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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Eu odeio guarda-chuva

por Maria Shirts*

A minha vida ficou muito melhor quando eu aceitei o fato de que guarda-chuvas são inúteis. Para não dizer que não servem para absolutamente nada, me limito a concordar que só ajudam para proteger cabelos e ombros, uma funcionalidade pouco interessante para a inconveniência que geram.

Se as pessoas aceitassem tomar uma chuvinha, ou esperassem as tempestades passarem debaixo dos toldos de boteco, não encharcariam os ônibus ou quaisquer outros estabelecimentos que oferecem refúgio àqueles que notam, no meio do caminho, que o acessório não dá conta do recado. (Quem nunca se viu entrando num café para esperar o mau tempo passar, com ou sem a porcaria do guarda-chuva?).

Além de molharem o chão – podendo, inclusive, causar um acidente –, são pesados, caros e ocupam demasiado espaço. Não bastassem todas essas inconveniências, me parece que foram feitos para serem esquecidos. Naturalmente: você chega a algum lugar, enquanto chove, recosta o trambolho na parede para se livrar logo e, quando vai embora, esquece de resgatá-lo, porque a chuva quase sempre cessa antes da partida (principalmente quando falamos em chuvas tropicais).

Lembro que esse era um motivo de alguma discórdia na residência Shirts. Meu pai, gringo bem humorado com um quê consumista, comprava cinco guarda-chuvas por semana na época das tempestades tropicais, não só para fazer piada ou justiça ao physique du role do bom americano, mas também porque eu, filha ingrata, perdia todos eles – um por dia. A época de chuvas parou, mas painho continuava a comprá-los para não perder a piada, falando que na verdade eles estavam se reproduzindo na porta de casa.

Outros parentes me reprimiram pela falta de atenção. Repetidas vezes ouvi, de minha vó, que eu tinha sumido com todas as “sombrinhas” da sua casa – algo tão condenável que só perde para o sequestro de tupperwares.

Em suma, resolvi abdicar do acessório. Mas confesso que achei garboso vê-lo em várias formas e cores pelas ruas de Belém do Pará, onde são usados como refúgio do Sol – aí sim, com uma utilidade respeitável.

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Maria Shirts, internacionalista e pedestrianista, mantém a coluna Transeunte Urbana.

Um comentário:

Tito Araujo disse...

Ótima declaração. Obrigado por ter compartilhado o mesmo desgosto ao nosso colega "guarda-chuva".

Abraços.

Tito Araujo

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