Então vamos ao princípio. Goste ou não, você já viu um, já riu ou chorou de um palhaço. Isso porque este ser existe desde que a humanidade existe e em todos os períodos, tribos e culturas. Pois sim, não foi o circo quem deu vida ao palhaço, talvez o contrário até. A verdade é que a figura como a conhecemos hoje nasceu naquele mundinho das zilhões de possibilidades: a idiotice humana. Como dizia Aristóteles “o homem é o único animal que ri”. E ri porque pensa. Claro, também, porque é bobo. E é da necessidade básica de sorrir, amenizar a tristeza, a tensão, que vivem inúmeros palhaços espalhados por aí. Sem nariz vermelho, maquiagem ou roupas coloridas, ele é aquele que faz rir. Talvez você seja um e nem se deu conta.
Li em O Elogio da Bobagem - palhaços no Brasil e no mundo, livro de Alice Viveiros de Castro o seguinte:
“Imagino que o primeiro palhaço surgiu numa noite qualquer em uma indefinida caverna enquanto nossos antepassados terminavam um lauto banquete junto ao fogo (...). Comentavam da caçada que agora era jantar e falavam das artimanhas usadas, dos truques e da valentia de cada um. É quando um deles começa a imitar os amigos e exagera na atitude do valentão que se faz grande, temerário e risível na sua ânsia de sobrepujar a todos. E logo passa a representar as momices do covarde, seus cuidados para se esquivar do combate, sempre exagerando os gestos, abusando das caretas, apontando tão absurdamente as intenções por trás de cada ação e o ridículo delas que o riso se instala naquela assembleia de trogloditas. E todos descobrem o prazer de rir entre companheiros, de rir de si ao rir dos outros...”.A comprida transcrição é apenas para ilustrar o quase consenso entre os entendidos no assunto sobre as origens do palhaço. É claro que ao longo dos tempos ele ganhou diversos nomes, formatos e até significados, foi ao picadeiro, ao teatro, fez filme e entrou até no hospital.
Participou dos rituais sagrados, com o objetivo de ridicularizar o medo da morte. Em diferentes culturas existiram mascarados que faziam danças exageradas que provocavam espanto e riso.
Só para encurtar a história por hoje – que como já viram é loooooga – descrevo alguns exemplos clássicos que comprovam sua passagem e sobrevivência pela história da humanidade.
- No Egito, por exemplo, os faraós tinham sempre um bufão a seu lado – geralmente um homem muito inteligente – que conseguia dizer as verdades mais incômodas e até mesmo ridicularizar o próprio faraó, sem que este se ofendesse.E é só o começo. No Brasil, por exemplo, tudo começou com um tal de Diogo Dias, cômico trazido por Cabral que, segundo carta de Pero Vaz Caminha resolveu tomar a mão dos índios, em um domingo de Páscoa, e dançar com eles. Mas isso rende mais um texto de Rodapé. Para quem quiser saber mais detalhes, O Elogio da Bobagem é um dos livros mais completos que já vi sobre o assunto. E aqui vai um vídeo de um dos maiores palhaços do mundo, o suíço Grock.
- Foi da China que veio o atrapalhado Macaco da ópera chinesa, que existe até hoje. E lá também os imperadores tinham bufões para alegrar seus palácios, tal qual os egípcios.
- O Vidusaka surge no teatro indiano. É um nanico, dentuço, de olhos vermelhos, comilão, bêbado e tolo. Diz O Elogio da Bobagem que ele traduzia as cenas interpretadas em sânscrito – língua dos deuses e reis – para que as mulheres e classes inferiores pudessem compreender.
- Na Grécia antiga “os que fazem rir” eram chamados de gelotopoioi e os parasitas (que na época não tinham o significado pejorativo que conhecemos), que alegravam festas e banquetes.
- Em Roma, todos os nobres mantinham uma trupe de palhaços anões, para trazer sorte. A deformidade era também, claro, ridicularizada. Naquela sociedade que dava tanta importância à aparência, os feios e as chamadas aberrações conseguiam tirar de sua deformidade, o próprio sustento. Havia também o stupidus, palhaço especializado em imitações, trocadilhos e em dizer barbaridades.
Mariana Santos ou Maritaca Gansos é jornalista e palhaça, nessa ordem. Estreia hoje a coluna Repórter Clown no Nota de Rodapé.
5 comentários:
tema muito interessante! que seja bem-vinda!
amo a mari.. minha amigona, óia ficando importante, escrevendo coluna e tudo... parabéns amiga ótimo tema muito, bom mesmo, afinal viver é uma palhaçada...kkkkk
Caríssima Maritaca Gansos,
Sua identidade clown foi a escolha perfeita, e condiz muito com sua personalidade (brincadeira...), além de demonstrar o que todos nós, jornalistas, deveríamos ser; "maritacas" contra as injustiças do mundo.
Gostei muito do seu texto, interessantíssimo, imagino o que vem por aí...parabéns!
Por favor,parabenize também seu amigo pela ideia de dividir o blog em várias colunas (não havia visto isso antes) e também por publicar o maravilhoso texto de Fernando Evangelista, "Para que serve o Jornalismo?". Ah, como gostaria de ter ouvido algo semelhante na minha colação...mas cada um dá o que tem...infelizmente.
Pensei que só eu sonhava em ser palhaça...
Parabens pela iniciativa e adorei o texto. Muito bom.
=)
Mari Mari
Parabéns pelo texto! Impressionante ver como a sua temática e desenvolvimento estão cada dia melhor! Mas, aí vai uma critica, o histórico está ótimo, mas nos dias atuais faltou falar de como os palhaços da antiguidade, hoje se tornaram trabalhadores do dia a dia que se não são os deformados da roma antiga, somos os ridicularizados da política de hoje!!!
Mais uma vez parabéns de um amigo de mais de uma década!!!
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