Grande é o Brasil, pequenas as suas regiões e estados. Grande é o amor, pequeno é o ódio. Grande é um povo, pequeno seus indivíduos. Grande é a solidariedade e pequena a mesquinharia.
Essa eleição, em seu segundo turno, tem se mostrado numa disputa que poderíamos resumir entre posturas de adultos e posturas de crianças. E isso nada tem a ver com a idade de cada um.
A política é, porém, lembremos desde já, um assunto de gente grande.
De nada adianta posturas de vitimizações em indivíduos já bastante crescidos. Política é a continuação da guerra por outros meios, já sabemos desde o século XVIII. E a vítima é um "falso grande", um grande que não se quer fazer responsável de suas responsabilidades e então culpa o outro.
Culpar o outro, os políticos por "tudo o que está aí" só mostra uma postura inadequada com as suas próprias responsabilidades. Somos todos responsáveis, todos, e não só um partido ou seus líderes. "Papai" Lula e "Mamãe" Dilma não podem ser culpabilizados pelas atitudes que nós, já crescidos (espera-se ao menos), tenhamos em nossas corresponsabilidades políticas. Ou assumimos de verdade com a nossa postura esse país ou falaremos dele como se "nosso" não fosse. Os políticos, sim, nos representam. Até em suas corrupções. "Pequenos tentam esconder seus "pequenos" erros, dissimulando. "Grandes" assumem.
De um lado, então, vemos uma horda de adultos que parecem não ter amadurecido, se mostram ainda adolescentes mimados porque seus brinquedos mais preciosos (viagens de avião, shopping centers, carros e tantos outros bens de consumo) não são mais privilégios de poucos e, assim, imbuídos de status. Nem mesmo o diploma universitário lhes outorga mais essa diferenciação. O resultado, agora sabemos, é um ódio descomunal ao partido que tornou os brinquedos disponíveis a um número maior de pessoas. De outro lado, porém, vemos outros adultos, tentando convencer os outros, seus iguais, com argumentos mais razoáveis, com menos ódio e mais amor e solidariedade com outros irmãos que passaram a ser mais iguais, mais "adultos", portanto.
Posturas como a que manda a presidenta tomar naquele lugar, ou frases como "ei, Ebola, leva a Dilma embora" só nos mostram o quanto a visão pró-Aécio é majoritariamente uma visão infantil do mundo, na qual problemas estruturais como a corrupção somem à medida que eu desapareço com a causa do Mal: as outras pessoas. A corrupção ou a violência não acabam com o extermínio dos corruptos ou dos bandidos, é bom que se diga. A visão infantil, imediatista, acredita que sim. Mas os "mais velhos" precisam sempre relembrar aos "mais novos": nascem sempre outros, ressurgem. A corrupção não nasceu há doze anos nesse país. E não se resolverá em quatro anos, independente de quem vença. Um "grande" sabe disso, tem a exata dimensão disso e não se deixa enganar pelo falso moralismo como se um pirulito fosse.
Não é à toa também que o Facebook do PSDB tenha postado um "joguinho" no qual a Dilma pode ser "vencida" por um "Godzilla cubano" ou pelo "Jurássico PAC". É uma mentalidade juvenil a que move a maioria dos apoiadores da candidatura tucana. De resto, uma certa tendência nacional de um ideário de juventude eterna, propagado por meios de comunicação. Sermos o país com maior número de cirurgias estéticas não é um fato muito distante desse culto à juventude, da eterna beleza.
A questão que se coloca, porém, é que "pequenos" não governam. "Pequenos" são tutelados, precisam de uma autoridade hierarquicamente superior para lhes mostrar o caminho. É isso o que está em jogo. O imaginário de retorno à ditadura, portanto, não é, assim, surpreendente de se ver nos pró-aecistas.
Já "grandes" governam. "Grandes" debatem de igual para igual sobre os rumos do país. "Grandes" são adultos, preocupados com uma vida adulta que lhes cobra ações a cada dia, a cada mês, a cada novo salário.
Nessa eleição de segundo turno se decide, portanto, que postura estamos adotando para com o país, sejam os candidatos, seja cada um de nós, eleitores. Estamos nos comportando como "grandes", responsáveis por nossos atos e cientes da complexidade do mundo? Ou estamos nos comportando como "pequenos", chorando por aquilo que este governo tem nos privado e, possivelmente, nos privará? Somos "grandes" tentando pensar com as nossas próprias cabeças, lendo aqui e acolá para formar uma opinião mais madura ou somos "pequenos" reproduzindo o que "papai-Estadão", "mamãe-Veja" ou "titia-Globo" dizem do país?
A eleição é essa: escolheremos como grandes ou como pequenos? A postura de cada um dos dois lados parece mostrar bem quem é "grande" e digno de governar e quem é "pequeno" e precisa ser governado.
O ideário fascista tem um pé nos jovens, o ideário democrático um pé nos adultos. Confundir um lado com outro é próprio de crianças, em formação. Em adultos, o erro é inaceitável. E a única explicação: o ódio típico dos mimados e pirracentos.
Dia 26 saberemos se este é um país de "pequenos", o eterno país do futuro ou um país de "grandes", o país que finalmente assumiu o seu presente, o seu destino e suas contradições.
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Vinicius B. Vicenzi, Doutorando em Filosofia na Universidade do Porto (Portugal), especial para o Nota de Rodapé
Um comentário:
Perfeito !!!
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