O empenho generalizado, portanto, é para despolitizar as disputas e campanhas e para cortejar as opiniões mais conservadoras – por definição majoritárias, enquanto não se forja com luta e sacrifício um novo consenso social. Essa despolitização é uma decorrência da hegemonia do liberalismo e do neoliberalismo, por mais dissimulada que ela seja, o que, aliás, é próprio de visões do mundo hegemônicas, que não precisam afirmar-se explicitamente: “naturalizam-se”. Liberais e neoliberais sempre sonharam com uma democracia sem povo, tanto na luta remota contra o absolutismo, quanto na luta contemporânea contra as diferentes versões de autoritarismo. Liberais e neoliberais sempre foram contra as ditaduras que os excluem, por um lado, e contra a participação popular, por outro, sobretudo se consciente e organizada. Já repararam como eles insistem em acabar com a obrigatoriedade do voto, para que se amplie ainda mais a abstenção política e se facilite o controle das decisões pelos representantes do capital? Liberais e neoliberais, do alto de sua suposta sabedoria política, não conseguem sequer enxergar em fenômenos recorrentes – como a escandalosa votação de Tiririca – uma forma grotesca, mas real, de protesto de larga camada popular, descrente desse tipo de política que a marginaliza e revoltada, inclusive, com as críticas superiores e elitistas a sua escolha pré-política.
Duarte Pacheco Pereira é jornalista, foi vice-presidente da UNE em 1964 e dirigente nacional da Ação Popular (AP) de 1965 a 1973, obrigado a viver e atuar clandestinamente durante 11 anos. Lançou recentemente o livro 1924: O diário da revolução – Os 23 dias que abalaram São Paulo.
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