar do bar das batidas localizado perto do largo de Pinheiros, apelidado de cu do padre, por ficar atrás da igreja. Depois de uma reforma que limpou a imundície que cobria os queijos gorgonzola pendurados no teto e cobriu as paredes de azulejos, o estabelecimento entrou no parafuso da decadência.

Flávio de Carvalho Serpa
é jornalista, especial para o seção Cronetas do NR

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Entreviste Julian Assange do Wikileaks (saiba como)

"O fundador do WikiLeaks vai dar uma entrevista exclusiva para o público brasileiro. A ideia é aumentar a comunicação direta com o Brasil, abrindo espaço para perguntas dos internautas.
Todo mundo pode participar. Basta enviar a sua pergunta como um comentário neste blog [Natalia Viana, Carta Capital], incluindo nome completo e email para contato.
Eu e o pessoal do WikiLeaks vamos selecionar dez perguntas que serão respondidas por Julian.
Vamos selecionar em especial perguntas originais – já que o Julian deu muitas entrevistas ultimamente – e que tenham relevância para o público brasileiro e para o atual momento do WikiLeaks.
Claro, nem todo mundo será contemplado, mas a ideia que a entrevista seja o mais democrática possível.
As perguntas podem ser enviadas até as 18 horas da próxima sexta-feira, dia 21 de janeiro. Já a entrevista vai ser publicada na próxima semana – somente na internet. Contamos com a sua participação!"

Fonte: http://cartacapitalwikileaks.wordpress.com

DataNR sobre o uso de presidente ou de presidenta

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

domingo, 16 de janeiro de 2011

Promoção Retrato do Brasil, ganhadores de janeiro

Os 10 ganhadores que levaram um exemplar da Revista Retrato do Brasil de janeiro. Saiba mais da promoção AQUI que ocontecerá todos os meses. Por favor, enviem o quanto antes seus endereços completos para contato@notaderodape.com.br

1. @DiogoGasparetto
2. @hannalumendes
3. @ChrisMGteacher
4. @EliSimasPromos
5. @cminko_Munik
6. @pamelaprincesaa
7. @kellybarbosa22
8. @sampamaira
9. @weberson_santos
10. @MaedeSophia

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Catadão NR destaca o livro Habeas Corpus - que se apresente o corpo

Capa do Livro da SDH
“Habeas Corpus – que se Apresente o Corpo, a Busca dos Desaparecidos Políticos no Brasil” é o mais recente livro lançado pela Secretaria dos Direitos Humanos, ainda na gestão do agora ex-ministro Paulo Vannuchi. Em sua apresentação, Vannuchi resume assim o livro-relatório: “sistematiza e resume todas as informações que foi possível colher ao longo de décadas a respeito da possível localização dos restos mortais, muitas vezes com datas e dados contraditórios entre si.” E tem um objetivo bem claro: “guia para leitura e discussão entre os parlamentares que decidirão sobre aprovar ou não a criação da Comissão Nacional da Verdade (...)”. Além disso, o livro acusa Romeu Tuma de acobertar crimes da ditadura. O livro tem 346 páginas e relata 184 casos de desaparecidos políticos.
Dicas e sugestões, muito necessárias, contato@notaderodape.com.br ou via twitter @notaderodape

DO SESC: o livro Mutações, experiências do pensamento, organizado por Adauto Novaes é fruto do ciclo de mesmo nome realizado em 2009 no SESC Paulista, que abordou com diferentes autores – entre eles a filósofa Olgária Matos, Eugênio Bucci e Francisco de Oliveira – as questões referentes a condição humana. O livro é gratuito, pegue-o AQUI.

RUY BARBOSA: o acervo iconográfico da Fundação Casa de Rui Barbosa traz imagens relacionadas à sua trajetória e sua época além de registros das coleções documentais, do museu e jardim e das atividades da instituição. 

ESPARATRAPO: “O Esparatrapo é um grupo de voluntários que estuda a linguagem do palhaço e dela se utiliza para desconstruir a realidade de ambientes comumente estressantes e impessoais – como hospitais e casas de acolhimento –, levando entretenimento de forma lúdica e por meio de jogos de improviso.” Eles tem um site e qualquer forma de doação é bem-vinda.

