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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Uma revista de reportagem porreta e pouco conhecida. E melhor, é de graça

Do blogue do amigo Dauro Veras (DVeras em Rede) reproduzo um texto que merece ser compartilhado por uma única razão: faz jornalismo dos bons com profissionais que respeitam a profissão. Se não conhecem, aproveitem, a revista do Observatório Social é desconhecida mas faz barulho com suas reportagens investigativas. Já ganhou vários prêmios com denúncias sobre abusos aos direitos humanos. Parabéns ao Dauro e toda a equipe!

"Saiu do forno a edição 16 da Revista Observatório Social. Ela é editada pelo Instituto Observatório Social, organização vinculada à CUT que desenvolve pesquisas sobre globalização e direitos dos trabalhadores. Tenho a honra de participar dessa publicação desde o primeiro número, em 2002, fazendo reportagem e edição. Nesses oito anos e 16 edições, a revista conquistou seis prêmios jornalísticos importantes nas áreas de direitos humanos e meio ambiente, entre eles os prestigiados Esso e Vladimir Herzog. Tudo isso com um trabalho quase artesanal, mas ciente de que existe vida após o google.
Em suas páginas já publicamos denúncias sobre trabalho escravo no Pará, trabalho infantil em Minas Gerais, acidentes de trabalho em Santa Catarina, contaminação urbana por mineração no Amapá, desmatamento ilegal na Amazônia, exploração de imigrantes ilegais em São Paulo, discriminação de gênero e outros temas ligados a violações de direitos. Várias vezes, rastreando a cadeia de valor que envolve esses delitos até chegar a grandes corporações brasileiras e estrangeiras.
A tiragem da revista é bastante limitada – em geral, 10 mil exemplares – e a distribuição, precária, focada em formadores de opinião. Mesmo assim as repercussões das reportagens têm sido animadoras. No caso do trabalho escravo em carvoarias no Pará, por exemplo (edição publicada em 2004), a reportagem contribuiu para que o setor siderúrgico formalizasse um pacto nacional pela erradicação do crime. A denúncia de trabalho infantil na mineração em Minas Gerais levou a três conhecidas multinacionais a romper com seus fornecedores (a Basf, registre-se, ainda resistiu a quase um ano de pressões antes de admitir formalmente o problema). O mergulho nas oficinas de trabalho degradante de bolivianos em São Paulo levou a C&A a prometer mais rigor nos contratos com terceirizados.
Também há vezes em que a denúncia cai no vazio, como a reportagem sobre mutilação de trabalhadores no setor moveleiro de Santa Catarina, que publiquei em 2006. Repercussão mínima na imprensa estadual, pra não dizer nula (esta foi menção honrosa no Prêmio Herzog, e tive a honra de subir ao palco com a melhor jornalista brasileira em atividade hoje, Eliane Brum, que ganhara na categoria revista).
De qualquer maneira, com recursos escassos e estrutura mínima, vamos fazendo marola. Às vezes até traduzimos alguns textos pro inglês (thanks, Jeffrey Hoff) pra repercutir lá fora e, por tabela, ressoar no Brasil. Nestes tempos em que o jornalismo se repensa em crise existencial, a vitalidade de uma publicação do terceiro setor anima a gente. Há caminhos. No caso da revista do IOS, um deles, a meu ver, é a ampla liberdade que os profissionais de comunicação têm para desenvolver seu trabalho, sem grandes interferências de quem os financia. O outro tem a ver com o que a já citada Eliane Brum disse quando recebeu o Prêmio Rei da Espanha, ao classificá-lo como um reconhecimento ao jornalismo que vai para a rua.
Nesta edição 16, infelizmente, não pude ir “à rua”. Escrevi uma reportagem sobre a China sem sair de meu canto no Campeche, onde, entre a rede e o computador, devorei alguns livros, dezenas de sites, fiz algumas entrevistas pelo skype e reativei a memória de minha visita a Hong-Kong e Taiwan no século passado. Mas creio que atingi o objetivo, que não era fazer um tratado, e sim dar algumas pinceladas sobre as mudanças que estão acontecendo por lá e resumir um estudo inédito que vai ser publicado em breve sobre os impactos nos trabalhadores latino-americanos. Ah, as fotos foram feitas in loco. Belas imagens clicadas pela amiga Tatiana Cardeal, que foi à China receber um prêmio de fotografia e aproveitou bem a viagem. Também nesta edição apresentamos uma série de artigos com visões sobre o desenvolvimento que queremos para o Brasil; uma reportagem sobre diálogo social; e a repercussão de Devastação S/A, que saiu na edição 15, sobre o “esquentamento” de madeira ilegal na Amazônia.
Inauguramos também o novo projeto gráfico, de autoria da mesma Tatiana Cardeal. A revista está mais analítica e não traz nada de espetacular desta vez quanto a denúncias (há um artigo polêmico do presidente da Eletrobrás sobre Belo Monte), mas aguarde… Para baixar em pdf ou solicitar um exemplar impresso pelo correio, clique aqui."

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