Um monte de gente comemorando o dia do jornalista (ontem, 7 de abril), que é meu também.
Jornalista é como gremlin: você conhece um e vai conhecendo outro, outro, outro... e quando percebe, boa parte dos seus melhores amigos e seus vínculos mais profundos, são do mesmo círculo. Esse povo que insiste em querer saber de (quase) tudo; em maior ou menor grau, "mulheres de malandro", que passam a semana reclamando das agruras da profissão e, lá pelas tantas, pelas linhas de um texto qualquer, fala sozinho "que puta texto" e se empolga de novo e de novo e esquece de toda a birra, toda a decepção.
Ser jornalista é massa sim, pessoal. Acho que são poucas as profissões que permitem o contato com tanto assunto, tantas histórias, tanta gente: jornalista entende (temporariamente) de mecânica de aviões num dia e dos efeitos do princípio ativo da maconha no outro. Entende ou finge que entende. Se interessa ou finge que se interessa. Porque, convenhamos, nem tudo são flores.
Então, colegas, pergunto: tá todo mundo ganhando bem? (Não "o que merece", mas o que é justo). Tá todo mundo sendo respeitado no local de trabalho? (Não tô falando de bajulação, tô falando de respeito mesmo, o bom e velho). Tá todo mundo indo pras manifestações com equipamento de proteção? (Não tô falando de máscara cirúrgica, tô falando do mínimo de condição de trabalho em situação de risco). Tá todo mundo apurando direitinho? (Não tô falando do nome do entrevistado soletrado corretamente, tô falando de precisão na informação, de cuidado, de responsabilidade). Tá todo mundo trabalhando com aquilo que gosta dentro do jornalismo? (Não tô falando de escolha, tô falando de acomodação, do "não posso ir além, então tá bom"). Tá todo mundo tendo folga, tempo livre e férias? (Não tô falando daquela cerveja acidental numa segunda-feira, tô falando de descanso, de contato humano, de aconchego, de gastar o tempo do jeito que você quiser, sem o celular vibrar com algo pretensamente urgente). Tá todo mundo saudável? (Não tô falando daquele almoço-salada porque o tempo não deixa comer mais que isso, tô falando de colesterol, horas de sono, check-ups, estômago sem gastrite por causa de estresse-café-cerveja).
Ser jornalista é massa sim, pessoal. Mas deixemos, só por hoje, os eufemismos de lado: não somos super-heróis (ainda que muitos cultivem essa pretensão), somos peões.
Muita gente diz que jornalismo é cachaça. Concordo. E o meu desejo pra hoje é que ninguém se entregue de cabeça ao vício.
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Luiza Bodenmüller, jornalista, editora online da Pública - Agência de Jornalismo Investigativo
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