AVAAZ: vale conhecer essa rede de campanhas globais que reúne 5,6 milhões de pessoas que, segundo eles, “mobiliza para garantir que os valores e visões da sociedade civil global influenciem questões políticas internacionais.” 

PESSOAS COM DEFICIÊNCIA: o site DeficienteOnline fornece informações sobre vagas de emprego disponíveis para pessoas com deficiência.

MULHER: “Violência contra as Mulheres – Quebre o Ciclo”é um portal que reúne fóruns de discussão, podcastings, redes sociais, vídeos e animações com situações do dia a dia relacionados ao tema.

O FACEBOOK EM 60 SEGUNDOS...



...E O TAMANHO DA INTERNET

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Pescadores de Cajaíba

Dois irmãos pescadores de Cajaíba, próximo a Paraty, Rio de Janeiro. "Coloquei uma música do João do Vale chamada O Jangadeiro para acompanhar a imagem. Mas aí liguei a TV e vi o que ocorreu, a tragédia em Teresópolis, e o que irá ocorrer a partir de agora, aberta a temporada de temporais e tragédias de verão", explicou Caco Bressane, 25 anos, arquiteto e ilustrador paulistano, mestrando em Urbanismo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, cidade em que mora atualmente e colaborador do Nota de Rodapé. O primeiro desenho de 2011.


O Jangadeiro (João do Vale)

O jangadeiro vai ganhar a vida
No alto mar
Vai sem saber se volta
Mas tem que a vida ganhar
a vida ganhar...

Quando ele vem voltando na beira da praia
Fica logo assim de gente pra peixe comprar
Peixe a cem mil réis o quilo ninguém quer pagar
Mas todos quer peixe bonito
No preço do fiscal
Que nunca enfrentou
Temporal...

Mas ele enfrenta tudo porque tem zezinho
Filho de estimação que quer aprender ler
Ver o filho estudando é seu maior prazer
É a razão de ir pra o mar
Sem medo de morrer
Pra um pescador
Zé não sei...

Nunca temeu ao mar mas sempre o respeitou
Por viver sempre no mar ele tem amor
Tem orgulho do que é mas o que ele não quer
É que seu filho pra viver
Tenha que enfrentar o mar
Tenha que vim ser
Pescador...


Nesta quinta, ato contra aumento da tarifa de ônibus em SP

Recebi de Lucas Duarte Souza, do Coletivo Cinestésicos, a seguinte informação:

"A passagem de ônibus em São Paulo atingiu neste começo de janeiro o absurdo patamar de R$ 3,00. Não há como ficar calado frente a este aumento que ocorre apenas um ano depois do último e em benefício exclusivo dos empresários do setor.
Para aqueles que não se lembram, no início da gestão Kassab o ônibus estava a R$ 2,00! E como se não bastassem todos os aumentos, o dinheiro (o nosso dinheiro) que a prefeitura entrega às empresas de ônibus paralelamente à tarifa, os subsídios, estão previstos para aumentar em 2011!!
O próximo ato é no dia 13/01 (quinta-feira), com concentração às 17h na frente do Teatro Municipal (próximo ao metrô Anhangabaú). Pelo direito à cidade e contra a exlusão que só se faz mais forte com a tarifa mais cara, precisamos barrar esse aumento! Vamos às ruas! Divulguem o mais que puderem. Vamos expandir a luta!

Quando: 13/01 (quinta) às 17h
Onde: concentração no Teatro Municipal (metrô Anhangabaú)"

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Mídia social é uma droga?

Você entrou nesse tal Twitter e se chocou com o tanto de coisa que aparece? Pensou “nunca vou conseguir acompanhar isso, tenho mais o que fazer!”? Se deu ao trabalho de escrever algo tipo: “Oi, como usa isso?” ou “Descobrindo pra que serve isso” e depois ficou meses sem entrar e nem lembra mais sua senha? Entrou no Facebook e, repetidas vezes, pensou “Não tô entendendo”? Pois é, posso te garantir que não está só no mundo.
Mas também posso te garantir que essas coisas estão ganhando importância. A importância varia de acordo com a necessidade - ou vontade - mas ela existe nas suas variadas formas. Isso não significa, necessariamente, que VOCÊ precise usar. Mas pode te fazer mais falta do que imagina. Ou pode te fazer mais mal do que você imagina.
Minha amiga Alice não tinha muita experiência e nem compreensão sobre mídias sociais. Aliás, nem sabia direito o que é uma mídia social (o vídeo abaixo explica o que é) e só tinha ouvido falar sobre um tal de Orkut - que lhe parecia muito invasivo e esquisito.



