A notícia da morte causou comoção não só na comunidade científica, mas na sociedade civil em geral - o assunto foi o mais comentado nas redes sociais. O governo decretou luto por nove dias e o primeiro-ministro enviou condolências aos proprietários do último Amor.
Há cerca de três meses a notícia de que ainda existia um sentimento como esse foi recebida com surpresa e enorme alegria em todo o país, já que a espécie havia sido declarada extinta no ano passado. Por questões de segurança e privacidade a identidade do casal que cultivava o Amor e o local exato onde vivia foram preservados.
Ontem, após um longo silêncio sobre o desenvolvimento da criatura, as autoridades divulgaram um comunicado com a notícia que ninguém gostaria de receber: o último Amor se foi.
Havia dentro da comunidade científica a expectativa de que esse exemplar, quando chegasse à idade adulta, pudesse cruzar com outros sentimentos (como o Altruísmo ou a Amizade) e se reproduzir como espécie. Mas a prematura morte pôs fim às esperanças.
Confirmada a extinção, restaria a possibilidade da produção artificial - em laboratório - de Amores.
Os cientistas garantem que, por meio de uma modificação genética, poderiam alcançar o objetivo. No entanto, esse tipo de pesquisa segue proibida pelo governo, que alega ser impossível prever as consequências de experimentos dessa natureza.
“A manipulação de sentimentos é muito perigosa e ainda não há como garantir que esse tipo de atividade não gere mutações incontroláveis, o que colocaria em perigo todos os seres humanos. Além disso, muitos de nós vivemos sem um Amor e nunca morremos. É questão de acostumar-se. As próximas gerações, por nunca terem visto um Amor, sequer sentirão falta”, afirmou o ministro de Defesa e Tecnologia em uma coletiva de imprensa.
O velório do último Amor que se tem notícia será amanha em local não divulgado. A cerimonia será fechada para a imprensa e apenas as pessoas mais próximas poderão se despedir do pequeno, que foi embora sem saber que trouxe alegria e esperança a tanta gente. Gente que agora chora sua morte.
Ricardo Viel, jornalista, colunista do NR e do Purgatório
Um comentário:
Genial! Excelente!
Postar um comentário
Ofensas e a falta de identificação do leitor serão excluídos.