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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Trabalho e ideias: precarização do jornalismo

O texto Morte no Exercício de Jornalismo, publicado semana passada neste NR, sobre a morte do cinegrafista Gelson Domingos da Silva, da TV Bandeirantes, no último dia 6, pedia continuação. Falar do assunto sem pensar na precariedade do trabalho jornalístico e, na atuação coletiva como solução, tornaria a questão tão delicada, quase que só um desabafo.

O que se vê nas redações e assessorias são habituais condições trabalhistas distantes do ideal. Mostra disso, ocorre na contratação do jornalista como pessoa jurídica (o famigerado PJ), sem registo em carteira. Dessa forma, o profissional é transformado numa “empresa”, com todos os ônus que isso traz.

Já o contratante, se vê livre de uma série de obrigações, como pagamento de 13° salário, depósito de fundo de garantia, recolhimento de INSS e outras seguranças que o trabalhador teria no modelo registrado.

Tal prática vem sendo rechaçada por tribunais do trabalho, pois agride normas celetistas e constitucionais, causando prejuízos não somente aos trabalhadores, mas também aos órgãos fiscais e previdenciários que deixam de receber receitas.

E o pior: das corporativas às alternativas, das de direita às de esquerda, das “conservadoras” às “progressistas”, a situação não é incomum. Há exceções, claro, mas elas só confirmam a regra.

Mesmo nas publicações ligadas a entidades sindicais não é raro observar contratações pelo modelo PJ, o que é bastante incongruente com o discurso de quem representa os interesses da classe trabalhadora.

Mobilizar passa
pelo olho no olho

As entidades de classe que representam os jornalistas fazem pouco pelo debate da precarização. Até lançam reivindicações pontuais, principalmente em momentos quando a situação é exposta radicalmente – como no caso de Gelson que, além de cinegrafista, era motorista da reportagem da Bandeirantes – mas estão minimamente presentes na prática: seja na verificação das relações trabalhistas burocráticas ou no cotidiano das redações, abarrotadas de superexploração, falta de estrutura e várias formas de assédio.

O grosso da categoria (e me incluo) faz pouco para mudar tal realidade. Mesmo no espaço aberto da rede, se nota escassez de discussão sobre o assunto. Além disso, com tantos pequenos projetos coletivos que pululam na internet, são poucas as inciativas de aproximação, da criação de laços para saltos maiores, que possam unificá-los, por exemplo, em formato de cooperativas, agências, portais que pudessem amplificar e divulgar bons trabalhos de foco alternativo (na ausência de melhor nome).

Nesse ritmo, o que se vê são os meios de produção, aqueles capazes de gerar renda para que os ofertadores de mão-de-obra tenham condições de sustento das necessidades básicas, concentrados nas mãos de minorias. Ainda que na rede, no geral, continuam a frente, como provocadores dos debates, jornalistas renomados. Mesmo que, de fato, não sejam eles os geradores das pautas, terminam por ser os retransmissores/massificadores e os que crescem significativamente em audiência e faturamento.

Não afirmo aqui que a relação em rede não seja boa quando um blogue “maior” indica um “menor”. Claro que não é isso. Longe de apontar a condição como nociva, a classifico como insuficiente. O problema é que, muitas vezes, os pequenos são levados para o centro dos debates pelos de grande audiência, numa espécie de sistema orbital, onde centenas de ótimos coletivos giram em torno de “astros de brilho mais intenso”.

O que busco (também) neste espaço, já que o texto, essencialmente, trata do trabalho coletivo como solução minimizadora da precariedade, é somente trazer à discussão a criação de mecanismos que equilibrem a possibilidade de chegada ao público, inclusive na internet, e a construção de projetos baseados no coletivismo que não necessitem de nomes famosos – sem necessariamente dispensá-los – para serem sustentáveis economicamente.

Talvez mais encontros, mais pizzas, cervejas e muito bate-papo possibilitem começar a produzir cenário favorável. Talvez menos conversas pelo virtual e mais olho no olho sejam a possibilidade de fazer florescer ideias. Hoje, a correria é de tirar o fôlego, certo, mas quantas das grandes propostas do jornalismo sairiam a partir de rabiscos em guardanapos de mesas de bar?

A discussão aqui é embrionária, os argumentos são simplistas, sei disso, mas quem topa engrossá-la, se possível, olho no olho?

Moriti Neto é jornalista, colunista do NR

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