Aí chegou o Facebook (saiba mais) e os amigos e os parentes dela faziam parte - não é muito surpreendente, afinal a rede social tem hoje mais de 515 milhões de usuários pelo mundo. Todos conversavam sobre coisas que liam no Facebook, fotos que um colocava, outra pessoa (que estava na mesa ao lado) deixava um comentário (virtual) fazendo uma piadinha, em seguida as duas (dessa vez “pessoalmente”) riam e comentavam o que elas mesmas tinham acabado de escrever uma para outra, uma loucura!
Alice ficava um pouco confusa, não entendia por que era tão divertido. Por que alguém fica até de madrugada cuidando de uma fazenda virtual? Por que escrever um comentário pelo computador em vez de olhar pro lado e falar diretamente com a pessoa? Começou a se sentir excluída, já não conseguia conversar com todos como antes, ninguém tinha mais paciência de explicar cada coisa que acontecia naquela agitada rede social. Esqueciam de convidá-la pra uma festa porque o convite era enviado pelo Facebook. Ela não tinha dicas de games e nem se preocupava quem cuidaria da sua fazenda virtual quando fosse viajar. Então decidiu se arriscar e criou um perfil.
Ah, Alice ficou maravilhada! Quantos amigos achou sem precisar se esforçar... Como o Facebook sabia que a Joana tinha estudado com ela no ginásio e lhe recomendou como amiga? É um universo mágico! O Carlos casou, a Ana tá grávida, a Roberta, sua melhor amiga do prézinho, virou uma advogada bem sucedida. Coisas incríveis aconteceram! E se não fosse o Facebook, ela nunca saberia disso!
Em poucos dias tinha um monte de amigos, o Facebook dizia que tinha 80% de desempenho, um verdadeiro sucesso. Convite para aplicativo? Sim. Recomendação de página? Sim. Fulano é seu amigo? Sim. Convite para jogar? Sim. Acessar todos os seus dados pessoais pra te oferecer mais aplicativos e sugerir amigos? Sim. Acessar seu e-mail pra sugerir mais amigos ainda? Sim. Você curte esse anúncio de sabão em pó que um dia usou e sua roupa até que ficou limpa? Sim!
Deu palpite no almoço de um, riu do comentário de outro, tentou combinar uma cerveja com uma, descobriu a festa de outra, ajudou a amiga a interpretar um sonho, planejou uma festa que nunca aconteceu, “cantou” uma música. Um verdadeiro crescimento na sua vida social. “Eu vi (as fotos no seu Facebook) o jantar surpresa que preparou pra sua esposa de aniversário de casamento, tava lindo”. “Eu vi (as fotos no seu Facebook) que o seu churrasco de aniversário foi muito bom! Muita gente né? E o Bruno?! Hahaha ficou muito bêbado!”.
Alice já é usuária do Facebook há mais de um ano. Ainda não entende tudo o que acontece ali. Mas sente que voltou a ter uma vida social, finalmente. Mas precisamos ter cuidado, mídia social vicia, como bem esclarece o escritor Antonio Prata no seu antigo blog do Estadão.
Claro, caros leitores tuiteiros, facebookeiros e orkuteiros, que as mídias sociais não têm só esse lado “perigoso”, elas podem ser um grande diferencial pra quem busca conteúdo, informação, notícias (muitas vezes em primeira mão). Mas isso é tema para outro texto aqui no Nota de Rodapé.

