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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Magrão, Argentina e Copa do Mundo 2

Com atraso venho responder ao amigo João Peres, pessoa de caráter que enfrentou comigo o calvário de uma redação onde tal qualidade passava longe. A discussão sobre futebol é apaixonante e nunca tive a pretensão de ser o único entendido do assunto. Também cresci com a geração de garotos que sonhavam em ser o camisa 10, ou 8, no caso do Dr. Sócrates, que reinava, esbanjava talento e não se cansava de fazer passes de calcanhar com a camisa que hoje é associada aos volantes marcadores, aos valorizados “destruidores” de jogo, do jogo que antes encantava e hoje valoriza o resultado (normalmente empate sem gols fora de casa e 1 x 0 em casa são considerados goleadas...). Aliás, só para citar outros dois jogadores diferenciados que honraram a 8 do Doutor, Rincón e Edmundo, encheram os olhos de quem começou a acompanhar o futebol depois do tetra, quando o jogo burocrático só foi vencido pela genialidade de um tal Romário, imortalizado com a 11.
A Democracia Corinthiana foi um movimento muito além da simples rebeldia de jogadores que eram contrários à concentração. O sentimento de brigar pelos próprios direitos tomava conta da nação corinthiana, da palmeirense, da sãopaulina, da santista, da flamenguista, da gremista, da cruzeirense, enfim, da nação brasileira. Sócrates, Wladimir e Casagrande encabeçaram o movimento no Parque São Jorge, mas contaram com o apoio de artistas, músicos, jornalistas, professores, médicos e todos os outros que lutavam contra a repressão. Aquela campanha, coroada dentro de campo com títulos, foi vítima de tentativa de boicote por parte da imprensa ligada aos generais, mas, aos poucos, foi inevitável esconder a verdade: milhões de pessoas que se manifestavam nas ruas queriam as Diretas Já. Boa parte vestia preto e branco, mas aquela festa não era apenas uma comemoração futebolística. Confesso que não me lembro de tal época, porque estava ainda na inocência da minha infância, mas tenho uma boa noção do que se passava e das mudanças que aconteceram a partir daí.
Bom, quem sou eu para discutir com o Sócrates quando ele diz que a Copa é uma feira? Hoje em dia vivemos os anos do futebol profissional, onde até comemoração de gol é patrocinada. As imagens de jogadores são criadas e moldadas para que “Cristianos Ronaldos” sejam comparadas a “Pelés”. Nada contra o português, mas que o cara joga menos do que pensa e muuuiiiiito menos que se vende, isso lá é verdade. Um grande exemplo foi o lançamento de um livro oficial do Real Madrid onde o primeiro volume de grande ídolos do clube é dedicado ao “craque” Ronaldo (como ele se chama agora, talvez para se aproximar um pouco do Fenômeno). Bom, tirando alguns gols e um bom tempo machucado, o gajo não conquistou NADA com a camisa merengue. Outros verdadeiros ídolos foram deixados de lado em prol do “lance comercial”. E a Copa do Mundo, como definiu bem Sócrates, é uma prateleira de exposição de produtos. Claro que a competição mexe com nossas emoções, afinal quando a bola começa a rolar, esquecemos que o Robinho só pensa nos contratos milionários e torcemos para ele pedalar pra cima de qualquer zagueiro.
Vamos ao tema principal da discussão: o futebol arte tem sido desvalorizado ao longo dos tempos, graças a vários insucessos. A seleção brasileira de 82, que encantou o mundo, mas não foi campeã é um exemplo, assim, como o famoso “Carrossel Holandês”, a Argentina de 94, antes do doping, e tantas outras seleções que encantavam, mas paravam em adversários que tinham fortes marcadores e apostavam uma jogada para “golear”, por 1 a 0.
Discordo, porém dos doutores Sócrates e Tostão com relação ao jejum de títulos da Argentina. Nossos hermanos, recordistas de títulos da Libertadores, sabem melhor do que ninguém como entrar numa competição dura. As tradicionais linhas de 4, com um volante que funciona de enganche, ou seja, um homem de criação que pensa o jogo são marcas argentinas. Os inúmeros títulos do Boca Juniors, comandados por Riquelme são os primeiros que me vêm à memória (até por razões afetivas), mas o Estudiantes de Veron, atual campeão da América, não foge à regra. O problema da seleção, acredito, é a cobrança exagerada por se montar uma equipe imbatível. Messi, Tevez, Aguero, Riquelme, Veron, Cambiasso, Mascherano e outros têm talento e têm raça, mas falta conjunto ao time. Para não me estender mais por hoje, a mudança principal deve acontecer no comando – Maradona não é técnico.
Mas para que a discussão continue em 2010, vamos torcer para que os argentinos esperem mais alguns anos na fila...

Thiago Barbieri é jornalista; autor do livro sobre o Corinthians "23 anos em 7 segundos", editor do jornal Primeira Hora da Rádio Bandeirandes e colunista do Nota de Rodapé.

Leia também: - Magrão, Argentina e Copa do Mundo 1

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