Segundo o site Comunique-se: “a reportagem foi pautada pelo editor-chefe do jornal, Ildefonso Rodrigues, e sugerida pela historiadora e professora Adelaide Gonçalves, da Universidade Federal do Ceará (UFC). Ao comunicar a demissão de Moura, o editor-chefe afirmou que ‘não sabia o conteúdo da reportagem até vê-la publicada’. Segundo o jornalista, que trabalhava há quase nove anos no veículo, o editor informou que o caderno gerou problemas para a direção do jornal. ‘Disseram que gerou problemas, que não teria sido bem recebido pela direção da empresa’, contou Moura. O editor disse que ‘jamais imaginou’ que poderia ser demitido dessa forma, e que a demissão abre espaço para várias interpretações. ‘Jamais imaginei que poderia gerar isso. O caso é complexo e dá margem para várias leituras’.
De acordo com Moura, nem ele, nem a repórter Síria Mapurunga, que fizeram a entrevista com o filósofo, emitiram opinião. A entrevista destacava no título a declaração de Löwy: ‘O marxismo tem de evoluir para uma maior radicalização’.”
O Nota de Rodapé entrou em contato com Michael Löwy, “pivô” involuntário da demissão de Moura. Lowy, nascido na capital paulista e radicado desde 1969 na França, é formado em ciências sociais pela Universidade de São Paulo e é diretor emérito do Centre National Recherche Scientifique, em Paris.
NR - Demitir um jornalista por publicar uma entrevista que vai contra a opinião do jornal é censura? O que pensar desse episódio?
Este episodio ilustra, de forma grotesca, os limites da liberdade de expressão no quadro da imprensa controlada pelo capital. É um exemplo brutal da intolerância das classes dominantes, que controlam os meios de comunicação, em relação a opiniões dissidentes e não conformistas. No caso, eram opiniões minhas e não do jornalista, sua demissão é mesmo um ato de absolutismo patronal.
NR - O senhor já viu algo parecido acontecer em algum outro veículo da imprensa francesa ou de outro país?
Não me vem ao espírito exemplos da França ou de outros países, mas sem duvida existem. No Brasil tivemos a demissão, igualmente mesquinha e intolerante, de Maria Rita Kehl, por haver manifestado, nas paginas do "Estadão" uma opinião política diferente da redação do jornal...
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- Verdade e "verdades" sobre uma demissão
NR - Como se sente sendo o "pivô" da demissão do jornalista por conta de suas ideias marxistas?
Lamento muito que tenha sido, involuntariamente, o motivo desta demissão. Nunca me aconteceu antes, por mais que conheçamos o caráter de classe da grande imprensa, ficamos surpresos com manifestações tão grosseiras deste espírito inquisitorial. Só me consola saber que o jornalista conseguiu um outro emprego, graças a um gesto de solidariedade da Prefeitura de Fortaleza.
NR - Se fosse ponderar algo a direção do jornal, o que diria?
Diria que a direção deste jornal deve ter saudades dos velhos tempos da ditadura militar, quando o lugar de opiniões marxistas era no xadrez e não nas paginas da imprensa.
Thiago Domenici, jornalista
Um comentário:
Esta pseudo-liberdade de imprensa é para dar liberdade aos donos da imprensa e não os trabalhadores da imprensa, principalmente jornalistas.
Este episódio é lamentável!
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