Natalia Mendes
é editora de serviços do site Catraca Livre e colunista do NR

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Farofa de tanajura salva planeta da fome e do efeito estufa

No mês passado o planeta passou da marca de 7 bilhões de bocas para alimentar. O fantasma malthusiano, segundo o qual a população cresceria mais rapidamente que a capacidade de produzir alimento, não assusta mais tanta gente desde que a tecnologia e as ciências agrícolas progrediram espetacularmente nos dois século passado. Mas agora aparece uma ameaça pior. Maior produção de alimento para mais gente para comer exerce uma pressão tremenda no meio ambiente, agravando a praga do aquecimento global. Isso, por sua vez, muda o clima e pode produzir quebras catastróficas na agricultura atual. O fantasma malthusiano está de volta. Se todo chinês, indiano ou africano em geral resolver comer como o americano vai ser o fim de tudo.
O preparo da Tanajura
(Foto: Lalo de Almeida/The New York Times)
Rebanhos crescentes de bovinos e suínos para alimentar os novos não-miseráveis podem por tudo a perder. Porcos e bois são grandes produtores de gases do efeito estufa, como o CO2 e metano. Pelo menos 20% de toda a carga de gases estufa são produzidos por rebanhos, segundo dados da FAO, a organização de comida e agricultura da ONU.
O blog ScienceNow da revista Science, da Associação Americana pelo Progresso da Ciência, acaba de divulgar um estudo que promete atenuar ambos os problemas: dar mais comida à humanidade e diminuir o efeito estufa. Como? Substituindo a alimentação tradicional do mundo moderno por um cardápio que vem sendo saboreado há milhares de anos por povos primitivos. Comendo insetos, por mais nojento que isso possa parecer.

 - Receita de Farofa de Tanajura 

Dennis Oonincx, entomologista da Universidade de Wageningen University, na Holanda, contabilizou que insetos ganham peso protéico mais rápido e eficientemente que os mamíferos e também emitem muito menos gases estufa. O vermes de farinha, que viram pequenos besouros, por exemplo, produzem apenas 1% do valor emitido em gases estufas para igual quantidade de proteínas, exaladas por bovinos. O estudo, publicado na edição de 29 de dezembro da PLos ONE, destaca também o valor do grilos, os quais, segundo Onnincx, além de saborosos são naturalmente crocantes. A ideia, se aceita, pode ganhar popularidade. Na semana passada um repórter do New York Times produziu um vídeo em cidades do interior do Brasil que deliciam farofa de tanajura, uma iguaria que faz parte do cardápio indígena há seculos.



Flávio de Carvalho Serpa, jornalista, especial para o Nota de Rodapé

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Catadão destaca rede social para frilas e entrevista de Angeli

O Nota de Rodapé recomeçou 2011. Como havia comentado na última postagem de 2010 vou tentar – com a ajuda de vocês – fazer um catadão de coisas que pesco na rede. De livros, filmes, vídeos, shows, palestras, lançamentos. Tudo que possa causar algum interesse do nosso leitor. Para facilitar, farei as indicações em textos curtíssimos e logo darei o canal de acesso (o velho e bom "para saber mais"). Para dicas e sugestões, muito necessárias, contato@notaderodape.com.br

Rede Social para frilas
: a rede social SuperTau agrega profissionais interessados em comprar e vender serviços. Você pode divulgar seus conhecimentos, dizer qual sua pretensão salarial e informa sua agenda de trabalho.

Banca virtual: o site Kiosko.net (que uso muito) é boa ferramenta para ter acesso as capas dos jornais do mundo todo. Com boa visualização, bem organizado, você não precisar entrar no site do periódico em questão.

3 mil livros: o acervo da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin da USP já permite o download de obras e documentos raros e históricos que foram digitalizados como, por exemplo, um dicionário da lingua brasileira de 1832 de Luiz Maria da Silva Pinto ou as obras completas de Vinícius de Moraes.

Infográfico: A Agência Brasil fez um infográfico interativo (em flash) interessante que mostra quem é quem no ministério da presidenta Dilma de acordo com planta da esplanada em Brasília.

