“A vida não é aquilo que vivemos, senão o que recordamos e como recordamos para contar.” |
Um conhecido, que no ano passado esteve com o escritor colombiano em um jantar, contou a mesma coisa. Disse que ele tem a saúde debilitada e que lhe custa muito seguir uma conversa. Há anos Gabo não escreve nada e não é visto em eventos públicos.
Apuleyo contou também que o amigo tem dificuldade para reconhecer pessoas e lembrar de situações que aconteceram recentemente, mas que guarda intacta a memória do que viu e viveu há 30, 40 anos.
Claro que é triste tudo isso, mas por sorte lhe resta intactas as lembranças do passado. E como disse o próprio em sua autobiografia: “A vida não é aquilo que vivemos, senão o que recordamos e como recordamos para contar.”
Tenho a impressão de que García Márquez se sente cada vez mais sozinho e deslocado nesse mundo. A maioria dos amigos já se foi, a mudança pela qual militou e sonhou não veio, o tipo de jornalismo que fez é cada vez mais raro.
Refugiar-se no passado é, penso eu, uma maneira de seguir desfrutando da vida. Difícil imaginar um lugar mais adequado para guardar as recordações do que aquela Paris do final dos anos cinquenta. Gabo era pobre e desconhecido, e sonhava em escrever livros inesquecíveis como Cortázar, a quem espreitava com curiosidade e timidez nos cafés.
Ricardo Viel, jornalista, escreve às segundas, de Salamanca, Espanha
3 comentários:
Que linda a trsite análise do que um grande autor se torna
Paula
Texto maravilhoso.
O Gabo pode escolher em que tempo quer viver, né Rica? Bom seria se nós, do alto da nossa mediocridade, também pudéssemos escolher nossas memórias...
Postar um comentário
Ofensas e a falta de identificação do leitor serão excluídos.