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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

domingo, 4 de maio de 2014

A Vida Pirateando a Arte

por William dos Santos*

Há cerca de 128 anos, Robert Louis Stevenson publicou aquele que seria um dos maiores sucessos da literatura romântica de traços realistas: Strange Case of Dr. Jekyll and Mr Hyde, conhecido no Brasil como O Médico e o Monstro, cujo roteiro expressa o contraste intenso entre a face interna (real) e externa (aceita pela sociedade) de um ser humano, apresentadas de maneira fantasiosa por meio das figuras de Mr. Hyde (o monstro) e Dr. Jekyll (o médico), personalidades opostas de um mesmo ser. Ficção que, infelizmente, nesse caso, pouco se distancia da realidade.

No livro de Stevenson o foco é o embate psicológico. O "ser humano real" desafia a ficção e seus absurdos ao ponto de levar esse problema ao tratamento das diversidades de aparência, estabelecendo moldes de beleza e compondo uma sociedade de padrões, capaz de unir a fantasia do mundo das cirurgias plásticas, maquiagens e photoshop ao preconceito racial herdado da era escravocrata, sem considerar a hipótese de cometer anacronismo. Com a escolha de Lupita Nyong'o, 31, como a mulher mais bonita do mundo pela revista People, tal qual a eleição de uma angolana como miss universo em 2011, a repercussão foi inevitável. Imagina-se que no caso da revista a intenção tenha sido mesmo provocar o debate, mas comentários do tipo "É bonita, mas cabelo assim não dá" e "Vão dar cotas pra elas também?" são comentários assustadores.

Não existem padrões de beleza, uma vez que a beleza depende de interpretação e gostos pessoais, e não se pode julgar com exatidão se um prêmio do tipo fez a escolha certa ou errada.

Do caso em questão a única comprovação é a de que a mesma sociedade que criou padrões comportamentais, obrigando Dr. Jekyll a se dopar e controlar os extintos de sua personalidade real, regride de maneira considerável ao não aceitar sequer que alguém que possua uma aparência condizente com a diversidade étnica mundial invada o espaço de figuras criadas sob traços padronizados de um mesmo desenhista: o Preconceito.

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William dos Santos, técnico em administração, colaboração especial para o Nota de Rodapé

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