Antologia de reportagens: O melhor do jornalismo da América Latina, antologia com 26 grandes reportagens de 11 países publicada pela Fundación Nuevo Periodismo Iberoamericano (FNPI), sediada na Colômbia criada pelo ganhador do Prêmio Nobel de Literatura Gabriel García Márquez. O livro tem 686 páginas, custa o equivalente a US$ 25 (ou R$ 45) e pode ser adquirido no site http://www.libreriasdelfondo.com

Angeli em entrevista divertidíssima:

Um leilão imoral no futebol

Hoje vou falar de futebol, assunto para o qual não me sinto vocacionado, apesar de gostar muito do esporte, tendo sido um emérito jogador de ‘peladas’ quando mais jovem.
Começo por dizer que, apesar de meu time de infância ser o América de Minas Gerais, pois nasci em Belo Horizonte, tornei-me um palmeirense apaixonado desde o ano de 1951 quando o verdão, disputando um octogonal internacional, vingou a derrota da seleção no mundial do ano anterior em pleno Maracanã.
Mal sabia eu que me tornaria um paulistano por adoção e que viria acompanhar o Palmeiras em gloriosas jornadas no Parque Antártica, no Pacaembu e no Morumbi.
O Palmeiras de Jair da Rosa Pinto, de Julinho, de Humberto, Mazzola, Vavá, Djalma Santos, Dudu, Ademir da Guia, Leivinha, Luiz Pereira, Pedrinho, Leão, Jorge Mendonça, Cesar Maluco, Roberto Carlos, Marcos, Evair e tantos e tantos outros craques que, além de bons de bola – como outros companheiros de outros clubes – se tornaram exemplos dentro e fora dos gramados. Arrisco, inclusive, dizer que qualquer um deles é tão bom ou melhor que os Ronaldos que apareceram nos últimos anos.
Não cabe na cabeça de ninguém que um time brasileiro faça propostas de pagar um milhão e trezentos mil reais por mês para um jogador de futebol que, além de não mostrar mais qualidade para isso, carrega a incômoda marca de ser um jogador de noitadas e farras na Europa. Para quê?
Um clube tradicional como o Palmeiras não precisa cometer essa loucura em nome de uma modernidade chamada ‘plano de marketing’. Ou para apagar a mediocridade das últimas campanhas, como a vergonhosa derrota para o Goiás no final do ano passado.
Nem mesmo o Grêmio, o Flamengo ou o Corinthians, pela história que têm no futebol brasileiro, deveriam participar desse que já se torna um leilão imoral, onde a mídia esportiva – na falta de coisa melhor para fazer – alimenta o noticiário fantasioso e irresponsável.
Confesso que sinto um grande desconforto por ver o meu Palmeiras participando dessa pantomima para repatriar um jogador que não faz por merecer a fama no momento, nem dentro do campo, nem fora dele.
Um milhão e trezentos mil reais por mês para o Ronaldinho Gaúcho?
Só rindo... Sai dessa verdão.

Izaías Almada é escritor, dramaturgo, colunista do NR e do Escrevinhador, além de torcedor do Palmeiras

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Atibaia: livres do amianto, confinados pelo abandono

Reportagem do Nota de Rodapé volta ao local onde pessoas foram desalojadas por enchentes e colocadas em alojamentos que, inicialmente, estavam cobertos com substância proibida. Sofrimento das famílias continua com o descaso do poder público
por Moriti Neto

29 de dezembro de 2010. Oito meses depois, novamente Atibaia. Bairro de Caetetuba. Mais exatamente, no popular Campo do Santa Clara. Fim de tarde, horário de verão, calor. Garotas e garotos jogam futebol e empinam pipas no chão de terra batida. Muita gente chega do trabalho e entra em um alojamento composto por quatro blocos de oito pequenos abrigos cada, onde sobrevivem 32 famílias. É nesse ambiente que reencontro vítimas das enchentes que inundaram a cidade entre dezembro de 2009 e janeiro de 2010 e desabrigaram quase 4 mil habitantes.
Em meio às crianças que brincam, noto semblantes cansados, já sofridos apesar da pouca idade. Tento não dispersar a atenção. Lembro do motivo de estar ali: conversar com pessoas que, além de terem perdido as casas nos alagamentos, foram colocadas por meses em contêineres e depois instaladas em abrigos de madeirite – em tese, provisórios – que, por pouco, não terminaram cobertos com telhas de amianto, substância proibida no estado de São Paulo e em dezenas de países.
Aproximo-me de uma jovem. O nome é Jéssica. A moça carrega o filho no colo e se dirige ao alojamento, mas atende solícita quando aceno. Inicio a conversa e pergunto se há previsão para que as famílias saiam do abrigo de madeirite e sejam encaminhadas para conjuntos habitacionais prometidos pelo poder público. A resposta é rápida: “não sei de prazo, não. Ninguém confirma data”.
Jéssica mora com outras 11 pessoas. O espaço é mínimo. Resumindo, pode-se descrever como um quarto de cerca de 5 metros quadrados e banheiro para 12 pessoas. “Tem lugar com mais, moço. Tem até com quinze”, explica a moradora.
O número de moradores em espaço tão reduzido e as condições estruturais precárias já seriam suficientes para causar grande mal-estar. Contudo, a sensação de desconforto aumenta quando Jéssica conta sobre o auxilio moradia de 300 reais que deveria receber por meio do cartão do Programa Novo Começo, fornecido pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU). “Recebi o cartão. Outras pessoas também receberam, mas nunca conseguimos sacar um tostão, nunca teve saldo”, desabafa.
Hora de falar com mais pessoas. Não precisa muito e cruzo com homens e mulheres, jovens e idosos. Busco referência, um rosto conhecido, alguém com quem eu tenha conversado no primeiro semestre. Um rapaz diz: “Lembro de você. Conversou com a minha mãe”.

