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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

sábado, 11 de agosto de 2012

Ah, o tão sonhado ouro


Esbravejei quando o meia Oscar, sozinho, errou a cabeçada no último lance contra o México, na final do futebol masculino hoje pela manhã. Poderia ter empatado o jogo, levado para a prorrogação e, quem sabe, ter ganhado a partida. Mas isso não aconteceu. Instantes depois vi o meia-atacante Lucas, que entrou no jogo aos 40 minutos da etapa final, chorar copiosamente no ombro de um integrante da comissão técnica.

Neymar, sentado no gramado, exausto, joelhos abraçados, provavelmente pensava o quão difícil foi chegar até ali. Sabedor da responsabilidade que carrega estava a tomar novo fôlego para a enxurrada de criticas que viria em sua direção. Quem acha que eles estavam em campo para perder, por favor, não leia a sequência do texto.

Esses três jogadores têm em comum a pouca idade, contratos milionários e a enorme esperança que o torcedor deposita neles. Você há de concordar, então, que ganhando milhões era mais do que obrigação obter sucesso nas olimpíadas, certo? Errado. Eles tiveram êxito. E muito. A prata, a tão desprezada prata, tão “olímpica” para um país que não tem investimento esportivo, sobretudo nos esportes menos populares, deveria ter mais valor.

Enquanto as imagens da comemoração mexicana rolavam alternadamente com a tristeza dos jogadores brasileiros ouvi o comentarista, ex-jogador e deputado federal Romário enxovalhar o técnico Mano Menezes pela derrota. “Fraco” e “Espero que não vista a camisa da seleção” foram duas de suas declarações sobre o técnico. E advertiu: “venho falando isso desde o Pan”.

Romário, que tem ácida opinião, decepcionou-me com suas declarações. Não pela critica a Mano Menezes, mas pela postura diante da derrota. Algo que ele já vivenciou algumas vezes. Como Neymar, Oscar e Lucas, o deputado já ganhou a prata pela seleção na década de 80. Ao menos se corrigiu no sentido de não rotular os meninos como “geração de perdedores”. Deveria, a meu ver, exaltar a conquista do segundo lugar como um passo para um time que pode se tornar muito vitorioso.

Ressabiado com a falta de percepção de Romário, que deve ter influenciado a opinião de muita gente, fui ver a repercussão na internet. E nossa imprensa, parte dela pelo menos, também menosprezou a conquista da prata. Mesmo se mantendo no auge tantos anos, o nadador Cesar Cielo sentiu a veia torcedora da imprensa quando “decepcionou” com o bronze nos 50 metros nado livre.

No caso do futebol a FSP online escreveu: "Brasil repete fiasco de 84 e 88 no futebol e fica apenas com a prata". Fica “apenas” com a Prata? Fiasco, veja só, é "Fracasso completo, insucesso ridículo e vexatório." Que jogo ou competição eles assistiram?

Só posso crer que o autor de tal manchete buscava os "indignados" ou o grupo do "efeito manada" que diante de uma derrota age sem pensar e corre para o lado da maioria: xingamentos, criticas sem fundamento, desvalorização do atleta e choramingos.

Das duas uma: a  sensação que tenho é que estamos distantes de uma postura menos mimada diante das adversidades no esporte ou temos mesmo falta de capacidade de assimilar o óbvio: perder é parte do jogo, por mais incômodo emocional que isso possa causar.

Como bem lembrou um colunista dessa mesma FSP pela manhã: "o espírito de porco de boa parte da torcida brasileira [incluo a imprensa] vai dar o tom brasileiro, nenhum esforço pode ser reconhecido a não ser que se ganhe sempre”.

É... se o aforismo de Carlos Drummond fosse uma máxima: "o mérito da derrota consiste em insentar o derrotado das responsabilidades da vitória" não estaria aqui a escrever esse texto.

PANO RÁPIDO
Enquanto finalizo essas linhas nossa seleção feminina de Voleibol ganha o ouro dos EUA para amenizar a dor da manhã enquanto o narrador diz que o time “se superou na competição na hora certa”. Existe hora certa para se superar?

Thiago Domenici, jornalista

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