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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

sábado, 2 de outubro de 2010

Os mesmos

Chegaram, em cartazes, folhetos, banners, TV, rádio, boca-a-boca.
A eleição da canalhocracia tem seu início, meio e fim.
Temos que escolher, optar, garimpar, pesquisar, enquanto a mídia fica a todo tempo tocando a mesma música, editada pelo sistema democrático.
Temos que votar.
Você escolhe seu futuro.
É sua chance de mudar as coisas.
Entre frases fáceis, sorrisos falsos, maquiagens fortes, discursos vazios e apoios hipócritas, o povo que está tão longe tem que escolher.
A culpa pega forte, votar em nulo, é desperdício? Vai para outro candidato?
A resposta é não, voto nulo é nulo, não pode ir para ninguém, não é computado em nenhum candidato, é uma escolha.
Escolher, temos que escolher entre velhos decréptos a beira da morte, ou promessas de mudanças de rostos iguais, de filhos, netos, sobrinhos, irmãos, que no fim são os mesmos com suas promessas sempre cheirando a mofo.
Os artistas em massa se candidataram esse ano, vendem sua carreira às vezes conquistada com tanta luta, talvez por motivos financeiros, ou simplesmente pela vaidade, vai saber no fim o que motiva a alguém estabilizado na vida artística a querer ser deputado, talvez vontade de mudar algo?
Você também sente ânsia ao ouvir o discurso empolado, difícil, não direto e abrangente, mas resumido.
- A família, justiça, Saúde!
O vômito é inevitável para quem sabe um mínimo do que acontece na vida real.
Postos de saúde sem ao menos um curativo.
Hospitais com senhas de atendimento que demoram 6 meses.
Falam, esbraveja, latem que vão fazer mudanças.
Sim, na vida deles haverá mudança, ao manipular um cargo tão vantajoso.
Dentro disso o menos mal é o palhaço que faz seu papel, que desde a origem do mundo é isso, ridicularizar.
Só que agora a piada não tem tanta graça.
Greve de professores, aposentadoria sendo ameaçada, transporte público em colapso, juventude afundando nas drogas, debate racial, cotas, crise na universidade pública, favelas sendo queimadas, polícia exterminando.
O riso não sai, os olhos enchem de água, você digita o voto, não aguentou tanta propaganda para fazer isso.
Seu direito.
Seu dever.
Agora não precisa sequer tirar o título eleitoral.
Não tem direito a não ir, não tem o dever de saber a verdade e é sua responsabilidade se o palhaço errar.
Vou votar com nariz de palhaço pois é o que sou se der meu voto para algum deles.
Tentamos enxergar alguém transparente nessa festa suja de slogans fáceis como o diálogo de novela.
É eleição, digite Kaos, fome e ignorância, escolha o palhaço, mas veja sua face triste, morfética, suja, veja sem a maquiagem, ele está no camarim contando o lucro da risada.
Mas os nossos motivos ainda são os mesmos, tentar alertar, não deixar tantos cair no buraco da facilidade do sorriso vazio, da promessa falsa.
Porcolíticos, ratocessores, troxeleitores.
O homem que não é de todo de natureza má, deixa os veículos de comunicação por ele julgar.
Esquece o ônibus lotado, o posto de saúde inútil, a falta de polícia realmente comunitária, as filas imensas quando é para receber e o pronto atendimento quando é para pagar.
Olhando, não vejo nada, caminho sem estrada, mágoa, alienação, discursos sem alma, ternos sem pó, sapatos com solados sempre limpos.
Tudo é espetáculo, você corre não para você, mas para todo mundo.
Onde está o amor do pai que usa a foto do filho assassinado na campanha? Onde está o amor dos artistas que expõem os filhos adotados para ganhar votos? Onde está o carinho do artista que pede seu voto para o marido, que nunca sequer discutiu política na vida?
Da minha parte, fica uma certeza, não vou contribuir com vagabundo nenhum.
Meu voto é nulo. Conscientemente nulo.

Ferréz é datilógrafo (http://ferrez.blogspot.com/)

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