Epitáfios é de grudar no sofá
Recentemente tive a alegria de redescobrir o ato de assistir tevê. Falo da produção argentina Epitáfios, em exibição na HBO. Sabemos que encontrar algo que entusiasme é raro, e não incluo o fato de ir ao cinema ou alugar um filme. Me refiro a uma programação capaz de fazer grudar no sofá a ponto de não marcar nada no horário.
Foi uma questão passional, nada aleatória, apaixonada que sou por Cecília Roth, apresentada por Almodóvar em Tudo Sobre Minha Mãe que me fez chegar a série. Uma coisa levou a outra, surpreendeu-me, já que nunca fui grande fã de tramas investigativas do tipo CSI ou as do gênero.
Epitáfios é um show de roteiro, onde mocinhos e mocinhas morrem sim! Histórias com viradas sensacionais que nos pega de jeito com direito a mão na boca, paralisia e surpresa adrenalizada.
A primeira temporada rodada em 2004 fez grande sucesso, com direito a lançamento em DVD nos EUA. Mas, só em 2008 veio a segunda temporada. Tempo de espera que valeu a pena.
O brilhante trabalho dos roteiristas e irmãos Marcelo e Walter Slavich - com fotografia e maquiagem magníficas - dá a cada um dos 13 episódios a certeza de que é inviável passar despercebido por uma produção de tão alto nível sem elogiá-la.
Sem freios
Epitáfios se cria da rotina de dois policiais com vidas pessoais arrasadas; conflitos afetivos e familiares que os ligam de alguma maneira ao assassino que buscam sem freios. Convivendo com seus dramas e fantasmas do passado a série se desnuda de forma nada previsível, sem compaixão com os protagonistas.
O pontapé inicial da segunda temporada nos traz as consequências do que o psicopata do primeiro ano provocou. Dois lances: enterrada viva, o policial Renzo perde a mulher que ama e passa a viver solitário num apartamento frio e escuro. Abandonada quando criança, Marina Segall (Cecilia Roth) mata a própria mãe incitada pelo psicopata; vingança pelo suicídio do pai, abandonado pela mãe.
Nova caçada
Os dois policiais agora se reencontram para nova caçada. Atormentado pelo passado, o psicopata (Leonardo Sbaraglia de Plata Quemada) esquizofrênico de dupla personalidade recria grandes assassinatos e os fotografa como uma obra de arte.
A origem pessoal que esses assassinatos incorporam a sua vida transformam-se numa trama complexa, que se abre a cada capítulo, e nos deixa num debate interno: “o que vai acontecer a seguir?”
A atuação de Leonardo Sbaraglia é das melhores de sua carreira, porque nos causam reações instantâneas de raiva, aflição e principalmente dó diante das cenas em que sente culpa pelo que faz, atormentado, agindo como criança insegura.
Sangue novo
Com Mariano Lagos (Juan Minujín), também da Divisão de Homicídios, que contrapõe o jeito agressivo de trabalhar de Renzo Marques a trama ganha novo fôlego. Lagos é o lado sensível, o policial modelo com olfato extremamente desenvolvido a ponto de distinguir mistura de odores e ligar isso ao tempo, espaço e forma de execução.
O personagem XL é o único sobrevivente dos ataques do assassino, mas que ficou perturbado após escapar ao ser enterrado vivo. Com o dom mediúnico de ‘adivinhar’ nomes de vítimas antes que sejam assassinadas, XL é um trunfo para o departamento de homicídios.
A história, novamente fechará o cerco das vidas pessoais de Renzo e Marina, os traumas de ambos que ainda não cicatrizaram e Mariana que se descobre um irmão que deseja vingar nela a morte da mãe.
Fio da meada
As mortes possuem sempre uma ligação com a versão original dos crimes. Cada pessoa é escolhida a dedo pelo assassino - relação que vai de testemunhas, médicos legistas até polícias que participaram das investigações dos antigos crimes. O assassino é próximo e observa tudo da mesma lente da câmera fotográfica que outrora fotografou os crimes originais.
O trio Marina Segall, Renzo Marquéz e Mariano Lagos nos dão bons momentos de diversão porque são distintos e peculiares. E Epitáfios não é só mais uma série pesada e densa. Ao contrario, grande parte do humor que alivia a tensão da série é provocado pelo perfil mau humorado e prático de Renzo Marquéz, que nos arranca boas risadas e o identifica com gente do nosso dia a dia.
Tá na mão: site onde você pode baixar os episódios de graça; Portal oficial da série com imagens e informações complementares.
Fabiana Cardoso é jornalista e produtora
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Ofensas e a falta de identificação do leitor serão excluídos.