“Decidi parar com a carreira mundanolitteraria” me escreveu o amigo e poeta Glauco Mattoso. “Outra hora lhe explico os motivos. Mas ainda permaneço na revista Caros Amigos como ultimo logar onde estarei collaborando. Quando encerrar la, encerro tudo. O resto ja cancellei ou estou cancellando. Mas do resto estou farto”, revelou o poeta, considerado marginal e maldito, sobre a vontade de parar em 2010.
Na troca de e-mail, gentilmente, Mattoso enviou um soneto para este blogue Rodapé, intitulado Soneto sobre uma Sahida Honrosa, juntamente com uma breve declaração, abaixo.
“Factos negativos levaram Mattoso a antecipar a aposentadoria litteraria planejada para 2011, quando o poeta completa 60 annos, razão pela qual não se apresenta mais em publico e só mantem as columnas que assigna na midia impressa ou virtual emquanto não o dispensarem de taes compromissos. Seus ineditos, porem, continuarão a sahir pelos sellos independentes da Annablume ou de outra editora”
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SONETO SOBRE UMA SAHIDA HONROSA
[Glauco Mattoso]
Tentei diversas vezes, mas prometto
agora a serio, mesmo, e a mim apenas:
vou logo aposentar-me, e nas pequenas
coisinhas rotineiras, só, me metto.
Em publico, mais nada. Algum soneto,
talvez, ja não milhares ou centenas.
Desistam os que esperam ver-me em scenas
pornôs de novo, em cor ou branco e preto.
Completo meus sessenta em vinte e nove
de junho, onze passados dos dois mil,
e encerro. Ninguem disso me demove.
Columnas, só as mantenho emquanto o vil
metal não me offerecem. Si não chove
dinheiro, é que ao poder não fui servil.
Numa entrevista para o blogueiro Alexandre Pilati, quando perguntado se a poesia marginal continua marginal, ou virou mercadoria de ocasião na feira poética do cotidiano, respondeu: “Toda poesia é marginal e sempre estará à margem do consumo e dos costumes. Mas os poetas é que pensam que deixam de ser marginais só porque são um pouquinho mais consumidos. Já eu prefiro ser um malditão consumado ao invés de consumido.”
Glauco Mattoso é poeta, ficcionista, ensaísta e articulista em diversas mídias. Pseudônimo de Pedro José Ferreira da Silva (paulistano de 1951), o nome artístico trocadilha com "glaucomatoso" (portador de glaucoma, doença congênita que lhe acarretou perda progressiva da visão, até a cegueira total em 1995), além de aludir a Gregório de Matos, de quem é herdeiro na sátira política e na crítica de costumes. Saiba mais sobre Glauco em seu site.
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