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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

segunda-feira, 1 de março de 2010

Estreia Repórter Clown: nasce um palhaço

Estreia-desafio. A ideia aqui é contar um pouco sobre os bastidores do mundo clown contando as histórias que acontecem nos lugares por onde o palhaço transita, entre esses lugares, o hospital. Nesse espaço devo também indicar filmes, leituras, cursos e espetáculos para quem quiser ir mais longe. Repórter Clown nasce quase acidentalmente de uma dessas coincidências fantásticas da vida: uma jornalista que decide ser palhaça. E daí que jornalistas gostam de contar coisas. E palhaços têm muita história para contar. Portanto, em muitos momentos poderei ser entrevistadora de mim mesma. Confuso, não? Mas também pretendo trazer para cá entrevistas com figuras interessantes do mundo clown, curiosidades e novidades de natureza boba e inútil.
Então vamos ao princípio. Goste ou não, você já viu um, já riu ou chorou de um palhaço. Isso porque este ser existe desde que a humanidade existe e em todos os períodos, tribos e culturas. Pois sim, não foi o circo quem deu vida ao palhaço, talvez o contrário até. A verdade é que a figura como a conhecemos hoje nasceu naquele mundinho das zilhões de possibilidades: a idiotice humana. Como dizia Aristóteles “o homem é o único animal que ri”. E ri porque pensa. Claro, também, porque é bobo. E é da necessidade básica de sorrir, amenizar a tristeza, a tensão, que vivem inúmeros palhaços espalhados por aí. Sem nariz vermelho, maquiagem ou roupas coloridas, ele é aquele que faz rir. Talvez você seja um e nem se deu conta.
Li em O Elogio da Bobagem - palhaços no Brasil e no mundo, livro de Alice Viveiros de Castro o seguinte:
“Imagino que o primeiro palhaço surgiu numa noite qualquer em uma indefinida caverna enquanto nossos antepassados terminavam um lauto banquete junto ao fogo (...). Comentavam da caçada que agora era jantar e falavam das artimanhas usadas, dos truques e da valentia de cada um. É quando um deles começa a imitar os amigos e exagera na atitude do valentão que se faz grande, temerário e risível na sua ânsia de sobrepujar a todos. E logo passa a representar as momices do covarde, seus cuidados para se esquivar do combate, sempre exagerando os gestos, abusando das caretas, apontando tão absurdamente as intenções por trás de cada ação e o ridículo delas que o riso se instala naquela assembleia de trogloditas. E todos descobrem o prazer de rir entre companheiros, de rir de si ao rir dos outros...”.
A comprida transcrição é apenas para ilustrar o quase consenso entre os entendidos no assunto sobre as origens do palhaço. É claro que ao longo dos tempos ele ganhou diversos nomes, formatos e até significados, foi ao picadeiro, ao teatro, fez filme e entrou até no hospital.
Participou dos rituais sagrados, com o objetivo de ridicularizar o medo da morte. Em diferentes culturas existiram mascarados que faziam danças exageradas que provocavam espanto e riso.
Só para encurtar a história por hoje – que como já viram é loooooga – descrevo alguns exemplos clássicos que comprovam sua passagem e sobrevivência pela história da humanidade.
- No Egito, por exemplo, os faraós tinham sempre um bufão a seu lado – geralmente um homem muito inteligente – que conseguia dizer as verdades mais incômodas e até mesmo ridicularizar o próprio faraó, sem que este se ofendesse.

- Foi da China que veio o atrapalhado Macaco da ópera chinesa, que existe até hoje. E lá também os imperadores tinham bufões para alegrar seus palácios, tal qual os egípcios.

- O Vidusaka surge no teatro indiano. É um nanico, dentuço, de olhos vermelhos, comilão, bêbado e tolo. Diz O Elogio da Bobagem que ele traduzia as cenas interpretadas em sânscrito – língua dos deuses e reis – para que as mulheres e classes inferiores pudessem compreender.

- Na Grécia antiga “os que fazem rir” eram chamados de gelotopoioi e os parasitas (que na época não tinham o significado pejorativo que conhecemos), que alegravam festas e banquetes.

- Em Roma, todos os nobres mantinham uma trupe de palhaços anões, para trazer sorte. A deformidade era também, claro, ridicularizada. Naquela sociedade que dava tanta importância à aparência, os feios e as chamadas aberrações conseguiam tirar de sua deformidade, o próprio sustento. Havia também o stupidus, palhaço especializado em imitações, trocadilhos e em dizer barbaridades.
E é só o começo. No Brasil, por exemplo, tudo começou com um tal de Diogo Dias, cômico trazido por Cabral que, segundo carta de Pero Vaz Caminha resolveu tomar a mão dos índios, em um domingo de Páscoa, e dançar com eles. Mas isso rende mais um texto de Rodapé. Para quem quiser saber mais detalhes, O Elogio da Bobagem é um dos livros mais completos que já vi sobre o assunto. E aqui vai um vídeo de um dos maiores palhaços do mundo, o suíço Grock.



Mariana Santos ou Maritaca Gansos é jornalista e palhaça, nessa ordem. Estreia hoje a coluna Repórter Clown no Nota de Rodapé.

5 comentários:

Diogo Ruic disse...

tema muito interessante! que seja bem-vinda!

Juliana... Jesus é o Caminho disse...

amo a mari.. minha amigona, óia ficando importante, escrevendo coluna e tudo... parabéns amiga ótimo tema muito, bom mesmo, afinal viver é uma palhaçada...kkkkk

Hevlyn disse...

Caríssima Maritaca Gansos,

Sua identidade clown foi a escolha perfeita, e condiz muito com sua personalidade (brincadeira...), além de demonstrar o que todos nós, jornalistas, deveríamos ser; "maritacas" contra as injustiças do mundo.

Gostei muito do seu texto, interessantíssimo, imagino o que vem por aí...parabéns!
Por favor,parabenize também seu amigo pela ideia de dividir o blog em várias colunas (não havia visto isso antes) e também por publicar o maravilhoso texto de Fernando Evangelista, "Para que serve o Jornalismo?". Ah, como gostaria de ter ouvido algo semelhante na minha colação...mas cada um dá o que tem...infelizmente.

Anônimo disse...

Pensei que só eu sonhava em ser palhaça...
Parabens pela iniciativa e adorei o texto. Muito bom.

=)

Unknown disse...

Mari Mari

Parabéns pelo texto! Impressionante ver como a sua temática e desenvolvimento estão cada dia melhor! Mas, aí vai uma critica, o histórico está ótimo, mas nos dias atuais faltou falar de como os palhaços da antiguidade, hoje se tornaram trabalhadores do dia a dia que se não são os deformados da roma antiga, somos os ridicularizados da política de hoje!!!

Mais uma vez parabéns de um amigo de mais de uma década!!!

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