O caso Herzog é, possivelmente, o mais emblemático do período de chumbo, que eu não vivi, mas meus pais viveram. Período, é fato, ainda sem a transparência necessária.
Mesmo com a criação da Comissão Nacional da Verdade (CNV), sob elogios e criticas – recomento esse texto da revista Piauí – tenho pouca confiança de que tenhamos respostas negadas há 26 anos.
Herzog é um exemplo disso. As circunstâncias da sua morte nunca foram esclarecidas oficialmente. Recentemente, o governo informou à Organização dos Estados Americanos (OEA) que, por causa da Lei de Anistia, não vai reabrir o caso.
Por conta dessa lei, de 1979 - que anistou torturados e torturadores - fica difícil imaginar o Brasil a seguir o exemplo de Argentina e Chile que condenaram criminalmente seus algozes.
Ainda num outro estágio, o das repostas básicas as atrocidades cometidas no período, terá a CNV condições de responder perguntas como o que fez o exército com os guerrilheiros do Araguaia, maior conflito armado da ditadura, entre 1972 e 1974?
Ou então as circunstâncias de outras mortes, como a de Rubens Paiva, ex-deputado preso em 1971 e visto pela última vez num quartel do exército no Rio de Janeiro? Quem eram os agentes infiltrados em organizações de esquerda, caso de Cabo Anselmo, o exemplo mais conhecido? E os torturadores civis e militares, quem são eles, afinal?
O que aconteceu na rua tutoia, sede da Oban (Operação Bandeirante), rebatizada de DOI-CODI? E as vítimas da Casa de Petrópolis, conhecida como Casa da Morte, mantida pelo Centro de Informações do Exército, no Rio de Janeiro? E o atentado a bomba no Rio Centro? Quem sequestrou e quem matou na Operação Condor, que uniu ditaduras do Cone Sul?
Tomara, como disse Frei Betto, que a CNV seja o passo efetivo para a verdade e a justiça.
Thiago Domenici, jornalista
PANO RÁPIDO: o coronel Brilhante Ustra foi condenado ontem, por danos morais, no caso de Luiz Eduardo Merlino. É uma decisão inédita que de certa forma driblou a Lei da Anistia. A decisão é de primeira instância. Saiba mais.
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