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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Os mineiros do Chile vão ficar igual o Lelé de Itabira?

Quando eu era criança, em Itabira, cidade do interior de Minas onde minha avó morava, aconteceu um caso curioso e dramático. Um garoto de uns dez anos caiu em um poço e ficou desaparecido por sete dias. Foi resgatado quando já ninguém mais acreditava que ele ia aparecer com vida e graças ao faro da Veridiana, cachorra que começou a cavar ao lado do buraco e chamou a atenção do dono da propriedade onde o poço ficava.
Lembro o nome da cadela, mas não o do menino sobrevivente. É que ninguém chamava ele pelo nome, mas sim de Lelé do Poço, porque ele parecia meio ruim da cabeça. Minha avó dizia que ele ficou assim depois de ter ficado sete dias comendo o próprio coco e bebendo xixi. Eu acho que ele já tinha uns parafusos a menos desde sempre.
Pois esse Lelé do Poço cresceu e continuou “dando trabalho pra família”, como dizia minha avó. Vez ou outra voltava para o buraco. Arrumava uma corda, descia os três metros (às vezes se machucava) e ficava lá, quieto – esperto, levava comida pra não precisar comer coco e água, por que tinha vez que o poço estava seco.
Da primeira a família se preocupou – mas Veridiana logo delatou o esconderijo. Depois o pessoal já ia direto no buraco quando ele sumia. Quando voltava, o Lelé falava que achava a vida “na terra” muito complicada e que preferia viver lá embaixo “pensando”. Ele era o perfeito “bobo” da Clarice Lispector. “Minas Gerais facilita ser bobo”, escreveu ela.
Volto pouco a Itabira, mas sempre que vou para lá encontro o Lelé – que já tem seus 40 anos. Sempre sozinho. Sempre fora do ar. Dizem que ele vira e mexe enche a cara e passeia pelado pela praça. Por precaução, o poço em que ele passou sete dias foi fechado, mas dizem que ele não perdeu a mania de “fugir” da terra. Já ficou dias trepado em uma mangueira e foi resgatado diversas vezes do telhado da igreja da praça.
Lembrei desse caso quando vi a história dos mineiros chilenos. Fiquei pensando que depois da euforia pelo salvamento e da glória repentina, eles podem sofrer do mesmo mal que o Lelé sofria e quererem voltar pra debaixo da terra. A mina onde eles ficaram presos também vai ser fechada parece, mas tem tanta mangueira e igreja espalhada pelo mundo; e é tão difícil viver aqui na superfície.

Henrique de Melo Sabines, mineiro, 30 anos, trabalha na ECT e se dedica à astronomia nos fins de semana. Fã de Drummond, começou a escrever por recomendações médicas. É um dos autores do espaço Cronetas no NR.

2 comentários:

Banca dos B-Boyzz disse...

Chi-Chi-Chi-Le-Le-Le - Lelé?
Pelos dias na mina acho que não... rss
Pelo ouro do pós-mina, pode ser...
Mas foi bom saber do Lelé, uma história uma tanto trágica, mas - um buraco interessante.
1 braço - Poeta Xandu

Anônimo disse...

eita minerim bão, sô!

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