aí que passei metade da noite acordada, depois de algumas cervejas em plena segunda-feira. dormi cedo, coloquei despertador pra um horário decente, mas eis que às 4h da manhã os zóião se abriram e nada de fecharem até às 6h. e aí vem a culpa: quem mandou beber em plena segunda-feira? o álcool está me fazendo mal. preciso ter uma vida saudável. preciso me matricular na academia. e quanto mais culpa, mais insônia, é claro.
e aí que às 10h da manhã acordo desnorteada com a campainha tocando loucamente. perdi a hora, é lógico. ai meu deus, o que será que eu esqueci? quem está tocando? grito um rouco “já vai” e enfio as calças do pijama já no corredor.
o quintal da minha casa fica acima do nível da rua – pra chegar ao portão é preciso descer uma escadinha. corro até o muro do quintal pra ver quem é antes de chegar à porta. uma van de equipe de filmagem está descarregando na porta de casa. a jovem produtora olha pra cima e me aponta um enorme boom. bem pra minha cara. e sorri.
desespero total. conheço essa mina? esqueci de algum trabalho? a equipe veio me buscar? combinei de ceder a minha casa pra alguma locação? que dia é hoje? que horas são? onde estou? quem sou? fecho o zíper do casaco numa tentativa de parecer um pouco mais apresentável, apesar de amassada, despenteada e com desenhos de cãezinhos dorminhocos nas minhas calças. desço a escada num esforço imenso de lembrar o que aquela equipe faz ali.
- bom dia, o sr. fulano?
era o carteiro. um simples, belo, impávido carteiro com um sedex na mão. quase dei um beijo no homem. encaro, ainda incrédula, a menina que descarrega a van. ela sorri condescendente, como quem diz: “é, somos da televisão”.
ufa. ainda bem que, por hoje, eu não.
Sofia Amaral é roteirista e produtora
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