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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

sábado, 23 de março de 2013

Criolo e Vaz, expressão da periferia

O artista é a última linha de resistência e de expressão da periferia

Quem foi ao encontro poético entre Sérgio Vaz e o rapper Criolo, promovido pelo Itaú Cultural, na noite da última terça-feira (19/3), entendeu, sentiu e entendeu um pouco desta expressão. Para os dois artistas, essa ideia condensa aquilo que os artistas da periferia vivem e enfrentam para fazer (e viver) da sua arte.

Durante pouco mais de uma hora, Vaz instigou (e brincou) com a ‘timidez’ de Criolo, espécie de poeta que disfarça bem a vivacidade do Criolo músico. Entre declamação de poemas, eles falaram sobre o significado da poesia em suas vidas e também da importância do fazer poético para quem vive nas chamadas quebradas.

Criolo e Vaz durante o evento no Itaú Cultural
O rapper contou o que representa ser reconhecido pela sua arte e as mudanças que esse reconhecimento trouxe a sua vida. “Quando você começa a fazer Rap – poema ou alguma outra forma de arte – não só se torna visível, como percebem que você tem voz”, disse.

Vaz, que dirige o sarau da Cooperifa, contou que já foi criticado pela temática dos seus escritos tratar de miséria, preconceito, violência policial e racimos. “Perguntaram para mim, sobre o que eu ia escrever quando essas coisas não existissem mais. Daí respondi, vou escrever sobre o maravilhoso mundo em que vivemos”, ironizou.

Também sobre a “violência da arte periférica”, Criolo diz que não só é natural o artista falar sobre a sua realidade, como também é “necessário” que isso seja feito.

 “Primavera periférica”

“Você quer brisa? Vai escutar poesia! Toda quarta-feira ainda tem Cooperifa”, diz trecho da música “Vasilhame”, composta por Criolo. É atrás dessa brisa, que os moradores do bairro Piraporinha, extremo Sul de São Paulo, e também de outras regiões, se reúnem para recitar seus poemas, versos, pensamentos.

A Cooperifa é o maior sarau da periferia da cidade e um dos motivos que levam Vaz a afirmar que vivemos uma “primavera periférica”.

O termo, explica, pode ser visto na efervescência da literatura marginal, na multiplicação dos saraus de poesia “nas quebradas” e na retomada do espaço musical do Rap. “Antigamente os excluídos dos processos culturais agora estão se apropriando de diferentes formas de artes e criando novas formas de se expressar”, diz. “É brutal isto que está acontecendo, é uma revolução que oferece outras coisas para o cotidiano de quem vive lá. Isso é muito bonito”, afirmou Criolo.

O grande trunfo deste momento, explica Vaz, é que desta vez está ocorrendo há formação de público. “Agora a periferia deixa de criar o artista e vê-lo indo se apresentar no centro. Agora a manifestação artística é vivida e experimentada pelo povo daqui, esse é o barato”, comemora.

Para escutar o áudio do encontro, acesse a página do programa no Facebook. Para saber mais sobre a Cooperifa, acesse o vídeo.


Paulo Cesar Pastor Monteiro, jornalista, especial para o NR. Fotos de Brisa Almeida

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