Em 2009, foram apenas 127 mil declarações entregues em formato físico, de um total de 25 milhões. O meio-ambiente e o bolso do contribuinte agradecem. Agora, é exagero usar esse anúncio como mais um argumento na discussão sobre a substituição do papel por meios eletrônicos? Eu acredito que não. Em no máximo 10 anos, pelo menos 70% do papel em nossas vidas vai deixar de existir cotidianamente. E na conta eu incluo jornais, livros e revistas, sim! Se você olhar, é uma previsão até bem conservadora.
Pense como era a sua vida há 10 anos. Pensou? Eu, particularmente, não tinha
celular e vociferava que nunca teria um. Notebook era um produto de luxo e a internet banda larga também. Hoje, quem consegue viver sem essas três coisas? E na época em que elas estavam chegando, todo mundo se perguntava se aquilo ia dar certo, se as pessoas iam querer essas coisas no seu dia a dia, se elas teriam futuro.
Empresas e governos de todo o mundo estão investindo mais em sistemas eletrônicos para envio e recebimento de documentos. Então por aí as coisas estão encaminhadas. No lado do consumidor estava tudo meio morno até o mês passado. O único baluarte da era sem-papel era o Kindle, da Amazon. Mas aí veio a Consumer Electronics Show (CES), em Las Vegas, onde todas as grandes empresas do setor anunciaram computadores portáteis com tela sensível ao toque e sem teclado – os tablets - que permitem que você leia livros e jornais de uma forma mais confortável do que na tela do computador. Além disso, havia um
pavilhão com nada menos do que 25 fabricantes de leitores de livros eletrônicos. Tinha até um pessoal lançando uma rede social direcionada apenas aos leitores mais aficcionados. Algumas semanas depois, a Apple anunciou o lançamento do seu iPad.
E é aí que o negócio esquenta. A Apple não falou simplesmente que colocaria um produto novo no mercado. Assim como fez com a indústria da música, ela se dedicou aos acordos com as editoras para montar uma loja de livros e está falando também com grandes jornais para que suas notícias estejam no aparelho de uma forma atraente, que faça com que as pessoas tenham vontade de pagar por elas e deixem o papel de lado.
Quando a Amazon lançou a nova geração do Kindle no começo do ano passado, alguém sugeriu o seguinte: seria mais barato para o The New York Times dar um Kindle para seus assinantes com mais de dois anos de casa do que manter sua edição impressa circulando todos os dias. A conta era simples: os custos com impressão e entrega do jornal anualmente ficam em US$ 644 milhões com 830 mil assinantes na categoria de mais de 2 anos. Para dar um Kindle a cada um, o custo seria de US$ 298 milhões, eliminando despesas com impressão e entrega.
Vamos ser sinceros, é um absurdo a quantidade de papel gasto todos os dias para imprimir notícias, sendo que todo esse material vai terminar debaixo de um animal de estimação, ou no lixo em 24 horas, ou menos.
Não tem manejo ambiental, produção controlada nem ecossistema que aguente. Quanto aos livros acho que a discussão é mais complicada, mas não vou falar sobre isso agora - preciso guardar munição para postagens futuras.
Antes que os adoradores do papel me crucifiquem, não estou defendendo que ele deixe de existir. O rádio não morreu por causa da TV. O cinema não morreu por causa do VHS, etcetera, etcetera, etcetera. Vai sempre existir público para tudo - afinal, são mais de 6 bilhões de pessoas no planeta. Mas que o papel vai entrar em uma espécie de coma induzido, isso ele vai.
Gustavo Brigatto é jornalista e escreve sobre tecnologia, mantém a coluna Binária neste Nota de Rodapé
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