O título, o autor e o elenco não importam muito, só não suporto os enredos francamente imbecis. E não acho que novela tem que ensinar coisas altamente edificantes. Tem é que divertir, distrair mesmo. Então eu me jogo na cama, recostada, e fico ali vendo aquelas histórias quase sempre tolas e absurdas, sem pensar em nada. De preferência, acompanhada do meu filho, e a gente se diverte comentando as bobagens e os desempenhos ótimos ou desastrosos, e adorando as cenas de baixaria, sempre as nossas preferidas.
As personagens sempre sabem o que dizer. É óbvio que a qualidade do texto depende da competência do autor, mas não faltam uma boa resposta, uma má-criação rápida e certeira, um elogio preciso, uma declaração de amor caprichada, uma frase espirituosa. E aí eu fico pensando em como seria bom ter um texto pronto à minha espera.
Sim, porque não sei como é com os outros, mas eu sempre demoro pra pensar na melhor frase ou na resposta boa e aí, geralmente a ocasião já passou ou a oportunidade foi perdida. Isso acontece especialmente quando a conversa ou comentário é sobre mim mesma. A pessoa diz alguma coisa que toca num ponto sensível, que merece que eu me defenda ou modifique a perspectiva do que está sendo falado, e eu fico ali, feito uma idiota, dizendo qualquer coisa desimportante, quando devia ter dito isso e aquilo e aquilo outro, que eu só formulo alguns minutos depois, mas aí já não serve pra nada. Ai que ódio!
Acho que é também por isso que leio livros e vejo filmes e novelas. Pra me sentir vingada da minha parvoíce naquelas frases encadeadas, na reflexão instantânea e tão interessante que a personagem faz diante dos meus olhos, na ironia certeira, na capacidade de dizer exatamente o que aquela pessoa que a está ferindo ou maltratando precisa ouvir naquele momento. Dá uma sensação boa de alma lavada e também uma esperança de que quem sabe da próxima vez eu consiga fazer a mesma coisa.
Júnia Puglia, cronista, mantém a coluna semanal De um tudo no NR.
4 comentários:
Delícia. Lendo você, meu café da manhã fica mais saboroso. Muito bom, Júnia!
CONTINUA BRILHANDO.Sempre pensei que você fosse caladinha em atenção ao ditado : "Falar é prata, calar é ouro". Pois,daqui por diante, deve deitar falação com o mesmo bom humor que põe em suas palavras. É gostoso e divertido o modo como você escreve,dentro de uma linguagem séria e, ao mesmo tempo, clara e divertida.
Beijos da Mummy
Pronto.
Disse e repito, pronto.
Quantas vezes em pensamento falei, perguntei, respondi, soltei um palavrão ou mesmo declarei minha admiração e amor. Tudo fez e faz parte da minha construção. Inclusive as respostas dos outros e o textos da "outra". Vc disse tudo.
É isso, quero sempre que precisar, ter um texto pronto.
bjo
Essas "vinganças vicárias" dão sabor à vida da gente, né?
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