Ainda que mal feita, a pergunta serve para que nos questionemos por que nós, brasileiros, ignoramos nossos vizinhos. Paradoxalmente, somos conhecidos como um povo hospitaleiro, cativante e aberto a misturas (cultural, racial etc). É fato: somos adorados e venerados pelos colegas de continente. Porque então o rechaço a nossos vizinhos? Creio que a situação é ainda pior quando o assunto é cultura, e em especial música.
Excetuando alguns Manás e Shaquiras da vida, o conhecimento de música latina no Brasil é nenhum. Alguns dirão que a produção nacional é de ótima qualidade e isso nos faz olhar menos para os outros. Mas, se assim fosse, as rádios brasileiras não nos entupiriam de enlatados. A “culpa” desse autismo pode ser, em boa parte, creditada a quem promove música no país – gravadoras, rádios e, em menor medida, redes de televisão. No entanto, em tempos em que tudo está ao alcance da mão (ou do mouse), é necessário reconhecer que há falta de interesse sobre o que se ouve passando a fronteira.
A ideia de participar do Nota de Rodapé é usar esse espaço para trocar informação sobre música, em especial latino-americana. Essa coluna, que pretende ser semanal, servirá de incentivo para que eu continue pesquisando sobre o tema. Espero que sirva, também, para atrair os interessados no assunto para que se estabeleça um dialogo. Oxalá assim seja. ConexSom Latina começa agora.
Kevin Johansen tem algo de Manu Chao
Tinha pensando em um medalhão da música latino-americana para começar a batucar nesse espaço. Mas preferi deixar para a semana que vem (o tema é um pouco pesado) e começar o ano – e minha participação aqui - com um som mais alegre e diferente.
Rótulos são sempre perigosos e superficiais, mas dizer que Kevin Johansen tem algo de Manu Chao talvez sirva para começar o papo. Para refrescar a memória, Manu Chao é um figura meio espanhol e meio francês que surgiu no final dos anos 90 cantando em português, espanhol, catalão, inglês e em manochauês. Uma música sem fronteiras, com ginga e bom humor.
Corte, cena dois
Filho de uma argentina com um norte-americano nascido no Alasca, aos 12 anos Kevin Johansen mudou para Buenos Aires, onde começou a tocar em bandas de rock. Rodou o mundo, morou em outras cidades e em 2000 fixou novamente residência na capital portenha.
Difícil definir o som que ele faz. Canta em inglês, espanhol e, vez ou outra, arrisca um português no meio das músicas. Aliás, é incrível a influência que a bossa-nova exerce sobre nossos hermanos – diria que em especial em argentinos e uruguaios.
Às toadas de bossa-nova se somam com a cumbia, rock, folk e outros ritmos. Um quilombo bem armado. Vale a pena prestar atenção nas letras, repletas de ironias e reflexões. Chamo atenção para a música McGuevara´s o CheDonald´s, que diz:
todos usam a barba como ele, mas não são como ele;A influência brasileira se sente na pegada de violão (e até cavaquinho em algumas músicas) e em algumas homenagens ao país. Em uma das faixas do álbum City Zen, Johansen manda um alô a Tom Zé (com a canção Tom Zen).
todos compram a camisa dele, sem saber quem foi;
seu nome e cara não param de vender
No último disco (Logo), a cidade de Porto Alegre (com a Luna sobre Porto Alegre) ganha um tributo.
Para quem tiver interesse em conhecer melhor a Kevin:Como aperitivo, dois vídeos de suas músicas. A primeira, chamada Logo, é indefinível. Há que ouvir. A segunda, Ni Idea, mostra a influência da música brasileira. Buen provecho y hasta la próxima semana.
- Site oficial - My Space
Ricardo Viel é jornalista e estreia sua coluna no Nota de Rodapé.
7 comentários:
Gostei, Ric, parabéns pelo espaço.
Estarei por aqui acompanhando.
Beijo, meninos.
Começamos bem! Em sintonia!! ;)
Quero mais! Quero mais!
Besotes!
amei a música, o texto, a ideia. mas achei os dois "cantores" nos clips tão diferentes... fiquei curiosa: são a mesma pessoa ou na bike é um ator?
saudações
Ricardo Viel, gostei de ver.
Muito sucesso pra você nessa sua nova jornada!!
Abração.
Ass. João Santana
Cláudia, até você falar eu tinha certeza que era a mesma pessoa. Vou checar com amigos, mas acho que é ele mesmo. A barba dá uma diferença e os vídeos são de épocas distintas.
Por fim algo diferente de Lady Gaga e Beyoncé a respeito de música! Excelente texto e indicação fantástica! Grande abraço!
oi Ricardo! sou amiga de sua mãe, Soninha. estudamos juntas em Osasco, há muuuuuitos anos! ela me enviou o enderêço do blog e eu fiquei realmente impressionada.
você é bom menino, muito bom.
parabéns e sucesso! Ivani
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