Nos anos 80, o narcotraficante mandou trazer animais de todas as partes do mundo para o zoológico particular que tinha na Fazenda Nápoles, próxima de Medellin. No apogeu, o lugar teve mais de mil espécies diferentes - algumas raríssimas- e uma réplica tamanho real de um dinossauro.
Em aviões cargueiros chegaram girafas, elefantes, flamingos, macacos, zebras, búfalos, tamanduás, leões, tigres, camelos e um casal de hipopótamos para embelezar o zoo. Abandonados após a morte do milionário dono, os hipopótamos quebraram as cercas da propriedade e se espalharam como pragas pela região, destruindo plantações, matando animais e aterrorizando moradores. Reproduziram-se tanto que no final da década passada, quando já eram mais de 30, passaram a ser caçados por questão de segurança, com o aval do governo.
Em seu livro, Vásquez recupera o período do medo na Colômbia, conta sobre a caça aos hipos, e também narra como o zoológico de Escobar se tornou um mito em seus tempos de infância. Descreve como algumas crianças “afortunadas” tiveram o privilégio de conhecer a Neverland do maior narcotraficante do mundo.
Toda a história de Escobar é tão fantástica que custa acreditar. Foi apontado pela revista Forbes como uma das dez pessoas mais ricas do mundo; propôs pagar a dívida externa de seu país; construiu seu próprio presídio de luxo e nele organizava festas, jogava futebol com os atletas da seleção nacional e comandava seu negócio; em um de seus esconderijos, queimou cerca de 2 milhões de dólares em uma fogueira para que a filha não passasse frio, mas não pode impedir que ela e os demais familiares passassem fome.
Conto tudo isso para sugerir aos que se interessam pela história da Colômbia a leitura dos textos de Vásquez. Além de seus três romances e um livro de contos, há também um ensaio muito interessante no qual o escritor propõe uma interpretação diferente de Cem Anos de Solidão. O texto se chama El arte de la distorsión.
Recentemente entrevistei o escritor colombiano, que advogou por uma mais proximidade entre o Brasil e os demais países da América Latina. Diz ele que há uma falta de comunicação "absurda" entre nós e que já passou a hora de quebramos essa barreira. Durante anos achei que o idioma era o que impedia nossa comunicação com os vizinhos, mas hoje creio que a questão é muito mais política e ideológica. Derrubar esse muro - construídos por nós mesmos - que nos separa, nos fará perceber que somos muito mais parecidos do que imaginamos. Ganharemos todos.
Ricardo Viel, jornalista, escreve às segundas de Salamanca, Espanha
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