Texto publicado originalmente no O Purgatório
(curtas diárias para escapar do Inferno, sem querer subir ao Céu).
(curtas diárias para escapar do Inferno, sem querer subir ao Céu).
Pra mim é como se fosse uma gripe, mas afeta o cérebro. Vou dormir com uma leve sensação de insegurança e quando acordo estou derrubado, não tenho nem certeza do meu nome.
Vez ou outra a dúvida me pega de jeito e começo a me questionar sobre o por quê das coisas. Ontem, o surto afetou a escrita. Por que escrevo? Pra quem? Alguém se importa com o que semanalmente publico neste espaço? E para mim, faz bem?
Então me lembrei de um poema do argentino Juan Gelman, e acho que encontrei a resposta. Não sei se o poema foi traduzido em português. Eu me arrisquei a fazê-lo. Serviu pra mim, talvez sirva pra mais alguém.
Confianças (Juan Gelman)
senta à mesa e escreve
“com este poema não tomarás o poder” diz
“com estes versos não farás a Revolução” diz
“nem com milhares de versos farás a Revolução” diz
e mais: esses versos não servirão para
que peões, professores, lenhadores vivam melhor, comam melhor
ou ele mesmo como, viva melhor
nem para enamorar alguma mulher eles servirão
não ganhará dinheiro com eles
não entrará de graça no cinema com eles
não lhe darão roupas por eles
não conseguirá tabaco ou vinho por eles
nem papagaios, nem cachecóis, nem barcos
nem touros, nem guarda-chuvas conseguirá com eles
se for por eles, a chuva o molhará
não alcançará perdão ou graça por eles
“com este poema não tomarás o poder” diz
“com estes versos não farás a Revolução” diz
“nem com milhares de versos farás a Revolução” diz
senta à mesa e escreve
Ricardo Viel, jornalista
Um comentário:
Ricardo tenho deitado pelos caminhos as perguntas por medo das respostas (de elas não virem) mas nesse seu texto e no poema do Juan Gelman traduzido por você tenho pergunta e resposta. Seto a mesa e ecrevo.
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