Dona Cida
Começa o percurso por dentro de um dos blocos do alojamento. Ao lado do rapaz, rumo até a porta de um dos minúsculos abrigos e reconheço Dona Cida. Ela sorri e me abraça. “Você voltou”, murmura ao pé do ouvido. Mesmo com a filha de 15 anos grávida, hospitalizada com o objetivo de evitar um parto precoce, Dona Cida é atenciosa. Faz o convite para conhecer a pequena moradia. São seis pessoas residindo ali: ela e cinco filhos. “Seremos sete quando nascer o meu neto”.
Dona Cida em sua casa de madeirite espera um socorro
efetivo do poder público. Prefeitura diz que obras estão
em andamento (Foto: Moriti Neto/NR)
Separada do marido há tempos, Dona Cida tem mais um filho. “É o mais velho, tem 22. Era vendedor de loja fazia cinco anos, estava bem, mas se meteu com drogas e foi preso”, revela.
Passo a observar melhor aqueles parcos metros de moradia. Os móveis de sala, cozinha e quarto se misturam, muitas coisas estão empilhadas em prateleiras. A cobertura é feita por telhas finas, “cascas de ovo” como chama Dona Cida. O lugar é quente e a segurança mínima. “Fiz uma proteção, uma cercazinha de madeira, peguei algumas tábuas e montei. Tenho medo pelos meus filhos. Traficantes e policiais circulam aqui o dia todo e vi arma engatilhada perto de criança”, observa a moradora.
Falta de acesso à informação é algo comum entre os moradores do alojamento. Poucos sabem dos prazos que a prefeitura estabeleceu para que saiam do abrigo improvisado. Há quem afirme que foi falado em dois anos após as enchentes para que fossem transferidos em definitivo a um local destinado à construção de moradias. “Seriam casas populares, mas, até agora, nem mexeram no terreno”, comenta Dona Cida, indicando um detalhe curioso: “o cartão das pessoas que deveriam receber o auxílio moradia é válido até 2015. Se falaram em dois anos, porque até 2015?”.
Voltando ao auxílio moradia, as duas entrevistadas confirmaram problemas. Nenhuma conseguiu retirar os 300 reais do benefício previsto. Jéssica, por não haver saldo nas contas. Dona Cida, porque nem sequer recebeu o cartão.
Medida emergencial, a construção do alojamento num campo de futebol traz registros de água e luz, respectivamente instalados pelas empresas Saneamento Ambiental Atibaia (SAAE) e Elektro. Ambos prontos a calcular o consumo das famílias mesmo em meio à precariedade. O valor é cobrado com base em tarifas comerciais, medidos pela área em que está situado o terreno. “Na última conta de luz, me cobraram 138 reais e de água 130 reais. Recebo um salário mínimo de 510 reais como catadora de uma cooperativa de reciclagem de lixo. Ganho cestas básicas, não vou negar, mas é tudo doação de Igreja, não vem nada da prefeitura. O poder público nos jogou aqui e abandonou”, afirma Dona Cida, mostrando as contas que comprovam as quantias.

