por Vinícius Souza*
Para a Folha de São Paulo, os mais de dois mil manifestantes – na maior parte, jornalistas e ativistas pela democratização dos meios de comunicação – que estiveram no protesto na sede da Rede Globo em SP, no último dia 11 de julho, não somavam quinhentas pessoas. Ainda segundo o jornal, tal número seria adepto da ideia sem sentido de trazer o caos pela destruição do patrimônio público e privado, não propondo nada em troca. Para esclarecer a mídia e evitar erros como esse, convém dar algumas informações sobre os ditos “vândalos”.
Diferentemente de querer mudar o sistema pelo dano à propriedade (sempre privada e de preferência simbólica do grande capital), a tática Black Bloc pretende, entre outras coisas, dar visibilidade a lutas anti-capitalistas e anti-proibicionistas. Eles entendem que, independentemente da quantidade de gente, não adianta se manifestar pacificamente com cartazes seja qual for a causa.
No dia 8 de junho, mais de 12 mil pessoas fecharam a Avenida Paulista às 14h, percorreram a Augusta e a Consolação ocupando a Praça da República por cerca de quatro horas, com música, dança e discursos em prol da legalização da maconha. Como de praxe, nenhuma menção na TV e somente uma pequena nota interna nos jornais.
Na véspera, mais de cinco mil manifestantes pelo Passe Livre haviam sido reprimidos com gás lacrimogêneo na Marginal Pinheiros e perto de 500 conseguiram chegar ao vão do Masp, após negociarem com a PM. Essa dispersão pacífica na Paulista, sem incidentes, teve pouca repercussão.
Porém, nos três dias consecutivos de passeatas, apenas a destruição de vidros de estações do Metrô e fachadas de lojas, no dia 6, conquistaram manchetes. E quanto mais a polícia batia, mais gente se juntava no protesto seguinte, até o massacre de ativistas e jornalistas na noite de 13 de junho, que levou a mídia a mudar de posição, promover as manifestações “cívicas” e levantar bandeiras contra a corrupção, a PEC 37, a vinda de médicos estrangeiros, o Governo Federal etc.
De repente, os mascarados atacando a sede da Prefeitura, os vitrais do Theatro Municipal, saqueando lojas e ateando fogo em prédios ocupados por Movimentos de Sem Teto, não se vestem mais exclusivamente de preto e vermelho e nem trazem estandartes negros. Os skates e cabelos moicanos, tão comuns entre os Black Blocs, também desaparecem, dando lugar a cabeças raspadas, músculos definidos e, por vezes, roupas e relógios caros. Ainda há o grafiti (ou picho), mas não mais só de mensagens anarquistas e reivindicações pela tarifa zero. No lugar, palavrões e xingamentos contra o governo.
Só por má vontade ou desconhecimento da história recente das lutas mundiais é possível dizer que todos (e mais os ativistas contra os monopólios midiáticos) fazem parte do mesmo grupo.
Para quem não sabe, os Black Blocs apareceram pela primeira vez nos protestos anti-capitalistas do final do século passado nos encontros dos países ricos em Seattle, nos Estados Unidos, e Gênova, na Itália, com os principais embates contra a polícia, onde houve inclusive mortes entre os manifestantes. Eles reapareceram com força nos EUA, no Occupy Wall Street e, no Brasil, nas marchas anti-proibicionistas de 2010 e 2011.
A ação de pichação e, às vezes, destruição de filiais de grandes redes transnacionais, como McDonalds e Starbucks, além de agências bancárias, visa o ataque a símbolos de um sistema financeiro internacional que oprime populações em todo o mundo. De inspiração anarcopunk, amam as liberdades individuais, o faça-você-mesmo e as músicas pesadas. Compreendem a necessidade atual de um Estado que garanta os direitos e distribua as riquezas entre os mais pobres. O socialismo antes do anarquismo. Mas não são “patrióticos”, abominando associações a símbolos nacionais, como bandeira e o hino. Conectam-se por redes, coletivos e pequenos grupos, sem lideranças. Curiosamente, nenhum dos detidos por depredação de patrimônio se declarou Black Bloc.
*Texto e foto Vinícius Souza, jornalista do MediaQuatro, especial para o NR.
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