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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Café com leite

Calamarata, fetuccine, Rigatoni, Farfalle,
Cavatelli, Capunti, Penne rigate, Canneloni,
Bucatini, Scialatielli, Pipe rigate e Paccheri.
Numa das minhas mais remotas lembranças, estou diante de um prato de macarrão, radiante, imaginando como vai ser bom comer tudo aquilo. E macarrão é um grande prazer sempre. Se não fosse a necessidade de autodisciplina, eu comeria todo dia.

Também gosto muito de cozinhar, não só de comer. Comecei aos treze anos, por necessidade. Logo percebi que fazer comida também era muito bom, tanto quanto degustá-la. E é bom não só pelo resultado, mas pelo processo.

Pensar em algo que quero fazer, comprar os ingredientes, preparar, cortar, limpar, separar, ir pro fogão, e dali a pouco ter uma comida pronta é uma delícia.

É bem verdade que não cozinho todo dia, então, como tudo que a gente não faz todo dia, tem o seu encanto.

Gosto muito de ir pra cozinha aos domingos, por exemplo, sozinha (não faço nenhuma questão de ter ajuda), por uma música pra tocar e começar o processo de manusear os ingredientes.

Se eu estiver meio mal humorada, triste, chateada, preparar uma comida me relaxa. Não que opere a mágica de devolver o bom humor, mas que dilui o nó, dilui mesmo.

Enquanto corto legumes, pico cebola e alho, a cabeça vai funcionando em rotação mais baixa, repassando o que me incomoda e limando as asperezas do momento.

E tem aqueles alimentos que, definitivamente, não são para o corpo. São para a mente, ou a alma, se preferir. Você já reparou como café com leite cura quase tudo?

Principalmente neurônios embaralhados, todas as benditas manhãs da minha vida. Se tiver também um pão com ovo frito, então, a inteligência fica tinindo.

Aquele mexido, sempre delicioso, que a gente faz à noite com as sobras do almoço, não é comida, é um abraço. E sopa de frango com macarrão (sempre ele) é um cobertor de uso interno, dá uma paz incrível.

Pra mim, não existe combinação de sabores mais perfeita do que azeite de oliva, alho, tomate e manjericão. A gente pensa que é comida, mas é arte, que não vai se desfazer no estômago. Vai direto pra cabeça, abrindo nossos olhos para a beleza.

E se o frio for de rachar e não tiver nada disso por perto, uma dose de conhaque vai trazer de volta o conforto de casa, nem que seja só por alguns minutos. Vai por mim.

Júnia Puglia, cronista, mantém a coluna semanal De um tudo no NR. 

17 comentários:

Anônimo disse...

Tal como cozinhar aos domingos curtindo uma bela música, será um presente pra alma começar o dia na sexta tomando um café gostoso, comendo pão com ovo, ouvindo uma bela música e lendo "de um tudo". Parabéns Junia! Beijos, Ana Carol

Bel Clavelin disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Bel Clavelin disse...

Madame Puglia,

redescobri o prazer de cozinhar eventualmente e é uma delícia! Meu pimpolho e eu já fazíamos bolos aos finais de semana. Recentemente, descobrimos o prazer de preparar biscoitos integrais - uma verdadeira parada no ritmo doido da vida. Agora concordo com você, alho, azeite de oliva, manjerição e tomate são muito saborosos. Gostei muito do texto de hoje. Falar das coisas simples é uma forma de reconectar com a nossa essência. Até a próxima semana!

Angela disse...

Show!

Nina disse...

Delícia!!!!!!!!!!!!!!!!!

Lou Antonioli disse...

Me lembrei da minha avó, à noitinha, abrindo a massa na mesa para secar e, na manhã seguinte, cortar na forma preferida. Acolhedor, Dona Junia! Um brinde gelado que o calor ainda racha!!!

Dani Renée disse...

Delícia!!!!!!!![2]
Beijo! =)

Nômades pelo mundo. Marina e Edison. disse...

Pô, me convida para um domingo desses! Adorei e me identifique DEMAIS com essa terapia culinária. É assim mesmo que faço, a cada etapa para o preparo do prato escolhido é uma fase de limpeza de asperezas do momento. Super duper! Bjs.

Nômades pelo mundo. Marina e Edison. disse...

Junia, o perfil de Montanhas, mares e culturas é meu: Marina Ribeiro. Essa foi uma tentativa frustrada de fazer um blog a respeito das minhas viagens. Frustrada por conta de nunca reservar um tempo para isso. Risos. Beijos.

Anônimo disse...

Júnia,

Comida é bálsamo sólido para ser mastigado aos poucos. Fazer a comida é o mesmo que inventar universos. Adorei o texto e, como, você, adoro cozinhar e me deliciar em seguida. Tomate, manjericão, alho e azeite são matéria prima para muitos universos.
Márcia Ester

Pastora Leila Müzel dos Santos disse...

Júnia,

Mais uma vez, parabéns pelo excelente texto... Também adoro uma cozinha e aqui em Itapema onde estou com toda a família, e agora o cheirinho de pão saindo do forno está em todo o lugar...
Está servida? beijos pra ti querida e pra Dna, Dirce minha preciosa amiga! saudades!

vovózinhapirigueti disse...

Cozinhar é divino, Tudo isso que Sra. Puglia falou e mais um pouco.É como ela disse: às vezes cozinhamos para alimentar a alma, apenas...
Gostava - não faço mais isso - de bebericar enquanto cozinhava. Acompanhei o preparo do macarrão domingueiro com uns cálices de gim fizz... mexe o molho e entorna um gim... espera á agua fervere entorna um ginzinho... e por aí foi. Resumo: todos foram à mesa degustar meu proverbial macarrão domingueiro e eu... babei no sofá com a boca cheia de moscas. Entenderam por quê não faço mais isso?

Elezer Jr. disse...

Eu nunca me aventurei muito na cozinha, até porque tenho o privilégio de ter uma mulher que cozinha divinamente. Mas confesso que sempre desejei aprender alguma coisa básica. Vai daí, numa certa altura recebemos aqui nos Alpes a visita de uma das minhas irmãs, que nos preparou um tagliatelle al gorgonzola que nos encantou supremamente - e me animou a tentar reproduzir a receita. Depois de muitos anos tentando, acho que meu tagliatelle hoje quase chega lá - e a preparação, como diz você, é uma parte importante do processo todo. Portanto, Júnia, obrigado tanto pelo artigo como pela inspiração!

Anônimo disse...

esse macarrão maravilhoso tem sido meu privilégio,há anos, aos domingos. Aquele molho de manjericão é simplesmente divino. Aquece o estômago e refrigera a alma.Vamos lá,às coisas simples e gostosas da vida. Bjs da Mummy Dircim

Anônimo disse...

Hermeticamente, Lampião Cabra da Peste (devidamente divididos os méritos) - inesquecível.
Lu

Anônimo disse...

Minha rainha, seu texto é tão delicioso quanto o seu macarrão - que eu já tive a honra de provar. Parabéns pelas notinhas de rodapé que nos animam a cada semana. Beijocas, Claudia Valenzuela

Joana disse...

E o pão de queijo? E aquela porcaria que a gente gosta? E a feijoada que a gente come até passar mal? Conta mais, vai...

Felizes de nós, fundas, por você gostar de cozinhar.

Super beijo!

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