Releia também:

Explicações da prefeitura
A prefeitura de Atibaia, em resposta ao Nota de Rodapé, fala sobre os prazos da construção de moradias, mas, confirmando o que dizem os moradores, não há precisão na data. “As famílias irão para os primeiros prédios que ficarem prontos. Ou no bairro Caetetuba II, cujas obras já tiveram início, ou no Programa Minha Casa Minha Vida, no bairro Jardim Colonial”.
Quanto aos altos valores das contas de água e luz, a administração municipal afirma que “houve, por parte da Elektro, classificação errada de 10 alojamentos como comerciais. Os outros 22 estão corretos como residenciais e serão classificados ainda como tarifa social. A Elektro se comprometeu a reclassificar esses 10 alojamentos, principalmente os do Bloco 3, e fazer novo cálculo como se fossem residenciais”. Sobre a cobrança da água, não houve esclarecimento.
A respeito do auxílio moradia, a prefeitura justifica que “apesar de todos receberem o cartão do Programa Novo Começo da CDHU, no início os pagamentos foram feitos em cheques, pois havia muitos problemas com CPF a regularizar. Todos receberam mil reais e três parcelas do Auxilio Moradia Emergencial em cheque, para ver se conseguiam alugar uma casa. Como não conseguiram, a partir da quarta parcela, a CDHU suspendeu o pagamento para quem estava no alojamento público, como determina a lei”, informou a prefeitura.

Ano novo, velhos problemas
Começo de 2011 e, de novo, Atibaia não é notícia boa. Até às 22h desta quarta-feira,  5 de janeiro, repetindo roteiro semelhante ao do ano passado, aproximadamente 450 casas foram afetadas por inundações. Todos os bairros da cidade atingidos entre 2009 e 2010, num total de 11, registram alagamentos.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

A quem interessa garfar 25% dos leitos do SUS?

Dezembro é mês de pé no freio. É também período em que notícias de interesse público caem no limbo. É o caso da aprovação do Projeto de Lei Complementar 45/2010, por 55 votos a favor e 18 contra, que reserva 25% dos leitos do Sistema Único de Saúde para Planos de Saúde privados. A aprovação se deu na noite do dia 21, uma terça-feira, na Assembleia Legislativa de São Paulo. Apresentada em regime de urgência pelo Governador Goldman, a mesma proposta foi vetada por José Serra no final de 2009. Estranho? Segundo o texto do PLC aprovado, a definição das unidades que poderão ofertar serviços a pacientes particulares ou usuários de planos de saúde privados e outras questões operacionais será realizada pela Secretaria Estadual da Saúde. Na mensagem que encaminhou o projeto, o Executivo argumentou que hospitais como o do Câncer, Dante Pazzanezze, e Instituto do Coração, que realizam atendimentos de ponta, poderão receber pacientes da rede privada, sendo ressarcidos por seus gastos. Pergunto: mas já não existe a Lei 9058/1994 trata sobre o reembolso de valores correspondentes a seguro-saúde de beneficiários atendidos gratuitamente na rede pública. Não seria o caso de cumprir a lei que já existe?

Saiba mais:

