Estava resolvido um dos grandes problemas da legenda, pois agora haveria vaga para todo mundo. Adelmir Santana, presidente regional do DEM depois de uma intervenção da direção nacional do partido, seria candidato a senador, como era de seu desejo. E o deputado federal Alberto Fraga seria o candidato ao governo pelo DEM.
Fraga é coronel aposentado da Polícia Militar. Deputado federal eleito com mais de 90 mil votos, a segunda maior votação do DF em 2006 – perdeu para Tadeu Filippelli, do PMDB, vice na chapa petista de Agnelo Queiroz ao GDF -, Fraga é típico representante da linha dura da polícia. Foi acusado de chefiar esquadrões da morte em Ceilândia. E ganhou notoriedade, virando uma figura folclórica, por dar declarações bombásticas.
Na recente rusga interna do partido, chamou dois dos grandes líderes do DEM, Osório Adriano e Adelmir Santana, de “a dupla Gagá e Sem Voto”. Osório tem mais de 80 anos e Adelmir assumiu sua cadeira no Senado como herança de Paulo Octávio, que saiu para ser vice-governador de José Roberto Arruda.
Pois na quinta-feira, 1 de julho, antes do prazo final para as inscrições de candidaturas, que iria até a terça seguinte, o DEM anuncia a candidatura própria, no que seria uma cunha entre a polarização chamada de Azuis x Vermelhos, ou seja, Roriz contra alguém do PT. O único que fugiu dessa regra foi Arruda, que se elegeu com o apoio de Roriz, que foi candidato ao Senado, pois já havia governado o DF por dois mandatos.
Sozinho o DEM não iria longe
Na mesma quinta-feira, entrevistei Fraga (na imagem). Ele disse que não se juntaria a “Ficha Suja”, se referindo a Roriz. Disse também que já estava quase certo o apoio do PPS. De fato, sozinho o DEM não iria longe e teria dificuldades de eleger até mesmo um deputado distrital. Pouco antes disso, eu havia falado com Adelmir Santana, confirmando a informação da candidatura própria. O senador afirmou que estavam em curso negociações com o PP e, eventualmente, até mesmo com o PTB.
No dia seguinte, os patinadores da areia vermelha dão um tremendo 180 graus. O PPS decidiu, em plano local, que não fecharia com o DEM. O problema é que a cola que une DEM e PPS Brasil afora tem plumas azuis e um grande bico. E aqui, em Brasília, já estava coladinho em Roriz. Fraga já havia soltado cobras e lagartos contra o PSDB e, principalmente, contra Maria de Lurdes Abadia, por ter se juntado a Roriz. Disse que a decisão havia sido unilateral da ex-governadora e insinuou questões “escusas” entre os dois, da época em que foram governador e vice. E feitas as contas, o PPS viu que estava na roça com o DEM e não elegeria ninguém. Desembarcou de mala e cuia na aliança PT-PMDB, mesmo com a cara feia do presidente nacional do partido, Roberto Freire.
O PP foi absolutamente pragmático. Viu que a candidatura do DEM estava fadada ao fracasso. Se percebeu equidistante de Roriz e PT. Colocou os números no papel e pesou onde teria mais vantagens. Roriz pagou mais e levou o partido. Mas Benedito Domingos, deputado distrital e presidente regional do PP, fez questão de ressaltar que guarda enormes convergências com o PT e que até seus filhos iriam fazer campanha para Agnelo Queiroz.
O PTB tem um cacique local que rende outro capítulo, mas adianto que Gim Argello queria se candidatar a senador. Ainda tem mais quatro anos, mas como era suplente de Roriz, temia que um dos muitos processos contra o ex-governador o fizesse perder o mandato, o que resultaria que ele também perderia seu mandato. Portanto, queria concorrer e ganhar, na atitude mais “fominha” que se poderia esperar. Mas a história de Gim, de fato, merece outro texto.
Então o DEM estava sozinho. Com uma candidatura sem nenhum outro partido grande, lançada aos 45 do segunda etapa e sem tempo de costurar apoios nem nada. Então, vemos outro enorme giro. O DEM resolve se juntar a Roriz. Fraga vira candidato ao Senado na chapa, e sai constrangido nas fotos para campanha com quem, uma semana antes, havia chamado de “ficha suja”. E mais, ainda teve que aguentar o ciúmes do PSDB, que perdeu espaço na aliança. O clima, de fato, não era dos melhores entre os amigos. Resta saber como será o resto da campanha e, mais ainda, como ficarão os aliados se a chapa fracassar.
Rodrigo Mendes de Almeida é jornalista e escreve a coluna Estação Brasília
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