Dias com César Cielo |
Nesta entrevista exclusiva concedida ao madrugador Thiago Barbieri, Daniel Dias fala de preconceito, superação, paixões e sonhos. Espero que vocês gostem e tirem boas lições de vida. Problemas e dificuldades existem para todos, mas poucos conseguem enxergar o lado bom das coisas nas adversidades. Aproveitem e reflitam!
NR - Daniel, antes de falar de esporte, fale sobre você.
Sou uma pessoa extrovertida, alegre, que vê a vida de uma maneira sempre positiva. Agradeço a Deus pelo dom da vida e do esporte, pelos pais e amigos. Sou um atleta da natação, dedicado, empenhado e buscando sempre me aperfeiçoar no que faço.
NR - Quais são suas paixões, além da piscina?
Gosto de estar em casa com meus pais, navegar pela internet, jogar vídeo-game, namorar. Gosto do Corinthians.
NR - Por falar em paixão, eu não posso deixar de citar o Corinthians, que você tanto ama. Aliás, a sua história de superação é um exemplo clássico da raça corinthiana. Você já pensou em defender as cores do Timão? E como você viu a notícia de que finalmente vamos ter um estádio, depois de 100 anos?
Espero um dia poder defender as cores do Timão. É só eles me contratarem. Fiquei muito feliz com a notícia de que teremos o nosso estádio.
NR - Fiquei emocionado ao ler o depoimento da sua mãe no seu site. O que a família significa para você?
A família (meus pais principalmente) foi, é e será sempre fundamental em minha formação (como pessoa e como atleta).
NR - Imagino que você tenha sofrido, ou ainda sofra, muito preconceito por causa da deficiência. Como você lida com isso?
De fato sofri e ainda existem muitos preconceitos. Tenho superado tudo isso numa boa. Para que sofrer por algo que pensam da gente. O importante é o que sou e não o que pensam de mim.
Dias começou aos 16 anos na natação |
De fato o esporte é uma importante ferramenta na inclusão social. Mas infelizmente muitos ainda nos chamam de “paraatletas”, por que nos rotular? Somos apenas atletas como todos os outros “normais”. Temos os mesmos treinamentos, as mesmas dificuldades (até mais). Acredito que com as Paraolimpíadas no Brasil, a tendência na divulgação e incentivo serão maiores. Já melhorou, mas espero que melhore ainda mais e nos vejam como atletas.
NR - Como a natação entrou na sua vida? Quem foi que descobriu esse seu talento natural?
Sempre gostei de esportes. Aos 16 anos comecei na natação e vi que tinha o talento para essa modalidade. Depois foi só treinar e “lapidar” o talento. Dou graças a Deus por tudo isso.
NR - Hoje em dia, como é a sua rotina de treinos? Você defende alguma equipe atualmente que te ofereça a estrutura necessária para o seu desenvolvimento?
Treino de 2ª a sábado e nado de 6 a 9 km por dia. Treino em piscina pública em Bragança Paulista e defendo um clube do Rio de Janeiro.
NR - Ainda na questão de políticas públicas voltadas para o esporte. Muitos atletas dos chamados esportes olímpicos, que no Brasil significa qualquer modalidade fora o futebol, enfrentam dificuldades financeiras. Alguns têm de trabalhar por fora para conseguir pagar as incrições em torneios, viagens e hospedagem. Para os atletas paraolímpicos essa dificuldade é maior?
Infelizmente sim. Sabemos de muitos atletas que não conseguem desenvolver o seu talento, justamente por falta de apoio e patrocínios. No início de minha carreira, dou graças a Deus, pois eu tinha um “paitrocínio”. Mas, infelizmente, deixei de ir a muitas competições por falta de recursos.
NR - O Comitê Paraolímpico Brasileiro ajuda os atletas de alguma forma?
Hoje existe um projeto do CPB, chamado Projeto Ouro, que me auxilia, não com recursos financeiros, mas no apoio a treinamentos.
Na entrega do prêmio Laureus |
Não me considero tudo isso não. Mas fiquei extremamente feliz pelo reconhecimento e de receber o prêmio.
NR - Daniel, em 2016 o Rio de Janeiro vai sediar os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos. Quais as suas expectativas para a competição, não só em relação a pódio, mas em relação aos eventos e ao desenvolvimento que competições deste nível podem trazer para o Brasil?
Como eu disse acima, estou acreditando no desenvolvimento do esporte paraolímpico no País e luto para que vejam o esporte paraolímpico como esporte de alto rendimento. Eu espero estar competindo e defender bem as cores do nosso querido Brasil.
NR - Como você analisa o outro fenômeno das piscinas Cesar Cielo? Já pensou em fazer uma disputa com ele?
Vejo nele um lutador, dedicado e focado em seus objetivos. Se ele quiser disputar comigo os 50m livre, quero dar muito trabalho a ele (rsrs).
NR - Qual a maior lição você aprendeu com o esporte?
Através do esporte consegui mostrar para muitos que o deficiente não é um “coitadinho”. Nós somos capazes de realizar os nossos sonhos também.
Thiago Barbieri é jornalista; autor do livro sobre o Corinthians "23 anos em 7 segundos", editor do jornal Primeira Hora da Rádio Bandeirandes e colunista do Nota de Rodapé.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Ofensas e a falta de identificação do leitor serão excluídos.