Esse montande de leitos será reservado aos hospitais públicos de alta complexidade gerenciados por Organizações Sociais de Saúde (OSs). "Tendo em vista que cerca de 40% da população do Estado possui planos e convênios privados de saúde e que essa parcela se utiliza rotineiramente do atendimento destas unidades estaduais especializadas e de alta complexidade, não é adequado que as unidades respectivas não possam realizar a devida cobrança do plano ou do seguro privado que esses pacientes detêm", justificou o governador. Os deputados que votaram a favor da proposta (veja aqui a LISTA dos nomes) poderiam responder, então, o desabafo enviado ao NR por um médico que vive o dia a dia do SUS e dos Planos de Saúde que prefere não se identificar. “Na prática isso não dará certo. Leitos são unidades altamente dinâmicas, mudam a cada hora, a cada dia, e não dá prá dizer que a quantidade de doentes necessitados de leitos se enquadrarão exatamente nos 25% previstos na PLC. Mais uma vez interesses econômicos sobrepostos aos interesses pela saúde. E o trabalho médico fica extremamente limitado por medidas como essa. A partir do momento que isso começa a valer, o médico é cobrado pela instituição em que trabalha a não contrariar essa regra. Ou seja, se eu tenho 15 leitos para SUS e 05 para convênios, mas tenho 17 pacientes precisando de leitos de SUS, a lógica é simples: - Dr, vc vai ter que escolher, ou dá alta prá 02 do SUS que já estão "mais ou menos" ou se vira com esses 02 doentes! Aí, o médico põe o dele na reta e, caso um desses pacientes necessitados de leitos morra ou tenha complicações pela falta do leito, ou por uma alta precoce e "forçada" de alguém que deveria ter mais alguns dias de internação, a culpa não é da lei, do governo, da prefeitura ou do diretor do hospital, mas do médico que carimbou essa alta ou negou esse leito. Aí vem o Datena e fode com tudo de vez... É isso o que vejo, na prática, acontecendo.” 
O texto, promulgado no dia 27 de dezembro, diz. "O contrato de gestão deverá assegurar tratamento igualitário entre os usuários do Sistema SUS e do IAMSPE e os pacientes particulares ou usuários de planos de saúde privados." Mas quem regulará? Quem vai garantir que não teremos duas filas? Neste tema, caros deputados favoráveis e governador, muitas perguntas estão sem a devida resposta.

Thiago Domenici, jornalista

Retrato do Brasil de janeiro + Promoção de exemplares

A revista mensal Retrato do Brasil traz, neste mês de janeiro, reportagens sobre segurança pública, ciência, política nacional e internacional, condições de vida, economia e cultura. O Ponto de Vista trata dos recentes acontecimentos na segurança pública do Rio de Janeiro. O artigo, seguido de uma reportagem in loco durante a ocupação no Morro do Alemão – onde todos os moradores se tornaram suspeitos – pergunta: como deve ser avaliada a operação realizada na capital fluminense e a quem interessa a ênfase militarista desencadeada a partir dela?
A capa da edição de Janeiro, ed. 43
Rafael Hernandes, repórter de economia, escreve sobre um tema espinhoso e pouco claro para a maioria de nós: o câmbio. Sabe-se que ele é um problema para a indústria instalada no País, com isso todos concordam. Mas há quem veja algo muito mais grave em curso: uma desindustrialização. Em outro texto, Enigma de Mulher, ilustrado por Caco Bressane, os pesquisadores querem saber porque as mulheres são cada vez mais apontadas como “chefes” de suas famílias.
Em Cidade Tiradentes, São Paulo, mutirões são alternativas aos projetos de habitação tradicionais, que não levam na devida conta o morador. De internacional, dois textos. O primeiro trata da briga de vizinho entre Costa Rica e Nicarágua. E o segundo, fala da sublevação na Ásia, região em que Japão e Coreia do Sul apoiam os EUA no cerco militar que tenta conter a ascensão chinesa.
Em Ciência, para além da ficção, nada impede a existência de mundos paralelos do tipo mostrado no seriado Fringe. Neste universo, por exemplo, você está lendo este texto. Em outro, pode nem estar vivo. Leandro Saraiva, editor de cultura, faz uma entrevista exclusiva com o sociólogo e escritor Luiz Eduardo Soares que fala sobre literatura, política e segurança pública. Finalizando a edição, o ótimo texto de Tárik de Souza sobre Itamar Assumpção: rememorado em Caixa Preta, que traz sua discografia completa e mais dois CDs inéditos.

Promoção Retrato do Brasil e Nota de Rodapé
Via Twitter, iremos sortear 10 exemplares da revista de janeiro. Basta retuitar:

#Promoção. Siga @notaderodape dê RT e concorra a exemplares da revista Retrato do Brasil de janeiro:http://kingo.to/q2b

O sorteio será dia 16 de janeiro, um domingo.
Boa sorte e boa leitura!

DataNR: Wikileaks faz bom trabalho e mídia precisa de regulação?

Em dezembro o DataNR realizou duas enquetes. Uma perguntava se a mídia brasileira precisa de regulação e a outra se o WikiLeaks de Julian Assange faz ou não um bom trabalho. Abaixo, os resultados nos gráficos. Nas duas enquetes totalizamos 96 votos.



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