Ontem, dia 27, em São Paulo, após receber um dia antes release que dizia: “PSDB faz Esquinaço pela Ética na Política” rumei para o “Esquinaço” que, segundo o pessoal da assessoria, serviria para “mobilizar a população contra a série de escândalos que tem assolado o país”. O pessoal se encontraria na esquina da Paulista com a rua da Consolação e de lá caminharia para o vão do MASP. “O objetivo é mobilizar, nesta reta final da corrida eleitoral, todos os cidadãos insatisfeitos com o mar de corrupção em que se converteu o governo do presidente Lula e agregar apoio da sociedade civil às candidaturas de Geraldo Alckmin, José Serra, Guilherme Afif e deputados estaduais e federais do PSDB e partidos aliados.” Esse era o lema do encontro.
Dois dias antes, outro evento tucano, “Por um Brasil Decente”, no clube Espéria, também em São Paulo, deu primeira página dos jornalões, destaque para Fernando Henrique Cardoso e sua frase exorcista sobre Lula: “Isso é o demônio, temos que expulsá-lo!”. Agora a “mobilização popular” saia do ambiente fechado e ia para as ruas.
Liguei para a assessoria do evento assim que cheguei na esquina da Paulista com Consolação, às 17h, horário marcado para o encontro dos manifestantes.
– Alô? É o Thiago da revista Caros Amigos. Estou aqui na esquina e não tem ninguém. Não vai ter Esquinaço mais?
– Olá, vai sim, o pessoal está chegando, mas pra não atrapalhar o trânsito o pessoal vai ficar nas esquinas da Paulista e depois se juntar no vão do Masp.
– Quantas pessoas mais ou menos? Tem previsão?
– Ah, não dá pra dizer, mas acho que umas três mil.
Rumei pro vão do Masp, quase 17h 30 dei com umas 20 pessoas agitando bandeiras do PSDB e a foto de Geraldo Alckmin, a maioria jovens alegres e saltitantes cantando dispersos: “Geraldo presidente, Geraldo presidente”. Topei com uma repórter fotográfica da Folha de S. Paulo, como eu também descrente do sucesso do evento.
O jeito era sentar e esperar. Antes, pra tirar uma dúvida, fui falar com os jovens saltitantes que não tinham, pelo menos à primeira vista, cara de militantes do PSDB.
– Jovem, você é militante do PSDB?
– Eu não.
– Por que está aqui?
– Pra ganhar um trocado.
– Ah, é? Quanto é o trocado?
Constrangido, ele sai sem falar nada, logicamente estranhando minha pergunta. Faço o mesmo com uma moça morena, Juliana, que diz também estar ganhando um trocado, mas sem dizer quanto. Já são quase 19h e o vão do Masp continua um vão vazio, painéis dos candidatos, carro de som, muitos panfletos, adesivos e nenhum figurão do PSDB. A mobilização não chega a 300 pessoas.
– Alguém do PSDB vem falar? Serra, Afif, Alckmin?
– Falaram que pode aparecer o Serra, mas não é garantido não.
Resolvo ligar pra assessoria novamente.
– Olha, estou aqui e não tem muita gente, 150 pessoas no máximo, mas está meio parado. É isso mesmo? Vai ter algum pronunciamento?
– Como assim? Não está vendo? Tem umas 500 pessoas (me espanto ao telefone, será que estou no lugar errado?). Estão nas esquinas, na militância, falando com o povo!
– Olha, não tem tanta gente assim e ninguém está falando com o povo. Pelo menos não aqui no vão do Masp. Não era uma caminhada de protesto pra angariar apoio?
– Estou chegando e a gente já conversa.
Enquanto espero o homem chegar, um rapaz da militância pega o microfone: “Vamos agitar a bandeira aí, tucanada! Vamos agitar São Paulo. Está aqui toda a turma do Serra, do Geraldo... Vamos lá, minha gente, vamos arrancar o sapo barbudo de láááá meu poovooo!”. O rapaz da assessoria enfim chegou:
– Olha, está chegando gente aí. O pessoal está chegando.
– Será? Todos são da militância do PSDB?
– Todos são. Por que?
– Acabei de ouvir de duas pessoas que ganharam um trocado pra estar aqui.
– Não, não... Na verdade esse dinheiro, se receberam, é pra comer, tomar uma água, não são comprados pra estar aqui. O pessoal fala da militância do PSDB, mas somos fortes. Claro, a do PT é como se fosse a torcida do Corinthians, comparando, e a nossa é a do Palmeiras. Não ficamos atrás, não. Ó, está chegando um monte de médico aí...
Ele sai dizendo que vai fazer uma ligação. O carro de som continua: “Vamos lá tucanada, é domingo! É o dia da virada. Vamos mostrar pra eles o jeito tucano de governar!” O vão do Masp continua vazio. A calçada, sim, está cheia. Por alto, 350 pessoas no máximo.
O “Esquinaço pela Ética na Política”, a três dias das eleições, não vingou ou, pelo menos, não serviu para “agregar apoio da sociedade civil”. O que fez volume foram as bandeiras, muitas no chão. Meia dúzia de engravatados agitavam as suas bandeiras gritando “Lula ladrão”, alguns discursos ao microfone de gente desconhecida, o único a falar pelo PSDB foi o vereador Gilberto Natalini, que disse ter forte convicção de que Geraldo Alckmin irá para o 2º turno. De resto, algumas senhoras empolgadas gritando “Geraldo pra presidente” e muita, muita gente que parou pra olhar o espetáculo. O povo começou a se dispersar lá pelas oito horas enquanto o animador insistia: “Contra o maior esquema de corrupção da história. Geraldo no segundo turno. Vamos lá, tucanada. Chega de corrupção, chega de dólar na cueca. Por decência na política. É domingo. Vamos virar ou não vamos?”. Vão?
Thiago Domenici é jornalista.
sexta-feira, 29 de setembro de 2006
FRACASSO NO ESQUINAÇO
FRACASSO NO ESQUINAÇO
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