Gostaria de fazer aqui – daquilo que me é dado perceber – um breve comentário sobre o comportamento coletivo do brasileiro, seu entendimento do que seria a cidadania, por exemplo, e o seu comportamento individual diante das eleições. Comportamento que lembra, em alguns aspectos, a conhecida fábula de Dr. Jekyll e Mr. Hyde.
Grande parte de nós – uns mais outros menos – arranja um jeitinho de sonegar ou, eufemisticamente, pagar menos imposto de renda. Alguns compram trabalhos para o famoso TCC escolar ou mesmo ‘teses’ acadêmicas. Outros avançam o sinal vermelho, param na faixa de pedestres, ignoram os sinais de trânsito. Há os que adulteram gasolina, os que ‘compram’ a sua Carteira Nacional de Habilitação, os que licenciam os carros em outras cidades para não serem multados nas suas, os que compram Notas Fiscais ou registram suas empresas em pequenas cidades para fugir ao ISS da sua grande cidade. Há os comerciantes que pagam regularmente, sem reclamar, aos achaques de fiscais da prefeitura. Há os fiscais da prefeitura que achacam. Os patrões que registram seus empregados por um valor menor em carteira. Os torcedores de futebol ou fãs dos grandes shows musicais que preferem comprar ingressos mais caros dos cambistas do que enfrentar as filas. Os que grilam terras e mandam matar camponeses que querem o seu pedacinho de terra. Os consumidores de drogas pesadas que, com seu vício alimentam o narcotráfico. Os que não respeitam os idosos. Os que molham a mão do guarda no teste do bafômetro. Os que fazem pequenos e grandes contrabandos. O número de pequenos (?) crimes e exemplos dessa natureza seria de citações intermináveis.
Pois bem, essa gente toda (nós) reclama(mos) da corrupção “dos políticos” esquecendo-se (nos) da sua (nossa) própria. Falam(os) aos quatro ventos da sujeira que é a política, mas se (nos) esquecem(os) daquela que praticam(os) às escondidas, protegidos pelo insufilme da moralidade. Um comportamento em público e outro em particular. A coisa se agrava quando você pergunta a uma pessoa em quem ela votou para vereador, deputado ou senador na última eleição e ela responde que não se lembra ou – os que ainda se lembram - de que foi num candidato indicado pelo patrão, pelo colega de trabalho, pelo primo ou pelo (a) namorado (a). Ou seja: milhares e milhares de eleitores nem sabem em quem votaram. E estão reclamando do quê?
Com as transformações por que passa o Brasil, na tentativa que faz o governo do presidente Lula em criar uma nova infraestrutura econômica e social, seria uma boa hora para todos os eleitores refletirem melhor e procurarem se informar sobre programas e candidatos, mudando aquela postura comodista do “só voto porque é obrigatório no Brasil”. Não adianta fugir da política. Ela está presente no dia-a-dia de cada um de nós, queiramos ou não. Para o bem e para o mal. O melhor, então, é enfrentá-la com dignidade, exercendo a cidadania com responsabilidade, fazendo mais e acusando menos. Informemo-nos melhor sobre o que se passa ao nosso lado e combatamos o monopólio do crime organizado da informação, por exemplo. Pois essa é uma das pontas do iceberg.
A atual grande mídia brasileira, seus mais destacados órgãos pelo menos, se transformou em partido político de oposição ao atual governo e, por isso mesmo não é confiável. Mente, inventa, distorce, esconde os fatos positivos, falsifica-os, tudo em nome de uma democracia de privilégios, de uma liberdade de imprensa que só vale para os donos dos veículos de comunicação social, dos quais são donos ou concessionários.
A hipocrisia não é boa conselheira e muito menos uma atitude inteligente e civilizada em qualquer situação, sobretudo quando se trata de eleições. A hipocrisia contribui para a decadência moral do cidadão e da sociedade a que pertence. Ela esconde o que de pior existe dentro de cada um de nós. Voltarei ao tema.
Izaías Almada é escritor, dramaturgo, roteirista e colunista do Nota de Rodapé.
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