por Cidinha da Silva
Senti o peso da chegada aos 40 quando em conversa com duas aguerridas ativistas de direitos humanos, uma de 27 e outra de 23 anos, convicta, usei a palavra pelego para caracterizar determinado setor de trabalhadores, sem maiores explicações. Elas me olharam desentendidas e a mais jovem, escusando-se da suposta ignorância, perguntou-me que conceito era aquele. Antes de explicar, fui obrigada a concluir, estou mesmo envelhecendo.
Passada uma década, a mais velha da dupla, que agora chega aos 40, deve sorrir ao ver a abundância de referências ao sindicato pelego dos garis do Rio de Janeiro. A expressão, extremamente usual na década de 80 do século passado, volta à baila em 2014, trazida pelo movimento grevista dos garis do Rio de Janeiro, que abandonaram as vassouras, ergueram punhos, vozes e marcharam durante 8 dias pelo centro da cidade, reivindicando a destituição de decisões anteriores tomadas pelo sindicato pelego que havia se vendido ao patrão (a prefeitura), melhores salários e condições de trabalho. Ascenderam faróis inertes desde as greves do ABC do final dos 70 e dos professores da rede pública na década de 80.
Os meninos e meninas de laranja, cuja força, o peleguismo da mídia hegemônica demonizava e diminuía, o peleguismo do sindicato traía e a prefeitura carioca fingia não ver, disseram um não rotundo a todos que queriam transformá-los em suco. Venceram! Inclusive às tropas armadas e truculentas que os forçavam a trabalhar sob o disfarce da proteção.
É imperativo aos conservadores admitir que doravante, a esperança da transformação social veste laranja e é negra. Bela e majestosa como a noite em que a carruagem abóbora de Matamba nos desperta do pesadelo!
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escritora, Cidinha da Silva mantém a coluna semanal Dublê de Ogum.
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