Raul mora sozinho numa pensão na região central de São Paulo há dois anos. Veio do Maranhão em busca de oportunidade.
Raul nasceu em São Vicente Ferrer, cidade de 20 mil habitantes e com o menor PIB per capita do Brasil. Ele não sabe o que é PIB e nem per capita, mas trabalha desde os nove anos.
Raul, que sonha em ter casa própria, mulher e filhos é torcedor do Moto Club e fã da seleção brasileira de 1982.
Raul nunca leu Machado de Assis e Monteiro Lobato na escola e nunca escreveu uma redação de como foram “suas férias”. Ele nunca frequentou a escola. E nunca teve férias.
Raul tem dificuldades de se enturmar na metrópole. Tem um colega no trabalho e uma tevê de 21 polegadas para suas novelas e filmes de ação.
Raul, terminado o seu expediente, toma banho, se perfuma, coloca roupa social e segue um ritual diário: visitar uma grande rede de supermercado.
Raul sempre enche o carrinho com o que mais deseja: queijo brie e camembert, vinhos chilenos, pães italianos, geléia de framboesa, cervejas importadas, salgados, doces e outras coisas gostosas.
E o que faz Raul com tudo isso? Não faz nada. Encosta o carrinho e sai. É uma forma de “ter” o que não pode. É um “quase” que lhe dá algum prazer e faz matar o tempo.
Thiago Domenici, jornalista
3 comentários:
:) Toca Raul!
Valeu a leitura amigos, abs.
É bem real!
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