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Inicia-se então um complexo julgamento num tribunal federal regional dos Estados Unidos, em que são partes a rainha Isabel 2.a da Espanha, uma menina pré-adolescente, que afirma serem os negros escravos de propriedade da Coroa espanhola; dois empresários de Cuba, que afirmam terem comprado os negros como escravos num ponto de Cuba e que eles estavam sendo transportados para outro ponto de Cuba exatamente para serem entregues a eles, empresários; e os próprios negros, representados por advogados americanos abolicionistas, que querem a sua liberdade.
Inicialmente a causa dos negros parece perdida, pois a escravidão, na época, era legal nos Estados do Sul dos Estados Unidos e o país tinha um tratado com a Espanha que mandava entregar à Espanha os escravos das colônias espanholas que fossem apresados em águas americanas.
Mas os advogados dos negros descobrem que a lista dos negros do grupo, apresentadas pelos empresários de Cuba como prova de que os negros eram escravos e de sua propriedade, era na verdade uma lista dos negros que haviam sido levados de Serra Leoa para Cuba por um navio português. Isso era importante, pois na época o tráfico de africanos já tinha sido abolido nos Estados Unidos e a legislação americana só reconhecia como escravos quem tivesse nascido escravo, isto é, filho de escravos. Se aqueles negros tivessem nascido livres em Serra Leoa – que era uma colônia britânica e a Grã-Bretanha já tinha abolido não só o tráfico como a própria escravidão em seus territórios em todos os continentes –, e foram depois capturados e vendidos como escravos, eles eram homens livres pelas leis americanas.
Os advogados dos negros, porém, não conseguem se comunicar com seus clientes, pois estes não falam inglês e os advogados sequer sabe que língua os negros falam. Depois de muitas peripécias, e de uma viagem dos advogados a Serra Leoa, se descobre que eles falam mendê, uma das línguas da então colônia britânica. Se descobre também, em Serra Leoa, um intérprete que fala tanto inglês como mendê e os advogados dos negros passam a poder se comunicar com seus clientes.
Um líder dos mendês presos, falando em sua língua, e traduzido a cada trecho pelo intérprete, presta depoimento perante o tribunal, contando como ele e outros dos negros presentes eram livres em sua terra natal e como haviam sido capturados e levados à chamada Fortaleza dos Escravos, fora do território da Serra Leoa, e lá foram vendidos ao capitão do navio português, que os levou para um ponto de Cuba, onde foram revendidos e estavam sendo transportados no Amistad, um navio espanhol, para outro ponto de Cuba quando se revoltaram e acabaram assumindo o comando do navio, até serem aprisionados pelo navio de guerra americano.
O tribunal de primeira instância acaba decidindo que os negros tinham nascido livres e tinham direito não só à liberdade como à insurreição, por terem sido escravizados. O governo americano, a rainha Isabel 2.a da Espanha e os empresários de Cuba recorrem em todas as instâncias, embora sejam derrotados em todas, até a Suprema Corte, onde apesar de, dos nove magistrados, sete serem proprietários de escravos, novamente e definitivamente os negros obtêm ganho de causa e são libertados, podendo voltar à sua terra natal.
O filme se baseia num episódio real e é bastante fiel aos registros históricos. Apesar de ser um hino à liberdade, o filme foi questionado por espectadores negros, como a jornalista e escritora brasileira Marilene Felinto, particularmente por contar que os primeiros a escravizarem esses negros foram outros negros, de fora de Serra Leoa. No entanto, é fato histórico registrado que soberanos e empresários negros africanos traficavam escravos de sua cor.
Renato Pompeu é jornalista e escritor, especialmente para o Nota de Rodapé. Conheça o Blog do Renatão.
3 comentários:
O racismo escravocrata, creio, possui dois lados para serem observados. Ambos importantes.
O primeiro e mais importante é o desenraizamento de pessoas. Ser retirado de sua família, perder língua, religião e até sair de "seu mapa" - não é turismo, é escravismo com certeza. (ainda acontece...)
Dentro deste lado: viver em terra alheia, tudo alheio, ser uma nada social, máquina. A "cor-menos" apenas agrava o desmonte da auto-estima. Por isso: negão, neguinho, macaco, tiziu, grafite, etc - causam incômodo racista. Se as tribos tb atuaram assim: a "terra alheia" NÃO era em outro ponto do planeta...
O Leste Europeu tb é "menos" - não na cor. Eslavo gerou "escravo" e o duro do euro-racismo atual: não é menos importante. Os judeus abandoram a alemanha pós nazismo. Os índios aqui tb sofrem, muito, mas não há pra onde ir. Vivem na Terra Santa Brasil.
A polícia, estudantes de escolas públicas, deficiêntes físicos - não são raças, mas tb tem cotas. Cota afro: alguma saudade da Mama África? O que pensar? "Deus é bom" - seria isso? Um feudalismo, não?
As "leis-iguais" escapam a cada feudalismo. A cada "cota-dádiva", as reparações por injustiças, reais, não acontecem. Existe alguma "terra prometida" para cada categoria que sofre?
Cidadania é cada vez mais uma camiseta com slogan estampado. Um "dever de todos", ou um desleixo do congresso? ou dos eleitores? Cidadania é bom. Para todas as cores, penso.
ASSISTIMOS ESSE FILME
Bom vai ajuda muto!
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