.

.
30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quarta-feira, 7 de março de 2012

Você está vulnerável

Sem dúvida estamos vivendo o boom das redes sociais. Provavelmente até a sua avó tem perfil no Facebook e tuita loucamente enquanto você faz um check in no seu tablet ou celular na lanchonete do outro lado da cidade.

Utilizo esses sites para xeretar a vida dos outros, compartilhar fotos, notícias e expressar minha opinião – como muitos fizeram na última eleição para presidente, por exemplo. Quem acompanhou o pleito passado viu uma clara divisão partidária e extremamente belicosa dos usuários da rede. Não perdi “amigos”, mas sei quem são as pessoas que não quero trocar opinião sobre assuntos polêmicos.

Há mais ou menos um ano tenho analisado com mais atenção o tema comunicação e compartilhamento na web. Apesar de muitas manifestações e questionamentos, no começo deste mês entrou em vigor a nova política de privacidade do Google, que unificou todos os produtos da empresa em um só login, recolhendo e reunindo todas as informações possíveis sobre você em todas as páginas de seus mais de 70 produtos.

Tá, e daí? E daí é que você provavelmente não foi perguntado se poderia ser rastreado e ter suas informações reunidas e documentadas pelo Google. Você deve ter visto uma mensagem esquisita na sua caixa postal e quando bateu os olhos não entendeu nada e deletou. Você de 99% das pessoas fizeram exatamente o mesmo. Bom, e agora?

Se você é um usuário comum como eu, provavelmente não sabe que seus cliques já são rastreados e todos os seus acessos, seja no computador ou celular, registrados, monitorados e transformados em ações de marketing.

Explicado agora porque aquele anúncio de um produto que estava pesquisando o preço em outra página, agora está logo ali, ao lado direito, no canto superior da sua tela? E aquela newsletter do site de compra coletiva que passou a receber sem se cadastrar?

Obter dados para medir a audiência de um portal é uma coisa. Outra é analisar suas preferências por meio de seus cliques junto com um monte de informações reais sobre você sem sua autorização consciente.

Não está satisfeito? Na semana passada a revista Info publicou matéria em que diz que o Twitter vendeu dois anos de seu banco de dados para uma empresa de marketing. “A Datasift irá utilizar as informações para ajudar outras a atingir usuários influentes. A medida é mais uma forma de o Twitter gerar receita. Essa é a primeira vez que a prática é noticiada. Tuítes patrocinados, venda de trending topics e de sugestões de usuários a serem seguidos são algumas outras formas usadas pela empresa para gerar receita.”

Enfim, você sabia que poderia virar um produto quando se cadastrou em um desses sites? Eu também não, mas está lá na política de privacidade.

Mas o que realmente incomoda é saber que muitos não percebem que os resultados de busca do Google são totalmente favoráveis aos seus parceiros comerciais, independentemente de serem confiáveis ou não. Do tipo pagou, passou.

Não, não tente denunciar alguma bobagem no Youtube ou até mesmo um site abusivo. Quando te respondem, e o processo é raro e demorado, o papo é o da liberdade de expressão. Ok! Então pode tudo e tudo pode, é isso? Se for assim por que tirar do ar o WikiLeaks e o Megaupload e não fazer nada com o Google, Twitter e Facebook?

Se tiver algum problema mais sério com eles do tipo fui crackeado e estão gastando com o meu cartão, o problema é seu, vai ter que gastar um tempão danado – em vão porque a merda já foi feita –, apagando suas informações, bloqueando seus cartões, e um dinheirão com advogados que, vamos combinar, ainda não entendem muito de internet até porque suas leis não estão claras ou simplesmente não existem para determinados casos.

E cresce o número de perfis falsos, robots, pedófilos, crackers etc. E cresce o número de perfis hackeados por colegas da escola que são usados para bullying. E cresce o número de pessoas incriminadas por crimes que não cometeram. E crescem os posts de gente que acha que pode julgar, ofender, discriminar e falar tudo e qualquer coisa na internet como se o ambiente virtual não contasse na vida real.

E aí, quem é quem nessa história? Quem responde por tudo isso? O que vale e o que não vale?

"A internet é como água: vai achar o seu caminho", disse Eric Schmidt, presidente do conselho de administração do Google. Concordo em parte, já que antes o ideal era ser popular entre os amigos e aparecer nos resultados de pesquisa. Hoje, quanto mais anonimato, melhor.

A mesma frase, no entanto, é bastante cômoda e isenta de qualquer responsabilidade. O que esperar de empresas privadas com IPOs gigantescos administrando, comercializando conteúdo e e formando opinião? #ficaadica

Ligia M. (Sem o sobrenome para não ficar evidente nas pesquisas do Google), designer, especial para o NR.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Ofensas e a falta de identificação do leitor serão excluídos.

Web Analytics