A comida vendida no festival era cara e ruim – salvo a do restaurante vegetariano. Um hambúrguer, pão e carne, custava dez reais, e uma pizza brotinho – que diminuíra consideravelmente de tamanho no segundo dia – era vendida a oito reais. Tomar banho também era complicado, sete minutos no chuveiro e cerca de uma hora na fila. O chuveiro ligava e desligava sozinho, não podendo ser desligado caso o banho durasse menos do que o tempo determinado. O tempo do banho gerou um mercado paralelo e alguns campistas vendiam sua cota diária a outros que queriam um banho mais demorado. No camping Premium, que custava 500 reais, funcionava da mesma forma, não havendo favorecimento a quem pagara mais, como sucedeu em outras situações no SWU.
Vale a intenção?
O primeiro a desfechar sua crítica aos privilégios concedidos no festival foi Zack de La Rocha, do RATM, por meio do blog da banda. Durante o show do Rage a pista Premium foi ocupada e o som dos microfones acabou sendo cortado diversas vezes. Aliás, o corte de microfones foi prática comum no evento. No último dia do fórum o Sr. Fisher, publicitário e empresário idealizador do SWU, foi vaiado pelos presentes após a exibição de um vídeo de conscientização feito pela modelo-manequim Ellen Jabour e outros colegas de profissão. Após o vídeo, o animo se exaltou e foi quando a apresentadora abriu para perguntas. Um estudante perguntou ao Sr. Fisher se ele achava o evento sustentável e citou alguns pontos observados durante o festival, dentre eles, se era sustentável um trabalhador receber 40 reais pelo dia de trabalho no SWU, momento no qual o microfone foi cortado e seguiu-se um coro de vaias. A apresentadora tomou as dores do Sr. Fisher e disse que não existiam bonzinhos e malvados, mas que o que importava era a intenção – o que fez feliz o pobre diabo. A sequente resposta do publicitário foi previsível, a promessa que no próximo ano o festival seria construído de forma democrática acalmou os ânimos e o Sr. Fisher saiu aplaudido. Lamentei por minha impressão inicial não estar errada, as palmas eram mais por instinto do que por convicção.
Hoje, nada disso parece ter importância, a mídia já divulgou o sucesso do evento, o Sr. Fisher está pensando nos próximos sete festivais já acertados. Mas preocupa pensar que qualquer iniciativa sob o manto da defesa ambiental e da sustentabilidade vende como água no deserto, criando um novo nicho de mercado, que cresce na medida em que o chamado marketing verde é introduzido nas grandes corporações – incluindo a mídia – vindo de brinde ao produto final a chamada “consciência do consumidor”.
O que se coloca como alternativa para salvar o planeta é a mudança no consumo, de forma individual – start with you – não a produção, e nunca o modo de produção. Inverte-se causa e consequência, sendo impossível, sobre essas bases, pensar em uma conscientização efetiva.
Juliana Sassi é jornalista, especial para o NR
4 comentários:
acho que o público em geral foi ver bandas e curtir um show. SE fizessem uma pesuisa para saber quantos ali praticam a sustentabilidade em casa e se envolvem em lutas por essas causas e participam de outros eventos imagino que nem 10 por cento. No entanto o discurso sustentável ajuda arranjar uns patrocinadores (+_+).
excelente relato!!!
talvez o conceito do festival tenha vindo daqui: http://maseverde.tumblr.com/
Acho que a antiga idéia de chamar o evento de 'woodstock brasil' era pra não passar essa vergonha toda.
O tal festival anunciou que iria ter bicicletario gratuito, e adivinha... chegando lá o tal bicicletario não existia, tive de voltar pra casa e voltar de carro... SUPER SUSTENTAVEL
De boas intenções o mundo está cheio...
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