Um anestésico cotidiano.
Sobe o som do aparelho,
O veículo roda os cavalos,
Entra um, dois, três; em pé (não tem onde sentar).
Cavalheiro-obrigatório cede o lugar ao idoso,
A jovem gargalha da amiga,
A janela embaçada de suor antigo revela o mendigo que canta a tristeza –
A sede de cachaça aumenta a todo instante.
Muda de faixa, o motoqueiro a mil (pilhado e adrenalizado) quase encontra Deus.
Na música relaxante,
Um anestésico cotidiano.
A injustiça é nua,
Palpável e palatável.
Os gestos são iguais,
Um com a bíblia em punho,
O outro com o revólver.
Cobrador imóvel e o fone esquerdo cai.
O sangue escorreu até a cintura.
Na estatística vale o número,
A vida, em si, não vale – a alma é prisioneira do medo (todos os dias).
A trajetória chega ao fim.
O aparelho é desligado – de volta a realidade.
O sinal é dado,
A porta se abre,
O cotidiano segue.
Fredo Sidarta é poeta em construção diária (Nota de Rodapé)
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