As incógnitas e o vazio político surgidos com a morte de Kirchner colocam um grande desafio para a agora viúva presidente. Como será o governo de Cristina sem Néstor? Ela continuará com o projeto que os dois tinham e será candidata à reeleição em 2011? Apressado, o ministro das Relações Exteriores, Hector Timerman, já anunciou que sim. Reduzirá a estratégia de conflitos desenvolvida pelo casal presidencial desde 2003 – quando ele foi eleito presidente – e começará a pregar a harmonia na sociedade? Ou radicalizará ainda mais sua política, continuando a dividir a população entre os que estão e os que não estão do lado do governo?
Não se sabe. É difícil sair do campo das especulações neste momento. O que sim é latente é a singularidade da política nacional. Não é normal que a morte de um ex-presidente – que já nem tinha tanto apoio assim – devaste o cenário político e deixe um partido órfão em um ano-chave para as eleições. Solidários à dor da presidente, os argentinos se enfileirarem durante horas, em quilômetros, para dar o último adeus ao homem que pilotou a recuperação do país após a crise econômica de 2001, recuperou a auto-estima nacional e colocou militares atrás das grades. Muitos diziam “Força, Cristina” e pediam que ela continuasse firme. Há comoção, mas também a lembrança recente do caos na Casa Rosada em 2001, quando vários presidentes assumiram e renunciaram em meio à crise.Argentina: um país de uma política peculiar e com um passado às vezes trágico. Juan Perón perdeu a mulher e líder dos descamisados, Evita, quando era presidente. Na sua segunda presidência, morreu e deixou a vice e segunda mulher, Izabelita, em seu lugar. Sem apoio, foi deposta pelos militares. Tomara que Cristina, que não tem nada da fragilidade de Isabelita, saiba – agora sozinha – conduzir a Argentina e a difícil máquina de poder deixada pelo marido. E que não caia na tentação de isolar ainda mais o seu governo.
Mariana Camarotti é jornalista e mora na Argentina, especial para o NR
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