por Marcos Grinspum Ferraz Ilustração de Victor Zalma*
Foi ouvindo ela cantar em pequenas rodas de violão com amigos que tive os primeiros contatos com a musicalidade da Bruninha. Ou melhor, da Bruna Caram, como é mais conhecida. E eu ficava ali olhando impressionado, com a potência e, ao mesmo tempo, doçura daquela voz – quando ela cantava canções como “Maré Baixa” (Diego Casas/ Daniel Altman) e “Catavento e Girassol” (Guinga/ Aldir Blanc), entre outras, acompanhada pelo Diego no violão.
Isso faz quase dez anos, mas a gente já sabia, naquela altura, que a coisa ia longe. Hoje, com apenas 27 anos, a Bruna já tem três discos lançados – “Essa Menina” (2006), “Feriado Pessoal” (2009) e “Será Bem Vindo Qualquer Sorriso” (2012) – e uma carreira consolidada. E se faz tempo que não a vejo cantar em pequenas rodas de violão, sigo acompanhando sua voz pelas rádios ou em shows por aí.
Pois bem. Depois de Tim Bernardes (leia aqui) e Rashid (leia aqui), Bruna Caram é a terceira entrevistada da série “Discoteca de Músico”, que mensalmente traz um artista respondendo às mesmas cinco questões, sobre discos e videoclipes que marcaram seus caminhos na música e na vida. Discos e vídeos antigos ou atuais, já que parto aqui da constatação de que música boa não para nunca de ser produzida.
A ideia da série é ter, no fim do processo, uma espécie de discoteca/videoteca virtual feita pelos músicos – de variadas idades e adeptos de diferentes estilos –, voltada para o público que quer conhecer mais os artistas ou mesmo que busca sugestões do que ver e ouvir.
Um disco brasileiro que marcou sua formação musical
“Elis e Tom”. Conhecer o trabalho da Elis, quando eu ainda era adolescente, não mudou, mas confirmou meu destino. Já cantava desde menina mas não tinha consciência de que isso poderia ser um trabalho, um sacerdócio sério, uma profissão, já que aprendi a cantar em casa, e na minha família todo mundo faz música para se divertir e estar junto. Algo dentro de mim procurava o lado seríssimo de cantar. Esse lado eu reconheci no trabalho da Elis. E Tom, meu amor da minha vida, eu aprendi a ouvir com minha mãe. Minha tia Ana Caram gravou com Tom num dos discos dela e eu desde menina pensei nele como um grandioso maravilhoso parente distante. A união desses dois marcos da minha vida num só álbum é imbatível, é meu disco número 1.
Um disco gringo que marcou sua formação musical
Vocês me perdoem por citar uma coletânea. Pode soar mal educado! Rs! Mas acho que os álbuns originais da Piaf nem existem a não ser em vinil, total raridade, e a realidade é que eu sou dessa era internética do download. O disco gringo que me vem mais forte à memória e ao coração é “Non Je Ne Regrette Rien”, uma compilação de canções na voz da Edith Piaf, uma das minhas maiores referências na carreira. Pela maneira de cantar extremamente sincera e intensa. Com Piaf aprendi que o grande cantor precisa emocionar não só através da letra, mas para além dela. Nunca falei muito bem francês, mas sempre chorei e ri ouvindo Piaf. Isso sempre me inspirou. Esse é o tipo de cantora que eu gosto de ouvir e que eu vou passar a vida tentando ser.
Um disco lançado nos últimos anos que te marcou profundamente
“Back to Black”, da Amy Winehouse. Vigoroso, doloroso, quente, dançante e verdadeiríssimo. Amy talvez seja a cantora que mais amei nos últimos 10 anos.
Um videoclipe que marcou sua formação
Sinceramente? “Remember the Time”, do Michael Jackson! Um dos meus maiores amores também! E embora minha música não esteja muito claramente relacionada à dele, a minha marca registrada, de unir todas as artes no palco – música, dança, teatro – tem muito, muito, muito da influência de Michael Jackson. Meu pai era muito fã e eu e meu irmão quando crianças víamos esse clipe duzentas mil vezes, chocados com a cena em que ele se dissolve, dourado-mágico. Música é mágica.
Um videoclipe lançado nos últimos anos (nesta década) que te marcou profundamente
“It's Oh So Quiet”, da Bjork. Nasceu clássico! Tudo o que eu amo: dança, música, cor, humor, interpretação, intenção, dinâmica, tudo num clipe absolutamente fantástico. Aplaudo!
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Marcos Grinspum Ferraz, jornalista e saxofonista da banda Trupe Chá de Boldo mantém a coluna mensal Verbo Sonoro, sobre cultura, música e afins. llustração de Victor Zalma, especial para a série
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