Creio que esse instinto de perpetuar o trabalho inútil é, no fundo, simples medo da plebe. Essa gentalha (costuman pensar) é constituída por animais tão vis que se tornariam perigosos se tivessem lazer; é mais seguro mantê-los bastante ocupados para evitar que pensem. Se perguntarem a um homem rico que seja intelectualmente honesto sobre a melhoria das condições de trabalho, ele dirá algo assim:
"Sabemos que a pobreza é desagradável; na verdade, uma vez que é tão remota, gostamos um pouco de nos angustiar com a idéia de sua desagradabilidade. Mas não esperem que façamos alguma coisa a respeito dela. Temos pena de vocês, classes baixas, tanto quanto temos pena de um gato com sarna, mas lutaremos como demônios contra qualquer melhoria de sua condição. Achamos que vocês estão muito mais seguros assim como vivem. O atual estado das coisas nos convém e não vamos assumir o risco de libertá-los, nem mesmo de uma hora extra por dia. Então, queridos irmãos, uma vez que vocês devem evidentemente suar para pagar nossas viagens à Itália, suem e que se danem". pág. 139.
George Orwell, novamente à baila, escreveu esse trecho elucidativo sobre o pensamento das elites na década de 20, quando escrevia o livro Na pior em Paris e Londres - a vida de miséria e vagabundagem de um jovem escritor no fim dos anos 1920 (Editora Companhia das Letras). Curiosamente não, afirmativamente é o pensamento em voga até hoje, 2008, quando a estrutura social e desigual se amplia a passos largos, capitaneada pelo mal do século, o capitalismo imbecilizado pelos sabotadores liberais espalhados pelo mundo. Uma merda cada vez mais fedida e que está longe de acabar. Thiago Domenici