Há duas semanas fui a ultima reunião escolar do pequeno antes das férias. Aquela de fechamento de semestre em que a professora nos enche de pastas, trabalhos, lições, pinturas diversas, tudo em cartolinas enormes, para facilitar a nossa vida na hora de guardar. Essa, aliás, foi uma enquete que fiz com outras mães em surto: "Onde vocês guardam tantos trabalhos e lições, semestre após semestre, ano após ano?" A resposta unânime foi "atrás do armário". Lá onde a moça da limpeza não mexe nunca.
Sempre sonhei com as reuniões escolares. Eu chegaria linda e poderosa, atrasada e maquilada, direto do meu emprego incrível para confraternizar com outros pais e ouvir como meu filho é inteligente e especial. Bom. Chego atrasada porque vou de busão, descabelada, desmaquilada, de tênis, jeans e camiseta e não necessariamente de uma jornada de trabalho incrível. Graças ao bom Deus pelo menos a parte do filho é verdade.
Para melhorar minha moral, as tatuagens não ajudam na confraternização com os outros pais. E as cadeirinhas que as tias colocam para a gente sentar em roda? Minha bunda não cabe! Sempre passo vergonha, mas faço a hippie: “prefiro sentar no chão”. Nas outras cadeirinhas, mais ou menos constrangidos, estão os outros pais ou mães solteiros. A professora nos passa relatórios individuais e coletivos e os outros pais sempre têm mais perguntas e considerações do que eu. Fico pensando em uma pergunta inteligente e preocupada para fazer, mas sempre desisto e invisto nos sinais afirmativos com a cabeça.
A última reunião foi muito triste. A professora pediu uma dinâmica. Já queria me jogar da janela. Mas tinha grades. Ela distribuiu pedaços de papel e giz de cera e pediu que desenhássemos um aquário. Eu desenhei o vidro, as pedrinhas coloridas, uma plantinha e estava empenhada pintando o primeiro peixinho quando ela pediu de volta. Aí colou na lousa os nossos papéis e disse “Olhem como os peixinhos são diferentes. Um desenhou uma família de peixes. Outra desenhou apenas um peixe colorido” e me olhou com aquele ar de “você é um peixe sozinho no aquário”. Fiquei arrasada e desmoralizada na dinâmica escolar. E eu ia desenhar mais peixes, poxa, mas ela nem deu tempo! Peguei as cartolinas e voltei pra casa sozinha no meu aqua...taxi.
Andrea Dip é jornalista, colunista do NR e mãe em surto
5 comentários:
Dea,
Como eu ainda não tenho filhos fico só imaginando como vai ser quando eu tiver e eles forem pra escola. Desesperada do jeito que sou, acho que vou dar um certo trabalho nas reuniões da escola.rsrsrs
Putz, eu desenho tãooo mal que a professora ia acabar comigo na frente dos outros pais.rsrsr
Vou parar de falar de mim.rsrsr
Quero te dizer que eu te admiro muitooooooo como mãe, como pessoa, como amiga! Sei da correria que é a sua vida, mas vc dá conta muito bem de tudo! Seu filho é lindo e cheio de vida!
eudetestodinamicasdegrupo.com.br
dinâmica em grupo é uma das maiores bobagens que já inventaram na face da terra. só fazem a gente se sentir mal.
Você já ouviu falar de um tipo de peixe chamado Betta? Ele não pode ser colocado com outros peixes da mesma espécie, pois os agride.
Então, da próxima vez que alguém lhe olhar com o ar de "você é um peixe sozinho no aquário", olhe para ele com aquela cara de "sou um Betta".
A minha mãe sempre foi sozinha e criou muito bem suas duas filhas. Tenho muito orgulho dela e tenho certeza que o seu pequeno sempre vai olhar pra você com muito orgulho. =)
Beijão,
Julia.
adoro dip.
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