"Quando você se aproxima da pobreza, faz uma descoberta que supera algumas outras. Você descobre o tédio, e as complicações mesquinhas e os primórdios da fome, mas descobre também o grande aspecto redentor da pobreza: o fato de que ela aniquila o futuro. Quando você tem cem francos, fica à merçe dos mais covardes pânicos. Quando tudo o que você tem na vida são apenas três francos, você se torna bastante indiferente. Você fica entediado, mas não tem medo. Pensa vagamente: `em um ou dois dias estarei morrendo de fome - chocante, não?'. E então a mente divaga por outros assuntos. Uma dieta de pão e margarina proporciona, em certa medida, seu próprio analgésico. E há outro sentimento que serve de grande consolo na pobreza. Acredito que todos que ficaram duros já o experimentaram. É um sentimento de alívio, quase de prazer, de você saber que está, por fim, genuinamente na pior. Tantas vezes você falou sobre entrar pelo cano - e, bem, aqui está o cano, você entrou nele e é capaz de aguentar. Isso elimina um bocado de ansiedade."
Trecho do livro de George Orwell (o primeiro dele, depois vieram outros consagrados como 1984 e A Revolução dos Bichos), o título, Na pior em Paris e Londres - a vida de miséria e vagabundagem de um jovem escritor no fim dos anos 1920).
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