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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Na década de 70...

O telefone toca às três horas de uma tarde de junho. Armando procura Faustino em busca de ajuda com uma vara de pesca que não consegue montar. A carretilha emperrou. O anzol, não sabe amarrar. Ele nunca teve uma vara e, amigos antigos, sabe que Faustino tem fama (e histórias) de pescador.

Não tarda, Faustino toca a campanhia da casa do amigo. Os dois se abraçam, já faz duas semanas que não jogam dominó no bar do Mole, em Santo André.

Trocam conversas miúdas. Faustino quer viajar para a Bahia com o neto Juamir de 18 anos para apresentar sua cidade natal, Belmonte.

Armando diz que o filho nunca quis lhe dar um neto. Logo muda de assunto e apresenta sua nova aquisição. A vara de pesca prateada com detalhes em preto fosco.

– Que beleza! - exclama Faustino.

– A questão é saber os encaixes certos, coisa que não sei. - pondera o aprendiz de pescador.

Em minutos Faustino ajeita o brinquedo. Acerta carretilha, anzol e anima-se:

– Vamos testar.

– Mas aqui na rua?

– Sim, você sabe lançar um anzol?

– Acho que não.

A rua estreita tem 50 metros, com poucos carros circulando o que permite jogar futebol, como faz um grupo de garotos não tão distante. Estão em frente à casa, na calçada. Ele engrena na explicação.

– Você joga pra trás e lança, assim ó!

O anzol vai preso a um chumbinho. Em segundos a linha atravessa a rua e arrebenta o vidro de dona Amália, que, para azar deles, tem janelas gradeadas.

Faustino resmunga. Aciona a carretilha apressado e, sem controle, pesca de vez a janela da vizinha.

– Vixi, diz Armando. Solta isso logo, apressa.

A linha se deita sobre a rua, a meia altura, suave.

Um garoto grita gol enlouquecido e parte da turma contesta. Isso os distrai por um momento, o suficiente para que um fusca azul imbique em alta velocidade com um caminhão de porte médio em sua cola.

Armando se desespera. Faustino segura a vara, petrificado. O fusca avança e se embola na linha. O motorista percebe algo estranho. E breca. O caminhão beija sua traseira. “Pum”. O barulho silencia a garotada da bola.

Aos berros dona Amélia sai para a rua.

– Quem fez esta molecagem na minha janela?

Armando bota as mãos na cabeça enquanto Faustino segue segurando a vara, ainda sem saber o que fazer. A rua vira um alvoroço.

O dono do caminhão, um português de sotaque inconfundível reclama inconformado:

– Mas ora pois que isto é coisa de dois marmanjões!

– O senhor nos desculpe - suplica Armando.

– Eu só queria mostrar como se manuseia a vara de pesca - complementa Faustino.

– Pescar aqui não é lugar não Senhores, tem o rio logo ali ou qualquer coisa com água e peixe!

Os dois pescadores do asfalto concordam, envergonhados.

Thiago Domenici, jornalista.

2 comentários:

Anônimo disse...

é isso? acabou?

Thiago Domenici disse...

É isso, acabou, anônimo. abs. thiago

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