Augusto Boal dizia que “só os oprimidos iriam libertar os oprimidos”. E criava com seu trabalho condições práticas para que o público se apropriasse dos meios de produzir teatro, ampliando suas possibilidades de expressão e de transformação social. “O mais difícil é mostrar o que todo mundo já olhou, mas não viu”, disse sobre a sua criação, o Teatro do Oprimido, estética que se tornou referência em mais de 70 países. No Teatro de Arena, em São Paulo, dirigiu Opinião, com Zé Ketti, João do Vale e Nara Leão, uma das primeiras manifestações de resistência ao golpe de 1964. No final daquela década foi preso e torturado. No exílio, em Lisboa, Chico Buarque dedicou-lhe uma carta em forma de música, o choro Meu Caro Amigo, gravado em 1976.
A convite de Darcy Ribeiro, em 1986, Boal dirigiu a Fábrica de Teatro Popular, no Rio de Janeiro, e criou o Centro de Teatro do Oprimido (CTO-Rio). “As sociedades se movem pelo confronto de forças, não pelo bom senso e justiça. Temos de avançar e, a cada avanço, avançar mais, na tentativa de humanizar a Humanidade. Não existe porto seguro neste mundo, porque todos os portos estão em alto-mar e o nosso navio tem leme, não tem âncoras. Navegar é preciso, e viver ainda mais preciso é, porque navegar é viver, viver é navegar!”, disse o dramaturgo, no Fórum Social Mundial de Belém, semanas antes de ser eleito embaixador da Unesco para o Teatro. Em 2008 foi indicado ao Nobel da Paz. Vítima de leucemia, Augusto Boal morreu no último dia 2 de maio, aos 78 anos, de insuficiência respiratória.
Originalmente publicado na Revista do Brasil, edição de junho. Seção Retrato, por Thiago Domenici
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